tag:blogger.com,1999:blog-63288528505051359142024-03-14T05:36:12.937-03:00Coisas do AldoAldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.comBlogger119125tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-20546991577712250472014-04-26T19:02:00.001-03:002014-04-27T10:12:28.206-03:00A caravana passa e os cães ladram<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Existe um velho ditado alertando para o fato de que “quem fala o que quer, ouve o que não quer”. Com ele em mente, procuro não aceitar o que considero desaforo e respondo na hora. Estou falando de postagens de amigos e conhecidos no <i>Facebook</i> (doravante chamado de FB). <br> Estou estarrecido com a quantidade de inverdades publicadas e compartilhadas no FB em forma de cartazinhos, por pessoas das mais variadas condições sociais e intelectuais, algumas que eu até achava inteligentes. Diariamente me deparo com mentirinhas políticas, criadas por algum inimigo oculto, cujo objetivo é minar a consciência de incautos despolitizados (que assim não se consideram). Esses últimos compartilham sem dó nem piedade aquilo que cai nas suas <i>timelines,</i> sem ao menos pesquisar a veracidade do comentário. Há também postagens inofensivas cujo objetivo é prestar “(des)informação”, tipo: bicarbonato e sódio cura câncer; água oxigenada branqueia os dentes; não aceite ligações de 06565xxx, porque esse número clona seu celular; a cada curtida na foto da criança doente o FB vai doar x centavos; ladrões estão jogando bolinhas de veneno nos quintais para matar cães e invadir a casa mais facilmente; Suzane Rischthofen, presa por matar os pais, teria virado pastora evangélica... E assim por diante. Uma infinidade de bobagens que, não bastando acreditar, algumas pessoas compartilham sem pesquisar. <br> Às vezes, dependendo de quem publicou e do conteúdo, informo a pessoa sobre a inverossimilhança do que está compartilhando; noutras, procuro desancar com argumentos, mesmo arriscando perder a amizade do incauto. Eu já agia assim antes do FB — e até antes do velho Orkut —, quando essas coisas eram encaminhadas apenas por email. <br> Uma das mentiras que ainda insistem em aparecer— apesar de ter sido desmentida milhares de vezes, por todos os meios — é sobre um benefício da previdência social chamado auxílio-reclusão. Aqueles que são contra o governo (doravante chamados de coxinhas) — acreditando que o benefício é coisa do governo atual (PT) — apelidaram o auxílio-reclusão de “bolsa-bandido”. Dizem que o valor atual do benefício (R$ 1.025,81) é pago a cada um dos dependentes do preso e deixam subentendido que todos os apenados têm direito a isso. Além disso, comparam esse valor com o valor do salário mínimo, coisas que não tem nada a ver uma com a outra. Pois bem, já cansei de explicar que o valor do auxílio é “dividido” entre os dependentes do apenado; que para ter direito ao auxílio, o apenado devia ser “contribuinte” da previdência por ocasião da detenção; o benefício só vale para apenados de baixa renda (que contribuam, no máximo, sobre o valor que é pago a seus dependentes); clique <a href="http://www.previdencia.gov.br/perguntas-e-respostas-frequentes/" target="_blank">aqui</a> se quiser maiores informações. A propósito: o auxílio não é coisa do PT, pois foi instituído há 50 anos, pelo extinto Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM) e posteriormente pelo também extinto Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (IAPB), e depois incluído na Lei Orgânica da Previdência Social – LOPS (Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960). Esse benefício para dependentes de presos de baixa renda foi mantido na Constituição Federal de 1988. Ah! Ele também existe em países ditos “civilizados”, de “primeiro mundo”. Para se ter uma ideia, a Previdência Social pagou, em fevereiro de 2014, 4.034.044 benefícios, num total de R$ 3.356.180.475,00 (média de R$ 831,96 por benefício); desses, apenas 1.609 eram auxílio-reclusão, num total de R$ 1.110.186,00 (média de R$ 689,99 por benefício). <br> Você, que critica o benefício, não está livre de cometer um ilícito e ir preso. Se você contribuir para a previdência sobre um rendimento de até R$ 1.025,81, seus dependentes terão direito a receber o rateio desse valor. Outra coisa: você já viu algum traficante, um homicida ou um assaltante na fila do banco, com o carnê do INSS na mão, para pagar sua contribuição à previdência?</div> <p align="center"><a href="http://lh4.ggpht.com/-GrSfInzAxuc/U1ws4d5OT4I/AAAAAAAAAs0/X7eKPXWurPk/s1600-h/auxilioreclus%2525C3%2525A3o%25252002%25255B10%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px" title="auxilioreclusão 02" border="0" alt="auxilioreclusão 02" src="http://lh4.ggpht.com/-Pxwgd-Q4nFo/U1ws5q3V0wI/AAAAAAAAAs8/mem500YfTwc/auxilioreclus%2525C3%2525A3o%25252002_thumb%25255B8%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="344"></a> <a href="http://lh3.ggpht.com/-hn19QnyGWqE/U1ws6YL5EQI/AAAAAAAAAtE/ju4zZkIJa24/s1600-h/auxilio%252520reclus%2525C3%2525A3o%25252001%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="auxilio reclusão 01" border="0" alt="auxilio reclusão 01" src="http://lh6.ggpht.com/-yorZWzARtHw/U1ws7Ns9Z-I/AAAAAAAAAtM/jr8CnabEGvc/auxilio%252520reclus%2525C3%2525A3o%25252001_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="398"></a> <i>Exemplos da cartazinhos mentirosos sobre o auxílio-reclusão, publicados no FB</i> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><br> Outra grande falcatrua que andou circulando até poucos dias diz respeito ao Marco Civil da Internet. Surgiram “especialistas” de todos os cantos condenando o agora aprovado conjunto de leis que definiram direitos e deveres de usuários e empresas que usam a rede ou oferecem infraestrutura para que ela funcione. Veja alguns exemplos. </div> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><a href="http://lh4.ggpht.com/-u029gbujOHA/U1ws7pkJaPI/AAAAAAAAAtU/4DNOIVE24co/s1600-h/marco%25252001%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-bottom: 0px; border-left: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; border-top: 0px; margin-right: auto; border-right: 0px" title="marco 01" border="0" alt="marco 01" src="http://lh5.ggpht.com/-ac2WzzCfTWo/U1ws8aInTjI/AAAAAAAAAtc/PNO1JR1DCHQ/marco%25252001_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="400" height="402"></a><a href="http://lh3.ggpht.com/-1spWg5-xHSM/U1ws80ef8WI/AAAAAAAAAtk/bH0NnWUcgiM/s1600-h/marco%25252002%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-bottom: 0px; border-left: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; border-top: 0px; margin-right: auto; border-right: 0px" title="marco 02" border="0" alt="marco 02" src="http://lh4.ggpht.com/-h6M77sa_Lu8/U1ws96bIQSI/AAAAAAAAAts/ylJiSIF5ODM/marco%25252002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="498"></a> <br> Se você não sabe exatamente o que é Marco Civil da Internet, procure informar-se, não vá atrás daquilo que vê publicado. Não seja manipulado. Leia <a href="http://altamiroborges.blogspot.com.br/2014/03/respostas-sobre-marco-civil-da-internet.html" target="_blank">aqui</a>.<br> Um dos cartazinhos mais cretinos dos últimos tempos apareceu nesta semana e foi imediatamente desmentido na página do FB da presidenta Dilma. </div> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><a href="http://lh6.ggpht.com/-Tnzpum8etx0/U1ws-qfvHLI/AAAAAAAAAtw/HtKULI-W9hk/s1600-h/clip_image014%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image014" border="0" alt="clip_image014" src="http://lh3.ggpht.com/-fFPzIkvveik/U1ws_JXuONI/AAAAAAAAAt4/qiJsaB5Vjjc/clip_image014_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="338"></a> <br> Outro truque dos mais usados pelos anônimos covardes é exibir a foto de alguma celebridade como se ela tivesse dito um texto que aparece ao lado. Na verdade, o que se lê foi escrito é o que pensa o autor da mentira (normalmente um reacionário raivoso). Eis um exemplo recente: <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><a href="http://lh6.ggpht.com/-kQ5B6msjvCo/U1ws_5ROu8I/AAAAAAAAAuE/2Robe5iWwpc/s1600-h/clip_image015%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image015" border="0" alt="clip_image015" src="http://lh5.ggpht.com/-efiYa8-HQgI/U1wtAo1Cx7I/AAAAAAAAAuM/M2RVngoUiOQ/clip_image015_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="375"></a> <br> Ao ver isso publicado imediatamente fui atrás para ver do que se tratava. E, como imaginei, não era nada disso. O tal programa era de maio de 2013 e a única coisa de parecida com o que Fafá disse, e que está no texto do cartazinho, foi a frase “O Brasil está às avessas” (na verdade ela disse “É o país às avessas”). O contexto, no entanto era totalmente diverso do apresentado. Ela estava falando sobre a erotização e sexualização da juventude nos dias atuais. Clique <a href="http://www.youtube.com/watch?v=dfwpif5zV3w" target="_blank">aqui</a> e veja o vídeo. <br> Não quero me estender muito, pois corro o risco de perder leitores. Não posso, no entanto, deixar de falar disso que me apareceu nessa semana. <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><a href="http://lh3.ggpht.com/-8WQL5gD_doA/U1wtBbAVc-I/AAAAAAAAAuU/BvHOaF7atiA/s1600-h/clip_image016%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image016" border="0" alt="clip_image016" src="http://lh3.ggpht.com/-tKXE9zcx09o/U1wtCOoiEBI/AAAAAAAAAuc/r40oYHfeMKQ/clip_image016_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="379" height="500"></a> <br> Tudo indica que o tal Projeto de Lei Complementar teria sido inventado pelo atual governo e que é coisa da esquerda. Se o incauto coxinha compartilhar sem pesquisar — sim, porque ele acredita em tudo que esteja a favor de sua ideologia tacanha —, não vai ficar sabendo que esse PLC é de 2002 (basta ver o nº dele 276/“02”), foi inventando no governo FHC e teve aprovado o substitutivo de um ex-deputado do PFL (o partido até já mudou de nome e o cara saiu do parlamento em 2007). Garanto que quem compartilha isso nem sabe como era essa questão do trânsito de tropas estrangeiras no Brasil antes da aprovação desse PLC e como ficou agora. Você sabe, caro leitor? Acha isso importante? <br> Isso tudo sem falar na fazenda do filho do Lula; no jatinho do filho do Lula; na Friboi ser do filho do Lula; de o Lula ter saído na capa da Forbes, etc. Já se sabe até quem inventou esses boatos e um dos acusados é gerente financeiro do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC). Precisa dizer mais alguma coisa? <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> O que me conforta, contudo, é que a caravana passa e os cães ladram. <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Este sábio ditado árabe “diz que não importa o latido dos cães, não importa o barulho que façam, a caravana segue o seu caminho, apesar deles… existe uma estrela a ser seguida, um pensamento a ser preservado, e nada vai impedir que a caravana siga o seu rumo… mesmo que pare por alguns momentos, mesmo que alguns cães se julguem alimentados pegando os restos que caíram durante a passagem, a caravana segue o seu rumo, mais fortalecida, mais coesa, deixando cada vez mais longe o barulho dos cães esfomeados. Uma caravana é feita de gestos, de sonhos, de atitudes, de longas vivências, de cumplicidades, de sentimentos fortes, de amizade, de amor e de desejos. Ela segue o seu caminho, totalmente indiferente ao ganido de cães enlouquecidos, atrás de alguma cadela no cio…” (Sandra Nasrallah, em <em>O Recanto das Letras</em>, 2008). </p> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-70642591323467678332014-02-26T19:30:00.001-03:002014-02-26T19:30:51.458-03:00Um dia isso tem que ter fim<p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Em fevereiro de 1969, no auge do verão porto-alegrense, eu era apenas um rapaz latino-americano, que amava os Rolling Stones mais do que os Beatles e que há três anos tocava bateria numa banda chamada The Old Stones (leia <a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com.br/2009/10/old-stones.html" target="_blank">aqui</a> e <a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com.br/2010/12/old-stones-rides-again.html" target="_blank">aqui</a>). Eu fingia que estudava e meu pai fingia que acreditava. Ele sabia, no entanto, que eu passava as tardes quentes na piscina do clube, as mornas vagabundeando na Rua da Praia e, as noites, em alguma esquina do bairro, quando não estava ensaiando. Por vergonha, não lhe pedia dinheiro, até porque dava pra viver bem com o que ganhava tocando nos fins de semana (quando pagavam...).<br> Naquela época, eu gostava de desenhar, o que um dia chegou a ser motivo de bronca do meu pai, por ter achado na minha gaveta uns esboços de mulheres nuas que eu tinha feito. Também ganhava uns trocados pintando posters e camisetas com a foto famosa do Che Guevara. Vai daí que, por causa desse talento, meu irmão — acredito que conluiado com meu pai, ou vice-versa — me “arrumou” um estágio na agência de propaganda em que trabalhava. Eu passava os dias numa sala com dois ou três desenhistas, aprendendo a fazer “pastape” (é assim que se pronuncia, mas não lembro como se escreve em inglês), enfim, aprendendo o ofício de montador de peças publicitárias (não vou entrar em detalhes, mas informo que era tudo na marra, não existia computador, o CorelDraw, o Ilustrator e o Photoshpop não eram nem imaginados).<br> Muito mais do que aprender o ofício, porém, comecei a aprender a conviver — no sentido de habituar-me a condições extrínsecas (físicas, culturais etc.) —, comecei a conhecer o outro lado da vida: o de ter responsabilidades. Aprendia a ficar adulto. E de graça!<br> Exatamente um ano depois desse começo, o diretor da agência entrou na sala em que nos confinavam, muito simpático cumprimentou a todos, disse alguma coisa e, por fim, perguntou genericamente se “esse rapaz” — que era eu — tinha aprendido alguma coisa. A resposta foi modesta, mas unânime: sim! Então me mandou passar no departamento de pessoal. Foi assim que carimbaram e assinaram pela primeira vez minha recém tirada Carteira Profissional, do então Ministério do Trabalho e Previdência, a famosa Carteira de Trabalho.</p> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><a href="http://lh5.ggpht.com/-GX9wQbXogHQ/Uw5rCmUw1sI/AAAAAAAAArg/ty3zhSKRijg/s1600-h/carteira%252520de%252520trabalho%25252001%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="carteira de trabalho 01" border="0" alt="carteira de trabalho 01" src="http://lh3.ggpht.com/-xc2Maam6W4I/Uw5rDvNGnnI/AAAAAAAAAro/CXQ6vot3-N4/carteira%252520de%252520trabalho%25252001_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="667"></a><br><br><a href="http://lh5.ggpht.com/-GhHWQLnjit8/Uw5rENdyadI/AAAAAAAAArw/m_3wJpdg40w/s1600-h/carteira%252520de%252520trabalho%25252003%25255B7%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="carteira de trabalho 03" border="0" alt="carteira de trabalho 03" src="http://lh5.ggpht.com/-DbPdU6LEg-U/Uw5rE5iXX0I/AAAAAAAAAr4/9v1_FbDBZr8/carteira%252520de%252520trabalho%25252003_thumb%25255B5%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="667"></a></p> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" width="500" align="center"> <tbody> <tr> <td valign="top" width="500">Até hoje, 44 anos depois, ainda está lá na página 11: <br>Natureza do cargo: ARTE-FINALISTA <br>Data de admissão: 15 de FEVEREIRO de 1970 <br>Remuneração: NCr$ 250,00 (duzentos e cincoenta cruzeiros novos)</td></tr></tbody></table> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Dois anos e meio depois, surgiu outra oportunidade de emprego, que iria me render um salário melhor, em um dinheiro com nome diferente e outro valor. Fui trabalhar como desenhista no Jornal da Semana, do Grupo Editorial Sinos, recebendo mensalmente Cr$ 1.200,00 (Hum mil e duzentos cruzeiros). Para se ter uma ideia, era tanto dinheiro que acabei me casando...<br> Fiquei ali pouco menos de um ano. Em junho de 73, por 100 pilas a mais, me transferi para a Rádio e Televisão Gaúcha S/A, contratado como desenhista ilustrador, no setor de divulgação, mas que era uma “house-agency”.<br> Estimulado por trabalhar numa empresa jornalística, perto de redações de jornal e rádio, resolvi fazer vestibular pra jornalismo, e passei na FAMECOS/PUC. Comecei a viver um pequeno dilema, mais de frescura do que de praticidade: trabalhava em publicidade, mas estudava jornalismo.<br> Em julho de 1976 fui trabalhar na Marca Propaganda, ganhando Cr$ 4.000,00 (quatro mil cruzeiros) mensais, na função — de acordo com o contrato na Carteira Profissional — de arte-finalista, mas, na verdade, eu passava a limpo os “roughs” (um leiaute grosseiro) dos diretores de arte. Acho que devido aos colegas de Faculdade e à direção que o curso me levava, acabei me envolvendo com a área audiovisual. Por isso, mudei de função na agência, deixando de ser desenhista e tornando-me produtor eletrônico. <br> Era, entretanto, uma época difícil no mercado publicitário. Várias agências quebravam. Para fugir da bancarrota e continuarem ativas, muitas delas demitiam funcionários. Não escapei disso.<br> Mas não chegou a ser problema. Antes disso, em 1978, havia completado o curso (Leia <a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com.br/2011/01/vai-tudo-bem-obrigado.html" target="_blank">aqui</a> sobre isso). Depois de formado, um colega de aula, com quem eu dividia trabalhos em grupo, me convidou para prestar serviços remunerados para um projeto do MEC, em convênio com a UFRGS, onde ele era funcionário. Era março de 1979. Enquanto prestava serviços, meu colega mexia os pauzinhos para que eu fosse contratado emergencialmente, recurso que existia no serviço público naquele tempo. Quando estava tudo acertado e eu iria pedir demissão da agência para trabalhar na UFRGS, aconteceu o inverso: fui demitido por motivo de contenção de despesas. Não poderia ter dado mais certo. Era 1º de junho de 1979. Só não comecei a bater ponto na UFRGS nesse dia porque nasceu minha primeira filha.</p> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><a href="http://lh4.ggpht.com/-X6iTCJiDUgU/Uw5rFQb8ztI/AAAAAAAAAsA/7TCGOQeZmxg/s1600-h/carteira%252520de%252520trabalho%25252002%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="carteira de trabalho 02" border="0" alt="carteira de trabalho 02" src="http://lh4.ggpht.com/-QSeTbMd1glw/Uw5rGAnZUXI/AAAAAAAAAsI/j67jOKdtKTA/carteira%252520de%252520trabalho%25252002_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="667"></a> </p> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" width="500" align="center"> <tbody> <tr> <td valign="top" width="500">A primeira Carteira de Trabalho ficou pequena pra tantas anotações</td></tr></tbody></table> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Meu contrato no cargo de “Técnico em Comunicação Social”, no entanto, foi retroativo ao dia 1º de março daquele ano. Isso quer dizer que no próximo sábado, dia 1º de março de 2014, daqui a dois dias, estarei completando 34 anos de trabalho só na UFRGS. Contando com o tempo de trabalho anterior, em 1º de fevereiro completei 45 anos de trabalho ininterruptos, em alguns deles acumulando empregos. No meio disso tudo, na década de 80, paralelamente ainda fui sócio de uma produtora de audiovisuais, professor na UNISINOS e na UFRGS, redator e editor na Rádio Guaíba e editor na Rádio Gaúcha.<br> Nesses últimos 45 anos de trabalho (um de estágio e 44 empregado) recém completados, casei três vezes, tive dois filhos, fiquei viúvo uma vez e, agora, tenho um neto; fui baterista, montador, arte-finalista, desenhista, produtor eletrônico, sócio de empresa, professor, redator, editor, voltei a ser baterista, webdesign, webmaster…<br><br><strong></strong></p> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" width="500" align="center"> <tbody> <tr> <td valign="top" width="500"> <p align="center"><strong>.:: o ::.</strong></p></td></tr></tbody></table> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Mas um dia isso tem que ter fim: apesar de já estar há alguns anos com abono permanência (situação de quem adquire o direito de se aposentar, mas continua trabalhando), ainda nessa semana, dei entrada com a papelada pra parar de trabalhar definitivamente. Prefiro ñão dizer “me aposentar”… </p> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><br> Ah! Quando isso tiver fim, ou seja, assim que me alforriarem definitivamente, só vou continuar tocando bateria. Mas sem descontar INSS…</div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-61183625694794926752012-11-02T19:35:00.001-02:002012-11-02T19:35:56.299-02:00Os índios, os brancos, um furacão e uma rede de TV<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/-Nm9yaYUkpek/UJQ8t2eGpiI/AAAAAAAAAlM/5JRWSSCTzfU/s1600-h/GuaraniKaiowa%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-bottom: 0px; border-left: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; border-top: 0px; margin-right: auto; border-right: 0px" title="GuaraniKaiowa" border="0" alt="GuaraniKaiowa" src="http://lh5.ggpht.com/-bEBYfeoSVto/UJQ8uvC6EaI/AAAAAAAAAlU/rqRhpNWo55I/GuaraniKaiowa_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="325"></a> Deixa ver se entendi: Guarani-Kaiowá é uma tribo de 170 índios do Mato Grosso do Sul que mandaram uma carta ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) prometendo promover um <b>suicídio coletivo</b> se forem obrigados pela Rede Globo a sair da terra em que vivem. É isso? Pelo menos foi o que pude depreender ao ler algumas postagens no Facebook.<br> Peraí! Tem um cara aqui dizendo que não é a Rede Globo que quer expulsar os índios, mas sim a Justiça Federal, a pedido de fazendeiros que se dizem os verdadeiros donos das terras...<br> Agora complicou! Vários conhecidos acusaram a Globo por não divulgar notícias sobre o assunto etc. Fui ao Google pra tentar saber do que realmente se tratava.<br> Quanto aos indígenas, no Wikipedia descobri que “<b>Caiouás</b> (<b>Kaiowá</b>) é a exodenominação de um dos <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Povos_guaranis">povos guaranis</a> contemporâneos que se auto-reconhece como <b>Paí-Tavyterã</b>. A despeito de sua autodenominação são conhecidos também como <i>Caaguás do norte</i>, <i>Kaynguás</i>, <i>Terenobés</i>,<i>Teyís</i>, <i>Kaa'wás</i>, <i>Païs</i>, <i>Paï-cayuäs</i>, <i>Painguás</i> ou <i>Pan</i> no <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Paraguai">Paraguai</a>, ou ainda como <i>Cainguás</i>, <i>Kaiwás</i>, <i>Caiwás</i>, <i>Cainwás</i>, <i>Caiuás</i>ou <i>Caiouás</i> no <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil">Brasil</a> e na <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Argentina">Argentina</a>”.<br> Pô! Então os caras são conhecidos por um nome que lhes foi imposto? Seria isso?<br> Parece, também, que os problemas deles com os brancos começaram pra valer no início do século XX, com a chegada das frentes de colonização euro-descendentes aos seus territórios. Os caiouás foram, então, expulsos por latifundiários e empresas mineradoras, sem qualquer reação significativa por parte do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), que, supostamente, deveria prezar pelo bem estar dos povos indígenas no Brasil (infelizmente, o Facebook só foi lançado em fevereiro de 2004, com pelo menos um século de atraso. Caso contrário, a vida de centenas de caiouás, tanto adultos quanto crianças, seriam poupadas em lutas na defesa de suas terras). <br> Enquanto isso, um século depois, não parava de chover indignação no Facebook em relação à “novidade”, que seria, no caso, o tal suicídio coletivo dos 170 integrantes da tribo. Eis que acabei descobrindo o inteiro teor da carta que os índios mandaram ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI). No penúltimo parágrafo dela dizem: (...) “Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos” (...). Um pouco acima, escreveram assim: (...) “queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui” (...).<br> Na nota em que explica que “morte coletiva” não é o mesmo que “suicídio coletivo”, o CIMI diz que de 2000 a 2011 os índios cometeram 555 suicídios. Já o comentarista político Bob Fernandes (Terra Magazine), num vídeo divulgado por vários indignados das redes sociais, diz que há 43 mil índios sobreviventes das etnias Guarani-Kaiowá. Com base nos números do CIMI e do Bob, o blogue “Coleguinhas” — em matéria assinada por apenas Ivson — calcula que houve 46 suicídios por ano, resultando, então, em 0, 11 suicídio por grupo de 100 mil indígenas por ano. O cara faz a seguinte pergunta: qual a taxa de suicídios no Brasil por 100 mil pessoas/ano entre os não-índios? De acordo com a Wikipedia “estimativas indicam que em 2010 em torno de 24 pessoas cometeram suicídio por dia no Brasil, principalmente em regiões mais desenvolvidas economicamente. Os maiores índices são do <b>Rio Grande do Sul</b> (11 para cada 100 mil), sendo <b>Porto Alegre</b> a capital com maior taxa de suicídios (11,9 para cada 100 mil). A cidade brasileira com o maior índice é o Município de Venâncio Aires, com mais de 40 casos a cada 100 mil habitantes. Esses números enquadram Venâncio Aires como uma das cidades com maior índice de suicídio do mundo”.<br> Muito bem. Pois o mesmo CIMI aponta no Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, lançado em junho passado, que mais de 62 mil indígenas foram mortos, em 2011. O número, segundo o Conselho, aumentou em 20 mil em relação ao ano anterior. O Relatório de 2010 já trazia um triste dado envolvendo as crianças indígenas: o número de mortalidade infantil cresceu 513% se comparado a 2009, quando 15 casos foram registrados. A cada ano o Relatório fica mais deprimente...<br> Visto está, pois, que o problema não é de agora, nem localizado. De agora, só a indignação nas redes sociais, que até já está deixando de ser.<br> Mas e a Globo? O que tem a ver com tudo isso? Algumas postagens reclamavam que a emissora não noticiava o acontecimento com os índios. Será que essas pessoas estavam à frente da TV, sintonizada na Globo, nos horários dos telejornais? Duvido. Então como afirmam tão categoricamente que nada era dito sobre os Guarani-Kaiowás? A propósito: seria só a Globo a não noticiar sobre o que estavam chamando de suicídio coletivo dos índios, mas que na verdade nem de suicídio falaram? E a Record? E a Band? E o SBT? E a RedeTV? Me parece que o “silêncio absoluto” — como classificou Bob Fernandes — foi total na chamada grande mídia. E por quê? Levando em consideração os escalafobéticos discursos que geralmente postam os indignados das redes sociais, só posso deduzir que a Globo e os outros veículos da “grande mídia” têm interesse nas terras indígenas. <br> E as emissoras estatais? Falaram alguma coisa? <p> Mudando de tribo: essa coisa de malhar a Globo já tá pra lá de chata. Fiquei até com vergonha de ler postagens de colegas meus de profissão reclamando no FB que a Globo só estava dando importância aos estragos provocados pelo furacão Sandy em Nova Iorque, em detrimento do que os ventos fizeram em Cuba. Em nenhum momento essas pessoas pensaram em comparar Nova Iorque com Cuba e a importância de suas relações com o resto do mundo; não se deram conta de que a emissora tem equipe e aparato nos USA e, especialmente, em NYC, mas não os têm em Havana, e que as notícias e imagens que vêm da ilha de Castro são adquiridas de agências de notícias. Será que não ouviram falar em “proeminência” na faculdade de jornalismo? Com certeza acreditam que se a Bolsa de Valores de Cuba parar de funcionar fará um estrago monumental na economia do mundo... <p> Afff! Que fique claro que não sou contra índios, nem a favor de fazendeiros, da Justiça Federal e de qualquer rede de TV. Apenas estou cansando de algumas desinformações, especialmente de quem deveria ser sensato.</p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-90098649234502266092012-08-25T19:48:00.001-03:002012-09-05T12:08:05.261-03:00Agonia<div style="font-size: 14px; line-height: 140%; text-align: justify;">
Despertei assustado e engasgado com alguém tirando um enorme tubo da minha garganta. Eram nove e meia da noite e a última coisa de que me lembrava era de que duas horas atrás eu olhara para aquele mesmo relógio. <br /> — Tá acordado, Aldo? Tá me ouvindo?<br /> Respondi que sim olhando na direção da voz. Era o médico que me operara, ainda de costas pra mim.<br /> Caminhando em minha direção disse que a cirurgia foi um sucesso, mais tranquila do que esperava. Fazendo entre dois dedos um sinal de coisa pequena, completou:<br /> — O corte foi desse tamanho.<br /> Alguns enfermeiros, enfermeiras e o próprio médico pegaram o lençol sob meu corpo e me transferiram para uma maca. Imediatamente me empurraram por aqueles corredores confusos, com gente indo e vindo, macas estacionadas, cadeiras de rodas não pilotadas, técnicas em enfermagem sorridentes e feéricas lâmpadas fluorescentes.<br /> Em seguida me deixaram na sala de recuperação, onde começaria um dos meus calvários. Essa rotina eu já conhecia. Havia feito, antes, duas cirurgias de hérnia inguinal e uma de Rizartrose do polegar esquerdo. Numa das cirurgias de hérnia, no entanto, sofri uma anestesia raquidiana (ou peridural, sei lá!), que é aquela em que o corpo fica anestesiado do peito para baixo. Quando despertei da cirurgia, não sentia minhas pernas. Foi horrível. Além do mais, a técnica em enfermagem que me acompanhou na recuperação me perguntava a toda hora se eu queria fazer xixi. Por que ela queria saber isso é o que eu queria saber. Então ela me disse que se eu não fizesse xixi não poderia ir para o quarto e, além disso, teriam que me enfiar uma sonda “peru” adentro para esvaziar a bexiga. Ah! Pedi um papagaio e urinei na hora!<br /> Pois bem, desta vez a anestesia também tinha sido raquidiana (ou peridural, sei lá!). Assim sendo, morria de medo de não sentir vontade de mijar e ter que ser “sondado” pelo “pinto” (a essa altura já nem era mais peru). Eis que, porém, ao conseguir movimentar minhas pernas, percebi um caninho sob uma delas. Levantei o lençol, espichei o pescoço e lá estava uma sonda devidamente enfiada na minha uretra. Maravilha! Fizeram isso enquanto eu estava anestesiado. Uma agonia a menos.<br /> Na sala de recuperação, rodeado de outros infortunados ou desafortunados, alguns gemendo, alguns roncando, estava eu, nem gemendo nem roncando, mas acordado, começando a sentir dor e amarrado por fios e tubos a um monitor e a um litro de soro. De vez em quando vinha um técnico em enfermagem, anotava meus sinais vitais, aplicava algum medicamento e sumia. Meus olhos vasculhavam a sala tentando adivinhar quantos pacientes estariam ali. O sono não chegava. O tempo não passava. Cada vez mais a boca secava.<br /> De vez em quando me surpreendia despertando. Era apenas um cochilo daquele torpor anestésico, mas logo caía dos braços de Morfeu. Os tubos de soro, as lâmpadas, os monitores dos sinais vitais e tudo que pertencia àquele ambiente se misturava formando um quebra-cabeça que eu tinha que resolver durante as cochiladas. E assim fui até o amanhecer, ainda na sala de recuperação. O quebra-cabeça não fora resolvido.<br /> Fiquei sabendo que não havia leito no hospital. Por isso eu e outros em melhores condições permanecíamos ali. Até quando.<br /> No meu abdômen havia uma batalha. E do tempo da II Guerra, pois os aviões que iam de um lado a outro eram com motores aspirados. Do lado esquerdo, alguns canhões antiaéreos <i>Flak 36</i> da <i>Luftwaffe</i>, respondiam efusivamente ao ataque dos <i>P-51 Mustang</i> norte-americanos; do lado direito, granadas explodiam dentro de trincheiras. E os gases que se formavam com essa batalha ficavam todos dentro de mim...<br /> Tenho certeza de que as visitas da minha mulher e de meus filhos, na sexta-feira bem cedinho, me fizeram sorrir um pouco. Mas foi tudo muito rápido e mais um longo, muito longo dia começava. À noitinha, conforme o protocolo, eles puderam voltar pra me olhar. Para que o tempo passasse, eu ficava tentando imaginar como seria uma cirurgia dessas. Aliás, eu nem disse que cirurgia foi! <br /> Através de um exame de rotina (colonoscopia), foi verificada a presença de uma neoplasia em determinada área do cólon. Essa neoplasia leva o nome de adenoma, que pode ser de baixo ou de alto grau. Retirado material para exame, ficou constatado que o adenoma era de alto grau, necessitando, então, ser retirado. A cirurgia para extirpar o adenoma chama-se colectomia parcial ou hemicolectomia, que é a remoção parcial (metade ou menos), do intestino grosso (cólon). A colectomia parcial é realizada através de uma grande incisão na parede abdominal. A área afetada do intestino é removida e é efetuada a ligação das duas terminações restantes através de um grampeador que usa grampos de titânio. No meu caso foi retirado um pedaço de 22 cm do intestino grosso e o local da incisão é uma ferida com cerca de 15 cm de extensão na zona abdominal (e o médico havia feito o sinal afastando dois dedos a uma distância de mais ou menos uns 8 cm). O material retirado seguiu para a patologia a fim de verificar se seria ou não de um adenocarcinoma (câncer). Pois bem, estou com 15 pontos bem espaçados num corte vertical na linha do umbigo.<br /> Sugiro que o leitor retome a leitura a partir do 8º parágrafo: “Na sala de recuperação, rodeado de outros infortunados ou desafortunados (.../...)” e vá até o 13º, onde se lê “Mas foi tudo muito rápido e mais um longo, muito longo dia começava”. Acrescente-se a essa sexta-feira um pouco mais de dor, de outras batalhas, agora também navais, de delírios com quebra-cabeças e de tentativas de adivinhar quando terminaria aquela agonia. Nem água eu podia beber. Ganhava uns flaconetes de 10ml para molhar a boca.<br /> A sexta-feira acabou nos calendários. Na minha vida não. Foram as 24 horas mas demoradas da minha vida. Depois de nova visita dos familiares, continuava acordado. Pedi um remédio pra dormir e fui atendido: deram-me meio comprimido de alguma coisa. Com essa dose consegui suportar um pouco melhor a madrugada. Ganhei mais tempo pra tentar resolver os quebra-cabeças durante os cochilos. Mas não os resolvi.<br /> Pra saber como foi a noite de sexta pra sábado sugiro ao leitor retomar a leitura a partir do 8º parágrafo: “Na sala de recuperação, rodeado de outros infortunados ou desafortunados (.../...)” e vá até o 13º, onde se lê “Mas foi tudo muito rápido e mais um longo, muito longo dia começava”. <br />
<a href="http://lh3.ggpht.com/-cY9AESQHRew/UDlWU7b2uiI/AAAAAAAAAj4/TjFR3HahTGw/s1600-h/clip_image002%25255B5%25255D.jpg"><img alt="clip_image002" border="0" height="333" src="http://lh5.ggpht.com/-S3UJP4SFjTU/UDlWVbhaVHI/AAAAAAAAAkA/vFyWMZ7SJSg/clip_image002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" style="border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px; border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="clip_image002" width="500" /></a> <br />
Amanheceu o sábado e lá estavam minha mulher e meus filhos, que só podiam me olhar, sorrir, dar um apoio, dizer que estavam me esperando e que era pra eu ter força. Meus colegas de sala de recuperação iam aos poucos sendo levados para os quartos, enquanto eu continuava ali, vendo e ouvindo chegarem pacientes estropiados, sem alguma parte interna do corpo. Oh, como gemem esses coitados! Seria soldados das batalhas travadas dentro de mim?<br /> De repente uma notícia: uma alegre técnica em enfermagem me pergunta se quero ir para um quarto. Acho que sorri e ela entendeu como um sim. Pouco mais de meia hora depois, por volta do meio-dia, estava passeando de elevador, descendo do 6º para o 4º andar, em meio a profissionais da saúde falando sobre a burocracia do trabalho. Só o fato de me livrar da sala de recuperação me fez ignorar aquele blábláblá.<br /> Foi meio que um sufoco sair da maca que levou até o quarto para a cama hospitalar. Tive que fazê-lo sozinho. A última vez que havia me movimentado por minha conta fora na quinta feira, quando caminhei da sala de espera do centro cirúrgico para a mesa da cirurgia. Mas, enfim, estava no quarto, teria companhia, televisor, comida. Não foi, contudo, bem o que me trouxeram, e sim uma sopinha ralinha e sem gosto, da qual tomei algumas colheradas. E também pude tomar um pouco mais de água. Aliás, eu nem estava com fome, só com vontade de sentir um gostinho bom na boca que, com certeza, não foi aquele. À tarde veio uma gelatina gostosinha e, à noite, batatas, arroz e strogonoff de frango bem desfiado. Confesso que não me atirei naquilo, apenas provei e deixei de lado, pois já começava a sentir uma certa náusea, azia e um desconforto muito grande em todo abdômen.<br /> Quando fiquei sozinho, não podia nem engolir a saliva, porque voltava em forma de queimação. Chamei o técnico em enfermagem que estava de plantão e pedi um remédio para azia. Ele disse que não tinha nada nesse sentido prescrito no meu prontuário, mas que falaria com a enfermeira para que essa entrasse em contato com o médico. Entendi que era uma forma elegante de me dizer “te fode, meu”. Cada vez que ele entrava no quarto, por um motivo ou outro, eu pedia, implorava e suplicava até que no meio da madrugada me trouxe um copinho com hidróxido de alumínio. De nada adiantou.<br /> Passei toda a madrugada de sábado pra domingo muito mal, sem poder nem engolir. Veio a manhã, veio Clarinha, meu anjo da guarda, veio um vômito e veio o médico. Queixei-me com ele sobre o que sentia. Disse que era normal, uma vez que o intestino estava paralisado, mas produzindo líquido que, por não ter por onde sair e devido à distensão pós-operatória, subia para o estômago. Resolveu esperar um pouco mais pra ver se as coisas se moveriam normalmente. Não se moveram. No meio da tarde, bem na hora do jogo do Grêmio, uma enfermeira entrou no quarto dizendo que teria que colocar uma sonda até meu estômago para que o líquido que lá estava saísse. Imaginei que seria uma coisa muito desagradável, mas, enfim...<br /> — Encoste o queixo no peito, respire fundo e, quando sentir o tubo na garganta não vomite, engula. Vou passar um anestésico para o senhor não sentir dor. Pronto: falou em dor me caguei todo! E começou o suplício. Agarrei-me com todas as forças na mão da Clarinha, que estava ao meu lado ajudando a me manter com o queixo encostado ao peito. Aquela mangueira entrava estuprando minha narina direita, fazendo um barulho com se estivesse rasgando a carne esponjosa do meu nariz. Eu tinha certeza de que meus olhos saltariam da cara; minha cabeça estava prestes a explodir numa dor quente, muito quente...<br /> — Engole! Engole! Engole pra não ir pro lado errado!<br /> Pela primeira vez eu gritava e gemia em um hospital, sem vergonha de quem ali estivesse. A cada engolida uma náusea. A enfermeira berrava que não era pra eu vomitar. Até que a ouvi dizer entre parênteses para sua auxiliar: — Acho que foi para o lado errado... E, mais calma, disse pra mim que ia fazer um teste pra ver se estava no lugar certo. E estava. A terrível dor daquele procedimento invasivo passou milagrosamente, ficando só uma sensação de que eu tinha espirrado pra dentro e um incômodo na glote ao engolir. Quando tudo estava quase terminando, chegou o médico, que ajudou a terminar o processo, fazendo uma aspiração daquele líquido que crescia em mim feito um <i>alien</i>. Saiu quase um litro de um suco preto e, enquanto saía, eu sentia meu abdômen desinchar. O Grêmio fazia o segundo gol, virando o jogo.<br /> O domingo praticamente acabara ali. Durante a madrugada consegui dormir melhor, mas sempre ancorado num remedinho. O ruim, agora, era quando tinha que ir ao banheiro: no braço esquerdo tinha o soro; na narina direita e dirigida para o lado direito a sonda, que terminava dentro de um pote. Precisava sempre pedir ajuda. Ainda bem que Clarinha não saiu do meu lado.<br /> Fiquei toda segunda-feira com aquele apêndice no nariz (aliás, meu nariz é o próprio apêndice). De vez em quando faziam um procedimento de aspiração e muito líquido saía, aliviando-me. A sonda só foi tirada na quarta-feira de manhã, bem cedinho, pelo próprio médico, que antes das 7h30 já estava no hospital pra me ver. Uma última aspirada constatou que já não havia mais líquido no estômago além do normal.<br /> Passei a me alimentar devagarzinho, comendo uma gelatina, tomando um suco, um chá. Ainda tomava soro porque precisava equilibrar a função renal, que tinha ido pro saco. Aos pouquinhos fui me recuperando e na sexta-feira, sete dias e meio depois da cirurgia, fui pra casa.<br /> Ainda faltava o resultado da biópsia do adenoma. E a notícia veio por telefone, na noite de quinta-feira, dada pelo próprio Dr. Cláudio Tarta, meu cirurgião salvador, que me visitava duas vezes por dia enquanto estive internado: o tumor era <b>B E N I G N O</b>! Essa notícia só poderia ter sido dada por ele, a quem devo todo o reconhecimento e gratidão do mundo.<br /> Ainda me recupero. Acho que vai demorar uns dias mais. Estou louco pra voltar pra bateria, pra tomar uma gelada, pra almoçar fora e, principalmente, pra fazer amor! <br />
Pra isso espero pela sua alta, Dr. Cláudio. Menos, é óbvio, pra fazer amor, porque isso faço com a Clarinha!<br />
<br />
<br />
</div>
Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-48908692890394374192012-07-15T10:49:00.001-03:002012-07-15T21:11:01.682-03:00A memória, o ronco do motor e o cheiro de combustível<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p &NBSP;&NBSP;&NBSP;&NBSP; manhã).> A memória da gente — que é a capacidade de adquirir, armazenar e recuperar informações disponíveis no cérebro — é algo fantástico. Não sei se é a idade, mas, seguidamente, no meio da tarde não consigo me lembrar do que comi no café da manhã. Depois de um tempo, porém, lembro-me de que não comi nada no café da manhã, porque desde guri tenho o hábito de só tomar uma xícara de café com leite (salvo quando estou em hotéis ou pousadas que oferecem café da manhã).<br> Grosso modo, a memória classifica-se em declarativa e de procedimentos. A primeira refere-se à capacidade de verbalizar um fato; a segunda, à retenção e processamento de informações que não podem ser verbalizadas, como tocar um instrumento ou andar de bicicleta. A memória declarativa, por sua vez, classifica-se em memória imediata (a que dura de frações a poucos segundos); de curto prazo (a que tem duração de alguns segundos ou minutos); e de longo prazo (com duração de dias, meses e anos).<br> Considero preocupante isso de esquecer o que comi no café da manhã e, pior, de que nada comi — fato que faz parte da memória de curto prazo — porque é um sintoma da primeira fase do Mal de Alzheimer. Fico frio e vou empurrando com a barriga porque ainda há a segunda, a terceira e a quarta fases.<br> Ainda sobre memória. As que incluem lembrança de odores têm tendência para serem mais intensas e emocionalmente mais fortes. Um odor que tenha sido encontrado só uma vez na vida pode ficar associado a uma única experiência e, então, a memória pode ser evocada automaticamente quando voltamos a reencontrar esse odor.<br> Enfim, todo esse nariz de cera (em jornalismo, parágrafo introdutório que retarda a abordagem do assunto enfocado e tende à prolixidade) era pra me dar a chance de lembrar sobre o que eu queria falar. Eu sabia que era alguma coisa sobre memória, mas não me lembrava o quê (e isso que nem costumo fumar baseados — ou, quem sabe, nem me lembre disso).<br> Pois bem, estava eu fazendo alguma coisa que não me lembro o que era quando ouvi o ronco grave do motor de um caminhão e, em seguida, senti o cheiro do combustível que ele queimou ao passar na minha rua. Não era o odor característico do diesel de hoje em dia, que invade nosso sistema respiratório acompanhado daquela fumaça escura que nos sufoca, mas sim um cheiro que me levou de volta a um período mais ou menos entre a metade da década de 50 e a metade da de 60, em Caxias do Sul.<br> Minha mãe era daquela cidade. Desde que me lembro, íamos para lá nas minhas férias de inverno e de verão, onde moravam meu avô, três tios, duas tias e um monte de primos e primas. A casa de meu avô — que também era meu padrinho —, na qual também vivia minha madrinha, única irmã solteira da minha mãe, ficava na Rua Júlio de Castilhos, a principal da cidade. Era uma típica casa de imigrantes italianos da região serrana do Estado (pena eu não ter ficado com nenhuma fotografia dela). Era um sobrado de madeira, pintado de verde, ocupando a frente de um terreno enorme com declive para os fundos. A porta frontal abria diretamente pra calçada. Quem o olhava de frente via, na parte de baixo, da esquerda para a direita, uma janela e uma porta e uma porta e uma janela. O primeiro conjunto, apesar de ser integrado à casa, era alugado para, se não me falha a memória, um alfaiate; a outra porta era a entrada principal da casa, que compunha com a janela uma peça interna com mais ou menos 20 m². Acima havia quatro janelas, que pertenciam aos quartos da frente. Mais acima, bem no meio, uma janela menor, que era do misterioso sótão. <p align="justify"><a href="http://lh6.ggpht.com/-SeieKQIz1-I/UALKXMdz6PI/AAAAAAAAAi0/FZhyFu8ZL_k/s1600-h/casa%252520caxias%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="casa caxias" border="0" alt="casa caxias" src="http://lh3.ggpht.com/-SoZEOPB6kRs/UALKYDRkKdI/AAAAAAAAAi8/XmOdldyB1vU/casa%252520caxias_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="603"></a> </p></div> <div style="text-align: center; line-height: 140%; font-size: 12px"><em>A casa, tal como está na minha memória</em></div> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><br> Por dentro era enorme. A sala de entrada era o escritório do meu avô. Não sei exatamente qual o cargo dele, mas tinha algo a ver com a Sociedade Caxiense de Auxílio aos Necessitados. Ele era responsável pela distribuição aos beneficiários de uma espécie de cesta básica. Uma vez por mês formava-se uma grande fila na rua e meu avô, da janela do escritório, entregava os pacotes aos necessitados.<br> Nessa sala ainda havia uma porta lacrada que dava para a peça alugada. Imagino que quando toda a família morava naquela casa, a peça não era alugada e tinha alguma serventia. Afinal, além do casal eram cinco meninos e cinco meninas.<br> Na parte de baixo, após a sala da entrada havia outra maior ainda, com uma grande mesa ao centro, porque era a sala de jantar (principalmente almoçar) em ocasiões especiais ou quando havia muita gente na casa. Na parede da direita viam-se algumas fotografias de meus avós e da família reunida e um carrilhão que soava maravilhosamente. Ao fundo, duas grandes janelas com vista para parte do quintal da casa. Do lado oposto às janelas tinha uma despensa onde eram guardados gêneros alimentícios e utensílios domésticos, além da escada que subia para os quartos. À esquerda, três portas: uma era a do quarto de meu avô, que ficava ali devido à dificuldade de uma pessoa com a idade dele ficar subindo as escadas; outra, de uma peça, digamos, auxiliar da cozinha, onde minha tia preparava, por exemplo, massa; a terceira, levava ao banheiro, à copa e à cozinha. Muito estranho: uma casa daquele tamanho com um só banheiro e, ainda por cima, com a porta abrindo diretamente para a copa, onde comumente fazíamos as refeições! A cozinha era bem grande, com direito a fogão a lenha.<br> Subindo a escada em “L” chegava-se aos quartos. Nem me lembro quantos, mas eram vários. Os da esquerda davam para a rua; os da direita, para os fundos da casa. Em um deles havia uma escada que levava ao misterioso sótão. A peça ocupava toda a extensão do sobrado: da frente aos fundos e de um lado a outro. Nele havia milhares de bugigangas de toda espécie guardadas em caixas, malas e baús; havia alguns móveis velhos, cabides com chapéus empoeirados, enfim, coisas e mais coisas sabe se lá pra quê!<br> Eu gostava de ficar na janelinha do sótão que dava para a rua. As pessoas pareciam pequeninas lá embaixo. Com minha irmã aprendi uma arte: ela fazia dezenas de bolinhas de papel que deixava cair, uma a uma, na cabeça das pessoas que passavam na rua. Quando acertava a cabeça de alguém, tirava o corpo da janela e ficava rindo.<br> Nos fundos da casa havia uma fábrica, uma construção de alvenaria. Não sei exatamente o que fabricavam e nem qual era a relação daquilo tudo com meu avô. Nunca me preocupei em saber. Havia coisas mais interessantes naquele quintal, como a oficina do meu avô, cheia de ferramentas, o poço com água limpíssima e geladinha, que eu gostava de recolher a pedido da minha tia e o porão úmido, que seriva de esconderijo nas brincadeiras com meus primos e primas.<br> Então o leitor deve estar se perguntando: mas o que é que o ronco do motor e o cheiro do combustível do caminhão têm a ver com tudo isso?<a href="http://lh4.ggpht.com/-L0X1QNlgLec/UALKY0tuTtI/AAAAAAAAAjE/jqK9B2HCnUc/s1600-h/galiotto%25255B7%25255D.jpg"><img style="border-bottom: 0px; border-left: 0px; display: inline; margin-left: 0px; border-top: 0px; margin-right: 0px; border-right: 0px" title="galiotto" border="0" alt="galiotto" align="right" src="http://lh4.ggpht.com/-yfiER6j_nPQ/UALKZlqHl9I/AAAAAAAAAjM/qvhiEDMpNYI/galiotto_thumb%25255B4%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="172"></a> <br> Então eu respondo. Viam-se muitos caminhões em Caxias, naquela época. Indústrias, lojas, escritórios e residências concentravam-se na cidade. As empresas de transporte ficavam próximas a tudo. Não havia restrições e os caminhões circulavam por todas as ruas. Eu tinha um tio, casado com uma irmã da minha mãe, que dirigia um GMC enorme, transportando vinho. Pois bem, eu dormia num dos quartos da frente. Como era uma rua muito movimentada, despertava cedo, com o barulho da cidade que também acordava. Hoje em dia, sabendo como funciona uma máquina fotográfica, posso dizer que me sentia no interior de uma delas. As frestas dos tampos das janelas funcionavam como uma lente, que projetava no teto do quarto a imagem de ônibus e caminhões que passavam na rua, iluminados pelo sol nascente. Eu ficava deitado olhando aquele movimento, ouvindo o ronco dos motores e sentindo o cheiro do combustível. <br> Logo eu levantava, descia e ia encontrar minha madrinha na cozinha, que me servia café com leite.<br> Muita coisa aconteceu naquela época que, hoje, só trago na lembrança e que revivi graças a um simples ronco de motor acompanhado do cheiro de seu combustível. Num momento muitas imagens passaram pela minha cabeça como um filme num DVD em “ff” a uma velocidade de 200X. Quando meu avô morreu e eu já não ia mais a Caxias do Sul a casa foi vendida e, no local, construído um edifício. Todos os meus tios e tias já faleceram. Imagino que alguns dos primos mais velhos também. Por onde andarão os que ainda vivem? Por que perde-se o contato com pessoas que foram tão importantes para nós no passado? E eu não fiquei com nenhuma foto daquela casa, daquele tempo, daquele barulho de motor, daquele cheiro de combustível. <br> Hoje, não me lembro do que comi, mas lembrei-me de que há mais de 50 anos tomava café com leite de manhã. </div>Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-57649924464654720272012-06-06T18:56:00.001-03:002012-06-06T18:56:48.787-03:00Um anjo chamado Wanda<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Desde pequeno gosto de gatos. Quando criança, sempre tinha um na minha casa. Cresci, casei e continuei tendo gatos. Depois, apesar de continuar gostando deles, passei um longo período sem tê-los, até que, em 1995, meus filhos insistiram pra ter um. Eu já falei aqui sobre isso, em “Uma gata chamada Wanda” (<a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com.br/2009/10/uma-gata-chamada-wanda.html" target="_blank">clique aqui pra ler</a>). No texto, entretanto, só falei sobre o dia-a-dia da Wanda, mas não sobre seu lado espiritual, que todos os felinos têm. <br> Acredita-se que os gatos têm o poder de, diariamente, remover energia negativa acumulada no nosso corpo. Enquanto dormimos, nosso felino absorve essa energia. Quando dorme, o corpo do gato libera a negatividade que ele removeu de nós. Se há mais do que uma pessoa na família, e apenas um gato, ele pode acumular uma quantidade excessiva de negatividade ao absorver energia de tantas pessoas. Se estivermos excessivamente estressados, ele pode não ter tempo suficiente para liberar tamanha quantidade de energia negativa e, consequentemente, ela se acumula como gordura até que possa liberá-la. Portanto, ele pode se tornar obeso. <br> O gato também nos protege durante a noite para que nenhum espírito indesejável entre em nossa casa ou quarto enquanto dormimos. Por isso gosta de dormir na nossa cama. Se perceber que estamos bem, então não dormirá conosco. Se houver algo estranho acontecendo ao nosso redor, ele pulará na nossa cama e nos protegerá. Quando uma pessoa chega a nossa casa e o gato percebe que ela está ali para nos prejudicar ou que é do mal, logo ele nos circundará para nos proteger. Se ele correr para essa pessoa, cheirá-la e quiser ser acariciado por ela, então relaxe. <br> Para muitos, o gato ainda é um animal misterioso, quase sagrado, de uma visão além do normal e uma percepção aguçada. Diz-se mesmo que teria poderes paranormais, que saberia muito mais dos segredos da vida do que nós. Quem convive ou conviveu com um gato percebe facilmente que boa parte dessas características parece mesmo ser verdadeira. Os gatos realmente parecem ter uma percepção extrassensorial, uma visão diferenciada, além do normal. Quase sempre dão a impressão de pertencerem a uma esfera superior, a um nível mais elevado de consciência. Os gatos parecem saber exatamente como nos sentimos, mesmo que não externemos nenhuma reação diferente. <br> Marta, a mãe dos meus filhos, não era muito simpática à ideia de ter um animalzinho em casa. Quando chegou em casa depois do trabalho, nem percebeu imediatamente a pequena Wanda, recém chegada, sobre a mesa de centro da sala. Cumprimentou-nos, começou a contar coisas da sua manhã e, de repente, surpreendeu-se, não como quem diria em seguida “não quero esse bicho de jeito nenhum”, mas sim como quem se encantava à primeira vista. Depois de prometermos que nós cuidaríamos da Wanda, aceitou passar a conviver com um gato, no caso uma gata, fosse por quanto tempo fosse. <br> E assim conviveram durante anos. Um dia Marta adoeceu. Doença grave. E Wanda sentiu isso. Passava os dias deitada num “puf” de uma poltrona onde Marta acomodava os pés. À noite, ia para seu quarto, que era a dependência de empregada do apartamento, pois nunca lhe fora permitido dormir na sala ou nos quartos. <br> Muitas vezes observei as duas olhando-se atentamente. Às vezes, Marta dizia à Wanda: se sorrires faço o que quiseres (claro que ela não falava como escrevi aqui). A Wanda não sorria, pois não é de sua natureza, mas acho que entendia o que Marta queria. <br> Marta passou seus últimos dias no hospital. Eu estava longe. Numa noite, estava sentado no sofá vendo TV, e, de repente, sem mais nem menos, a Wanda veio em minha direção e sentou-se ao meu lado, bem junto ao meu corpo, coisa que nunca fazia. Não demorou cinco minutos e veio uma ligação dizendo que Marta partira. Seria coincidência? <br> Na outra casa em que fui morar, permitimos que Wanda dormisse na cama. E ela levou a sério. Fazia isso diariamente, ou melhor, noturnamente. Às vezes, durante a madrugada, especialmente no verão, ia pra outro canto. Nos seus últimos dias nem saía mais da cama. Recolheu-se em silêncio, quase não comia e mal caminhava. Também partiu, ontem, dia 05 de junho de 2012. Viveu 17 anos, seis meses e quatro dias. Agora é um anjo chamado Wanda. </p> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/-68neSqo_lZE/T8_SG-RHfhI/AAAAAAAAAig/aXDuzI5_-k0/s1600-h/um%252520anjo%252520chamado%252520wanda%25255B6%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="um anjo chamado wanda" border="0" alt="um anjo chamado wanda" src="http://lh6.ggpht.com/-foxmVUjqRaA/T8_SHlrktdI/AAAAAAAAAio/7id12RcBl8Q/um%252520anjo%252520chamado%252520wanda_thumb%25255B4%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="375"></a> <br> “O gato imortal existe, em algum mundo intermediário entre a vida e a morte, observando e esperando, passivo até o momento em que o espírito humano se torna livre. Então, ele irá liderar a alma até seu repouso final” (HAUSMAN, Gerald & Loretta. <i>The Mythology of Cats: </i><i>Feline Legend and Lore Through the Ages</i>. St. Martin's Press, 1st ed, 1998.) </p> <p>___________________ <br>Fontes: <br><a href="http://vidaespiritualidade.wordpress.com/2010/05/25/gatos-e-os-beneficios-espirituais/" target="_blank">http://vidaespiritualidade.wordpress.com/2010/05/25/gatos-e-os-beneficios-espirituais/</a> <br><a href="http://igorbatatinha.blogspot.com.br/2011/04/gato-e-espiritualidade.html" target="_blank">http://igorbatatinha.blogspot.com.br/2011/04/gato-e-espiritualidade.html</a> <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-88605693717314090802012-05-25T16:27:00.001-03:002012-05-25T16:27:54.936-03:00QUIPROQUÓ COM COBRA CRIADA<p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Há 15 anos, em maio/junho de 1997, tive um quiproquó com um colunista da Zero Hora. Antes de dizer com quem e sobre o que foi, permitam-me explicar o que é quiproquó.<br> De acordo como dicionário Houaiss, quiproquó é um substantivo masculino que significa: 1. (<i>Rubrica: história da medicina</i>) - livro que existia nas farmácias para indicar as substâncias que deveriam substituir as receitadas pelo médico, caso a farmácia não as possuísse; 2. (<i>Derivação: por extensão de sentido</i>) - engano, erro que consiste em se tomar uma coisa por outra; equívoco; 3. (<i>Derivação: por metonímia</i>) - a confusão criada por esse engano. <br> A palavra deriva da expressão latina <i>Quid pro quo</i>, que significa “tomar uma coisa por outra”. E foi neste sentido que o assunto se (des)enrolou.<br> Quanto ao colunista, trata-se do mega-adjetivável Paulo Megalômano Sant’Anna. Eu de um lado; ele de outro; e um redator babaca no meio, causador do quiproquó.<br> Eis os fatos.<br> Em sua coluna na edição de ZH do dia 27 de maio de 1997, Sant’Anna escreveu que um repórter de uma emissora de rádio do interior era um dos “dois únicos” radialistas gaúchos que “pronuncia” a palavra necropsia corretamente. Percebi três coisas estranhas na frase: além da questão da concordância, penso não existirem “dois” únicos e sei que ambas as formas (necropsia e necrópsia) são correntes e corretas. Resolvi, então, escrever para a seção SOBRE ZH, que nem sei se ainda existe, corrigindo o colunista sabe-tudo. <br> Começou o quiproquó. Claro que as correspondências encaminhadas a um veículo passam por alguém (seria um jornalista?) que, depois de selecionar as que serão publicadas, edita-as. E a pessoa em questão fez o maior estrago, invertendo a ordem dos fatores e alterando o produto. O meu e-mail saiu assim publicado no dia 10 de junho:</p> <blockquote style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p><i> Paula Sant’Anna disse (ZH de 27 de maio) que determinado repórter de uma emissora de Passo Fundo é um dos “dois únicos” radialistas gaúchos que “pronuncia” a palavra necropsia corretamente. Em primeiro lugar, não identificou quem é o outro radialista. Em segundo, não existem “dois únicos” (assim como não há três metades). Em terceiro (o erro mais grave), Sant’Anna escreveu que o tal radialista é um dos que “pronunciam” e não um dos que “pronuncia”. Se o rádio ensina o povo a falar, o jornal ensina-o a escrever*. A concordância é obrigatória no jornal.</i></p> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 12px">(*na sua crônica, Sant’Anna falara sobre a importância de um radialista falar corretamente, porque, segundo ele, o rádio ensina o povo a falar)</p></blockquote> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Deu merda. Ao editar meu texto, o cara (devia ser um estagiário) inverteu a ordem das palavras <b>pronuncia</b> e <b>pronunciam</b>. Originalmente eu dissera que <i>“... Sant’Anna escreveu que o tal radialista é um dos que ‘pronuncia’ e não um dos que ‘pronunciam’”.<br> </i>Não deu outra. Virei o assunto da coluna do Sant’Anna dias depois de o meu e-mail ter sido publicado. No dia 14 de junho ele veio com isso: <blockquote style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p align="center"><b><i>Três metades e dois únicos</i></b> <p><i> Não ia responder à carta enviada pelo leitor Aldo Luiz Jung à interessante seção Sobre ZH, em boa hora implantada no nosso jornal, publicada no dia 10 de junho corrente. Mas uma outra carta de uma leitora, Marlise Cardoso, indignada com a clamorosa injustiça de que fui vítima, impeliu-me a bradar contra o despropósito.<br></i><i> De uma crônica em que eu elogiava um radialista por falar corretamente o português, o senhor Jung pinçou o que ele julgava fossem dois erros meus. Levantou-se contra a minha expressão dois únicos radialistas, dizendo que “único é um só”. Se único fosse sempre um só, meu caro senhor Jung, não se poderia levar a palavra para o plural. Qualquer pessoa ou coisa ou circunstância que seja somente a uma outra, será também única, por diferenciarem-se ambas dos demais. Desculpe, senhor Jung, mas o senhor se quebrou.<br> </i><i>Mas para pior mal ainda do senhor Jung, ele asseverou que não existem "dois únicos", assim como não podem existir "três metades". Pois eu quero arrasar o senhor Jung dizendo a ele que ainda anteontem eu cortei três laranjas pela metade, chupei três metades e minha filha chupou as outras três metades. Viu, senhor Jung, como uma laranja e meia podem ser ao mesmo tempo três metades? Eu não posso entender como é que o senhor não saca coisa assim tão primária?<br> </i><i>Finalmente, para culminar o momento azarado que o senhor Jung escolheu para meter o pau no meu português pela sua carta, ele incorreu numa terceira mancada: classificou de completamente errada a minha expressão "um dos que pronunciam corretamente a palavra necropsia", afirmando que o correto é "um dos que pronuncia". No entanto, se tivesse escolhido qualquer das duas formas, não caberia ao senhor Jung corrigir-me.<br> </i><i>Lamentável, senhor Jung. Não era seu dia. Os professores Hildebrando A. de André (Gramática Ilustrada) e Nélson Custódio de Oliveira (Português ao Alcance de Todos) afirmam em suas obras que, quando o sujeito estiver representado pela expressão "um dos que", o verbo vai para o singular ou para o plural, como quiser quem escreve. E o nosso professor de português aqui da casa. Adalberto J. Káspary, define que o mais aconselhável é usar no plural, embora esteja também certo o singular ("Sou um dos que mais anima” ou "Sou um dos que mais animam", ambos corretos, Mr. Jung).<br> </i><i>Depois desta goleada de três a zero, quero dizer ao senhor Jung que esta minha vitória estrondosa sobre ele não tem nenhum mérito: é um triunfo do profissional sobre o amador. Eu lido profissionalmente com a língua pátria há decênios e o senhor Jung deve ser uma criança que ainda está se alfabetizando.<br> </i><i>Mas a julgar pelo seu elogiável interesse gramatical, o senhor Jung tem enormes possibilidades de dominar o léxico na maturidade. Só lhe dou um conselho: outra vez que for terçar armas sobre português, escolha como adversário um iniciante como o senhor. Não se volte contra ninguém como eu, que já sou cobra criada na matéria: dispute nas divisões inferiores primeiro, como o Guga Kuerten humildemente fez, depois pode ser que o senhor tenha chance de desafiar a nós, os 20 primeiros do ranking</i>.</p></blockquote> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Ao que, sem mais, respondi-lhe: <blockquote style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p><b><em> Por favor, imprimam este e-mail e entreguem aos cuidados de Paulo Sant'ana, mas sem intermediação de um “</em>copydesk<em>”.</em></b> <p> “‘Errar’ é humano...<br> Mas ninguém gosta de comprovar sua natureza humana por esse caminho. Nem mesmo quando o erro é de Português. Vem sempre uma frustraçãozinha danada se a gente erra, mesmo sabendo que se comunicou.”<br>(OLIVEIRA. Edison de. Todo Mundo Tem Dúvida, Inclusive Você. Porto Alegre: Gráfica e Ed. Do Professor Gaúcho. 186p.) </p></blockquote> <blockquote style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p><i></i> <p><i></i> <p><i> Prezado profissional</i> <p><i></i> <p><i></i> <p><i> Vamos por partes, como dizia o esquartejador.</i> <p><i></i> <p><b><i>Único. </i></b><i>[Do lat. </i><i>Unicu.] Adj. </i><i>1. Que é um só. 2. De cuja espécie não existe outro. 3.<br>Exclusivo; excepcional. 4. A que nada é comparável. 5. Superior a todos os demais.<br></i><i>(Aurélio Buarque de Holanda Ferreira).</i> <p><i></i> <p><b><i>ÚNICO</i></b><i>, adj. Um; que é só no seu gênero ou espécie, que não tem outro igual a si; </i><i>singular, que não tem par, desacompanhado de outro. <br></i><i>(Caldas Aulete).</i> <p><i></i> <p><i> Nas circunstâncias desses verbetes, não me quebrei, meu caro e único profissional. Apoiado por dois laterais do quilate de Aurélio e Caldas, gol do meu time: <b>1 X 0</b>.<b></b></i> <p><i></i> <p><b><i>Metade. </i></b><i>[Do lat. </i><i>Medietate, ] S. f. </i><i>1. Cada uma das duas partes iguais em que se divide um todo: metade de uma laranja; a metade do caminho... <br></i><i>(Aurélio Buarque de Holanda Ferreira).</i> <p><i></i> <p><b><i>METADE, </i></b><i>s. f. cada urna das duas partes que resultam de um todo dividido exatamente pelo meio...<br></i><i>(Caldas Aulete).</i> <p><i></i> <p><em> Compreendo teu jogo. O teu todo é formado de três laranjas, ao passo que o meu universo é de uma só laranja. A metade do teu todo, por óbvio, são três metades de três laranjas; a do meu, apenas duas, mas de uma só laranja — justamente aquela a que me referi na carta.<br> Entendo, também, a tua confusão no assunto: não deves ter estudado a tal de matemá­tica moderna ou a teoria dos conjuntos, dos universos, tampouco deves ter ajudado tua filha (não sei a idade dela ou se tens outros filhos) a fazer os temas dessa matéria. De mais a mais, isto é uma coisa tão primária, nossos filhos a estudaram no primeiro grau. Quando nós fizemos o primário, que é como se chamava naquele tempo uma parte do atual primeiro grau, nem se estudava isso.<br> Acho que a tua tática não me derrubou. Tentaste fazer uma linha de impedimento, mas teu zagueiro foi menos eficiente que meu atacante: <b>2 X 0</b>.<br> Por fim, caro Sant'ana, devo explicar que minha carta foi muito mal “copidescada” por um dos profissionais que fazem isto em ZH. Não deves lembrar o texto exato da tua crônica, caso contrário terias percebido a confusão que o</em> <b>copydesk</b> <em>criou. Na verdade, disseste na crô­nica “um dos dois únicos que pronuncia”; eu rebati dizendo que deveria ser “um dos dois úni­cos que pronunciam”. Só que o profissional que redigitou o meu e-mail escreveu exatamente o contrário, ou seja, que tu terias dito “pronunciam” e eu, “pronuncia”. Viste que confusão o teu, ou melhor, o profissional de ZH criou? E quando digo que não lembras do teu texto falo com propriedade. Na tua réplica publicada sábado, dia 14, dizes assim: “...classificou de completamente errada a minha expressão ‘um dos que pronunciam corretamente a palavra necropsia’, afirmando que o correto...”. Saliento: a expressão que usaste foi: “um dos que pronuncia corretamente a palavra necropsia”.<br> Vou anexar a esta carta o meu e-mail original e o que saiu publicado. Procure ler a tua crônica de 27 de maio.<br> A propósito deste assunto, do mesmo livro do Édison de Oliveira do qual copiei a cita­ção do começo desta carta, extraí o seguinte:</em> <p> “<b>É APENAS UM, MAS LEVA O VERBO PARA O PLURAL</b> <p> A expressão ‘um dos que...’ significa ‘um dentre os quais’. Assim, quando dizemos, por exemplo, ‘Um dos fatores que mais nos prejudicam é a presunção’ o sentido é: ‘Um dentre os fatores que mais nos prejudicam é a presunção’. Por isso é que o verbo (neste caso ‘prejudicar’) pode ir para o plural. Ele concorda com o termo ‘quais’ (plural) e não com o termo ‘um’ (singular)”<br>(OLIVEIRA. Edison de. Todo Mundo Tem Dúvida, Inclusive Você. P.145)<i></i> <p><em> Para não deixar assim, pesquisei também em Gramática, de Faraco & Moura (13ª edi­ção, 1994, p. 402), e verifiquei que ambas as formas são aceitas. Dizem eles que numa oração principal onde aparece a expressão “um dos”, seguida ou não de substantivo, mais “que”, o verbo vai para a 3ª pessoa do plural ou fica na 3ª pessoa do singular. Exemplo:<br> O professor C. V. é um dos que estão deixando o seu secretariado. O professor C. V. é um dos que está deixando o seu secretariado.<br> Mas, como diz Adalberto J. Káspary, o mais aconselhável é usar no plural (como eu disse que era o correto), embora seja também certo o singular (como tu o escreveste na crôni­ca).<br> Nesta eu me quebrei: achei que o gol tinha sido válido, mas me pegaram em impedimento e o anularam. Portanto, continua 2 </em><em><b>X 0.<br> </b>A par dessas questões técnicas, tens razão, Sant'ana, em classificar como elogiável o meu interesse gramatical. Foi só o que me moveu ao ousar criticar a tua correção. Contudo esqueci a quem estava criticando e cutuquei (o verbo é “cutucar” e não “cotucar’, como afir­maste em Sala de Redação outro dia) a fera com vara curta e te coloquei no mesmo nível de outros profissionais desse jornal, como os</em> <b>copydesks</b> <em>que tentam resumir as cartas que rece­bem dos leitores e, cortando frases e termos, confundem tudo. Eu não soube ser “humilde” como o Guga e como tu, que humildemente te classificas como “cobra criada”, “profissional que lida há decênios com a língua pátria”, “um dos 20 primeiros do ranking”. Realmente essa tua humildade me comove: tu és único; não há ninguém como tu; dessa espécie não existe outro, és um só; nada e ninguém se compara a ti; és superior a todos os demais; e, assim mesmo, continuas humilde.<br> Quanto ao meu amadorismo e o teu profissionalismo tenho a dizer que é muito fácil ser profissional em 60cm/coluna (ou 390cm<sup>2</sup>) e em corpo 12, ao mesmo tempo em que é muito difícil ser amador em 6cm/coluna (ou 39 cm<sup>2</sup>) e em corpo 9.<br> Devo salientar que para criança já não sirvo: confesso que tenho 47 anos. Para amador tampouco: eu já era maduro quando, em 1978, me formei em jornalismo. Depois disso, já fui redator e editor de duas das melhores rádios de Porto Alegre, uma delas a tua Gaúcha. Sabes por que desisti da profissão? Porque percebi que jamais haveria lugar para dois únicos Paulos Sant'anas: seria eu ou tu. Foste tu. Uma das metades venceu.<br> Temos, porém, algumas coisas em comum: além de sermos gremistas e de fumarmos muito, consegui aparecer na coluna inteira de um dos 20 primeiros do ranking e num sábado.</em> <p><i>Até o próximo jogo. Cordiais saudações.</i> <p><i>Aldo Luiz Jung</i></p></blockquote> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Não sei se ele chegou a receber este e-mail. Sei, contudo, que tive apoiadores. Abaixo duas cartas enviadas à coluna SOBRE ZH. <blockquote> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <i>Como faço diariamente, com prazer, li a crônica de Paulo Sant<sup>’</sup>Ana do dia 14 de<sub> </sub>junho ("Três metades e dois únicos") em que ocupa a coluna inteira para replicar a crítica que lhe fez o leitor Aldo Luiz Jung em cin­co linhas, que também li, sobre o emprego e­quivocado de plural sintático. Lamento que Paulo Sant'Ana, um corifeu do jornalismo rio-grandense, reconhecido por todos, tenha se excedido na réplica ao revidar de forma cruel e violenta uma simples critica.<br> </i><i>Episódios como esse demonstram o po­der discutível da imprensa. Com efeito, Paulo Sant'Ana, um ente insuspeito, utiliza sua coluna diariamente para criticar o que não considera correto, quase sempre com razão. Porém, quando um reles mortal. lei­tor seu. ousa criticá-lo, recebe dele desme­dida e desproporcional critica. Pisaste na bola, meu caro Paulo Sant'Ana, a humilda-de no sucesso continua sendo o corolário da grandeza.</i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i>Paulo Fernando Martins<br></i><i>Advogado, Novo Hamburgo (RS)</i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> O Sr. Paulo Sant'Ana rebate (ZH de 14 de junho) a “clamorosa injustiça de que foi vítima” e “brada contra o despropósito” de um leitor. Vejam o que faz a falta de pauta... O Sr. Sant'Ana, que “lida profissionalmente com a língua pátria há decênios”, parece se dar pouco com a ÉTICA. Acho que há muito não tem adversários para destilar seus “triunfos profissionais”: expressões como “pois eu quero arrasar o senhor Jung”, “depois dessa goleada de três a zero” e “nós, os 20 primeiros do ranking” são as de um desportista frustrado. Pelo visto, o senhor “cobra criada” gosta de jogar nas várzeas, golear os Barranco Sport Clubs e achincalhar seus leitores por causa de pequenas esgrimas lexicais. Belo ranking, senhor Sant'Ana!</i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i>Roberto Alejandro Wild<br></i><i>Jornalista, Porto Alegre (RS)</i></p></blockquote> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Enfim, sem reler sua crônica original, que motivou o envio de minha primeira carta, o “cobra criada que lida há decênios com a língua pátria” embarcou na babaquice do redator e confirmou que realmente estava enganado quanto à concordância.</p> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-71494944823655146882012-01-28T12:23:00.001-02:002012-01-28T12:23:02.616-02:00Petição<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Tenho recebido emails pedindo que eu assine petições para acabar com o Big Brother Brasil. Petição, como todo mundo sabe, é um pedido a uma autoridade, mais comumente a um funcionário governamental ou entidade pública. No sentido coloquial, uma petição é um documento oficial assinado por vários indivíduos. Uma petição pode ser oral, escrita, e, agora, também através da Internet. A petição nesses termos também é conhecida como abaixo-assinado, documento coletivo, de caráter público ou restrito, que torna manifesta a opinião de grupo e/ou comunidade, ou representa os interesses dos que o assinam. <br> Resolvi dar uma olhada em dois sites que disponibilizam o serviço de petições online. Comecei olhando só as que querem o fim do BBB e, até onde tive paciência, encontrei seis abaixo-assinados. Somando as assinaturas dessas seis petições até às dez e meia do dia 28 de janeiro de 2012, encontrei o fantástico número de 30.069! Puxa vida: seja lá pra quem for — Rede Globo, Ministério Público, etc. —, os destinatários, com certeza, ficarão muito sensibilizados com tamanha quantidade de assinaturas. Vão comparar esse número de indignados assinantes com o número de ávidos votantes dos paredões, que chega a muitos milhões e dar risadas. <br> Os argumentos para a retirada do programa do ar são, em geral, os mesmos. Pelos textos dos cabeçalhos das petições tem-se uma ideia do nível do autor. Escolhi um deles, cujos signatários asseveram que o Reality Show Big Brother Brasil, DEVE SER RETIRADO DO AR, pois, o mesmo: <blockquote> <p><em>1. Divulga e promove desde de (SIC) suas etapas de pré-seleção de seus candidatos e durante sua programação, a ética da exclusão; <br>2. Promove e privilegia a mulher-objeto, fazendo com que suas participantes femininas sirvam tão somente de objetos de voyeurismo sexual de suas audiências; <br>3. Incita e dar (SIC) a entender que “pelo jogo” vale tudo, atentando contra todo tipo de ética estabelecida para as boas relações, no que diz respeito as (SIC) conquistas de oponentes; <br>4. Ajuda a alimentar a alienação da população com a sedução da ilusória participação telefônica; <br>5. Não ajuda na formação de um povo consciente e cidadão de bons costumes e de boa índole.</em></p></blockquote> <p>Ética da exclusão? Qualquer dia vão querer acabar com os torneios de futebol estilo mata-mata, com o vestibular, com o Exame da OAB (este seria ótimo se acabasse). Mulher-objeto? Ah, então foi o BBB que inventou isso? Quanto aos itens 3, 4 e 5, sem comentários. O pessoal da TFP<a href="#_edn1" name="_ednref1">[1]</a> (Tradição, Família e Propriedade) deve ter adorado. <br> Ora, abaixo-assinado pra acabar com um programa da Rede Globo. As pessoas gostam de perder tempo, paciência e pagar mico. Eu tenho uma solução pra acabar com o BBB. Preste atenção: se você estiver assistindo à Globo, assim que terminar a novela das 21 h<a href="http://lh6.ggpht.com/-6CeOefh3-yg/TyQEw6Pu15I/AAAAAAAAAiQ/m75KIClNqsw/s1600-h/clip_image002%25255B7%25255D.jpg"><img title="clip_image002" border="0" hspace="12" alt="clip_image002" align="right" src="http://lh5.ggpht.com/-IMtGyR3tCwI/TyQExQjHYxI/AAAAAAAAAiY/iV5j5wWrK0E/clip_image002_thumb%25255B4%25255D.jpg?imgmax=800" width="150" height="190"></a>oras estique-se um pouco, pegue o controle remoto que está sobre a mesa de centro da sala e escolha outro canal de televisão qualquer. Se for assinante de alguma TV a cabo ou satélite — ou seja lá o que for —, você terá dezenas de canais pra escolher. Na pior das hipóteses, você terá a Record, a Rede TV, o SBT, a Educativa (Cultura) e a Band pra assistir, pelo menos pela próxima hora. Se quiser ser mais radical, no entanto, desligue o aparelho de TV e vá fazer amor com seu parceiro ou parceira. <br> Quanto aos abaixo-assinados em geral, achei umas pérolas nos sites que oferecem o serviço de petições online. Veja alguns. <blockquote> <p><b><i>Quero RETIRAR minha assinatura do Projeto do Bem-estar Animal do Deputado Tripoli </i></b> <p><i>Eu abaixo assinado quero RETIRAR o meu apoio e assinatura anteriormente conferidos, por engano e inadvertidamente, ao projeto do “bem-estar” animal do Deputado Tripoli. <br>NÃO concordo com as cláusulas que permitem a eutanásia de animais e o não-tratamento de animais considerados “muitos doentes”. <br>Considero que caí numa armadilha. <br>Feito o contato com a WSPA, que recolhe as assinaturas da referida pétição, fui informado de que a entidade não sabe como devo proceder. <br>Sendo assim, EXIJO, através da atual petição, que seja considerada NULA e RETIRADA a assinatura anteriormente dada ao referido projeto.</i> </p></blockquote> <p>118 pessoas assinaram isso. <blockquote> <p><b><i>O serviço de transporte já está melhorando (Será???)</i></b><i> </i> <p><i>Bem, na minha opinião, os preços das passagens do transporte público em PE são absurdamente altos. Essa constatação só aumenta quando correlacionamos esses preços a qualidade dos serviços prestados pelas empresas. <br>Ontem - 1° dia da prática dos novos preços - já percebi a diferença na prestação do serviço (Será????): <br>1 - O ônibus da linha Igarassu / Sítio Histórico, que peguei pra ir ao trabalho, quebrou duas paradas após eu ter subido nele. <br>Resultado: tivemos (eu e todos os demais passageiros) que esperar na chuva para entrar num Igarassu / BR 101 lotado. (23/01/12 às 13:50) <br>2 - No ônibus Paulista / Lot. Bonfim, que saiu do Pelópidas Silveira às 22:40, que peguei na volta para casa, não tinha o sinalizador de parada. <br>Resultado: o motorista queimou minha parada, mesmo eu tendo sinalizado, e ainda fica soltando piada junto com o motorista. (23/01/12 às 23:00) <br>Isso é que é Brasil! Isso é Pernambuco!</i> </p></blockquote> <p>As duas pessoas que assinaram isso nem estão pedindo, estão perguntando. <p>E outros: <blockquote> <p><b><i>Suspenssão </i></b>(SIC)<b><i> do trio elétrico no horario </i></b>(SIC)<b><i> da missa aos Domingos</i></b> <p><b><i>Conscientização dos motoristas contra o desrepeito</i></b> (SIC)<b><i> ao pedestre e ciclista em Belo Horizonte.</i></b> <p><b><i>Queremos A Banda Mais Bonita da Cidade no Programa Altas Horas</i></b> <p><b><i>Contra o visto da Mercenária Cubana Yoni Sanchez no Brasil</i></b><b></b> </p></blockquote> <p> Resumindo: as coisas estão ficando muito vulgares. No campo das petições, por exemplo, vê-se de tudo. Vou ter que tomar uma atitude e fazer uma petição pra acabar com as petições. Você assinaria? <br><br> <hr align="left" size="1" width="33%"> <a href="#_ednref1" name="_edn1"></div> <div style="text-align: justify; line-height: 120%; font-size: 12px">[1]</a> Tradição, Família e Propriedade (TFP) ou Sociedade brasileira de defesa da tradição, família e propriedade (1960), é uma organização católica tradicionalista e conservadora brasileira.<br>Foi fundada em 1960 por Plínio Correia de Oliveira, deputado federal Constituinte em 1934 e jornalista católico, pautada nos princípios de sua devoção à Santíssima Virgem(...). A nova sociedade baseava-se em sua obra Revolução e contra revolução (1959) e propõe uma vigorosa reação com base no amor à ordem cristã e na aversão à desordem. <p></p> <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-90528767505886167962012-01-17T16:15:00.001-02:002012-01-17T16:15:47.633-02:00Simplesmente Manu<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Era junho de 1979. Há pouco mais de dois anos eu havia saído de um casamento insosso que durara quatro anos, não dera frutos nem produzira lucros. Fazia pouco menos de um ano e meio que já estava noutro e, naquele mês, surgia uma menina na minha vida que a mudaria pra sempre. <br> Praticamente recém-casado pela segunda vez e já entrava outra mulher na minha história. E muito mais moça do que eu. Sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. É da natureza. O que fazer? Assumir, claro, com desenfreada paixão. Não resisti àqueles grandes e expressivos olhos, àquela boquinha bem desenhada, àquele narizinho empinado — no bom sentido — e àquela simpatia que contagiava a todos, especialmente a mim. <br> Eu havia mudado de cidade. Trabalhava em Porto Alegre, mas estava morando em São Leopoldo. Conhecia-a no fim da tarde de um dos dias mais frios daquele inverno. Justamente num dia em que não tinha ido trabalhar, pois estava no hospital, onde minha mulher havia baixado no dia anterior. Vi-a passar no corredor, com uma enfermeira. O que me chamou a atenção foram os gemidos baixinhos que ela emitia e que me deixaram apreensivo. O que teria acontecido? Curioso, fui atrás, perguntei aqui e ali e descobri que não era nada e, também, que aquela era a Manuela que, a partir desse dia, passou a fazer parte da minha vida. <br> Como só trabalhava à tarde, passávamos as manhãs juntos. No começo, por causa do frio, apenas fazia companhia a ela na sua própria casa. Com o fim do inverno, passeávamos por quase toda Independência — ou Rua Grande, como é conhecida —, a rua principal de São Leopoldo. Íamos até a Praça Imigrante, na margem do Rio dos Sinos, e voltávamos. Às vezes parávamos em alguma lancheria para tomar um refrigerante, pois eram quentes aquelas manhãs ensolaradas. Algumas pessoas que cruzavam conosco nas movimentadas manhãs da Rua Grande paravam para elogiar a beleza daquela garota, que nada dizia, apenas sorria. Noutros dias, estendíamos um pano na grama, em frente à casa dela, e ficávamos à sombra, lanchando e vendo o movimento da rua. Quando voltava do trabalho, no fim da tarde, ela me recebia cheia de gracejos e sorrisos, que eu retribuía com muitos abraços e carinhos. Era um sonho. O melhor de tudo é que o surgimento daquela paixão melhorou ainda mais meu casamento, que já era bom. <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p> Viemos morar em Porto Alegre. O tempo passou rápido, como sempre. A distância entre nossas idades não aumentara, mas dava a impressão de crescer numa razão logarítmica: enquanto ela amadurecia, eu envelhecia. <br> Chegou o dia em que ela passou a preferir divertir-se junto a suas muitas amigas, sair com elas à noite. Claro que eu não fazia parte desse plano. Entendi, conformei-me e, ainda por cima, levava-as e buscava-as nas festas que frequentavam. Lembro-me do despertador me chamando às cinco da madrugada, inclusive no inverno. Eu nem guardava o carro na garagem pra não ter que abri-la. Lá ia eu, todo encasacado, cheio de lã, de boné e tudo, pra Dom Pedro II, pra Goethe, pra Plínio ou pra onde houvesse festa. Entre seis e seis e meia aquele bando invadia meu carro, cada uma a sua vez dizia “oi, tio” e passavam a tagarelar todas ao mesmo tempo. Manuela ia quieta ao meu lado. Eu nem perguntava se ela tinha gostado. Sabia que no fim de semana seguinte a cena se repetiria, portanto, sinal que era bom. <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p> Hoje, 32 anos se passaram desde aquele junho de 1979 em que Manuela entrou na minha vida pra despertar em mim um amor diferente, que eu nunca sentira antes. E 32 anos é exatamente a idade de Manuela, ou simplesmente Manu, que nasceu no fim de tarde daquele dia frio, que passou gemendo nos braços da enfermeira desde a sala de cirurgia até a maternidade do hospital, cena que eu, casualmente, presenciei da porta do quarto. <br> Em janeiro de 1980, há 32 anos, todo orgulhoso, eu exibia minha filha, Manu, pra quem passasse pela Rua Grande. <p><a href="http://lh3.ggpht.com/-9-4Q5tlWDNY/TxW6z1WSZ5I/AAAAAAAAAiA/_v5K7UOxaSQ/s1600-h/clip_image002%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-bottom: 0px; border-left: 0px; display: block; float: none; margin-left: auto; border-top: 0px; margin-right: auto; border-right: 0px" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh6.ggpht.com/-jN5oON8rV7Y/TxW60oTWWtI/AAAAAAAAAiI/Pv1BvJR8J-8/clip_image002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="325"></a> <p> Hoje, 32 anos depois, não passeamos mais pela Rua Grande nem a levo e busco da balada, mas meu orgulho continua. <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-6541418406208372442012-01-13T20:07:00.001-02:002012-01-13T20:07:38.449-02:00Guri bom de bola<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Não. Não vou falar sobre o torneio promovido por uma empresa de comunicação do estado. Apenas aproveitei o título. <br> Recebi um email contando a história do incrível Lionel Messi, craque do Barcelona, eleito três vezes melhor jogador do mundo. Eu já a conhecia. Para quem não conhece, um resumo. <br> Lionel Andrés Messi nasceu em Rosário, na Argentina (ninguém é perfeito), em 24 de junho de 1987. Aos oito anos era considerado autista e, aos 13, media 1,10m. Os médicos diziam que ele chegaria no máximo a 1,50m quando adulto. O tratamento contra o nanismo era caríssimo, inviável para os pais do garoto. Eram necessários quatro meses de salário da família pra pagar um mês do tratamento. <br> Aos 10 anos, o baixinho despontava no Newell's Old Boys, clube que negou pedido do pai de Lionel para bancar o tratamento. A família foi, então, bater à porta do famoso River Plate, que também negou ajuda. <br> Com o amparo de uma tia, a família Messi foi para Lérida, na Catalunha, Espanha, em 2000. Pouco antes de completar 13 anos, Lionel fazia teste no Barcelona. Nem é preciso dizer que foi imediatamente contratado. A proposta era bancar-lhe um tratamento à base de hormônios. 42 meses depois de tomar injeções diárias, Messi alcançou o tamanho que tem hoje: 1,69m. <br> Em 2004, com 17 anos, contratado como profissional, entrou para a equipe B do Barcelona. Depois de cinco jogos, contudo, começou a jogar na equipe principal. <br> O resto da história todos conhecem. <p> Pois eu, sem falsa modéstia, poderia ter tido um Messi na vida, claro que sem as características do autismo e do nanismo. Vou contar a história. <br> Já escrevi aqui que para o futebol sempre fui um perna de pau (<a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com/2011/06/jogos-de-bola.html">Jogos de bola</a>). Torcia, claro, para um time de Porto Alegre, mas sem fanatismo, como torce a média das pessoas. Não era de ir ao estádio e nem de ficar ouvindo jogos no rádio ou vendo na TV, salvo quando fosse um grande jogo: Grenal, Copa do Mundo, Libertadores, final de brasileiro ou gauchão, etc. <br> Um dia, como acontece naturalmente com muita gente que se multiplica, tive filhos. O segundo a nascer foi um menino. É de praxe que meninos brinquem de carrinho e de bola, e o meu não fugiu à regra. Na segunda série do ensino fundamental percebi alguma coisa estranha naquele menino: era o craque da turma nos recreios da escola. O que fazer? Incentivar, é claro! Sempre que possível, batia bola com ele. <br> Na terceira série foi para um colégio grande e continuou jogando bola o tempo todo. Um dia, não sei exatamente quando, chegávamos em casa voltando da praia, o guri vestia uma camiseta do Grêmio, aproximou-se um senhor e disse que tinha uma escolinha de futebol e que, se o garoto gostasse, poderia participar. Deu as dicas e no primeiro sábado de tarde lá nos fomos. Os treinos eram num campo onde hoje é a Praça Sport Club Internacional, no miolo entre as ruas General Lima e Silva, Érico Veríssimo, Ipiranga e Dr. Sebastião Leão. Logo em seguida a área foi isolada para urbanização e a gurizada se transferiu para uns campos que havia atrás da Secretaria da Receita Federal, o chocolatão. <br> O tal senhor que instruía a garotada se chamava Amarante e fora jogador de futebol. A parte que acreditei do que ele disse foi de ter jogado no Guarani de Bagé e no Flamengo de Caxias; quando falou que jogou no Santos, ao lado de Pelé, só fingi ter acreditado. Mas era gente fina. Na época ele tinha um irmão que jogava no Grêmio como zagueiro e um sobrinho no Inter, também zagueiro. Não me lembro o nome deles, mas eram conhecidos. <br> Pois o Amarante, que era zelador de um prédio próximo ao que eu morava, me perguntou um dia se eu queria vaga para meu filho na escolinha do Grêmio, onde uma das equipes precisava de um quarto zagueiro. Dito e feito. Numa tarde de sábado do segundo semestre de 1992 nos apresentou ao Rubem, também um ex-jogador que treinava uma das equipes daquela escolinha e, a partir de então, o garoto, apesar de ter talento pra atacante, ficou guardando um dos lados da entrada da grande área. Naquele ano nunca foi driblado e sua equipe chegou ao quarto lugar da categoria 79/80 no campeonato da escolinha do Grêmio. <p><a href="http://lh5.ggpht.com/-3mdl2n5JNhQ/TxCrHrDuJDI/AAAAAAAAAhQ/oLabW9yKdbA/s1600-h/clip_image002%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh3.ggpht.com/-tT7MKQyfTIY/TxCrINteKWI/AAAAAAAAAhY/5MHHVJsvMZg/clip_image002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="367"></a><i>O time de 1992</i> <p> A escolinha tinha aulas no estádio Olímpico, num dia da semana. Nesses treinos, os meninos faziam exercícios físicos e aprendiam os fundamentos do futebol. Sábados à tarde havia torneio entre as equipes daquela categoria nos campos do Cristal. Para o guri continuar participando em 1993 tive que me associar ao clube. Até que foi bom, porque me obrigou a começar a ir aos jogos do Grêmio.<i></i> <br> Termina ano, começa ano e, em relação a esse assunto, o que mudou foi o dia dos jogos: como trocou de categoria, em vez de sábados à tarde os jogos passaram para os domingos pela manhã. Imagine no inverno, acordar domingo lá pelas seis e meia para estar no Cristal às oito... Mas lá estávamos: eu, de fora das quatro linhas, todo entrouxado, esfregando as mãos e batendo queixo; o garoto, de calção e camiseta, correndo pela ponta direita, entortando zagueiros e cruzando para a área. Nesse ano, porém, o time para o qual foi sorteado não conseguiu boa classificação, mas pelo menos o guri já estava jogando no ataque. <p><a href="http://lh3.ggpht.com/-zQYz76BUsKc/TxCrIhJkU_I/AAAAAAAAAhg/DnIoFYvh36g/s1600-h/clip_image004%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image004" border="0" alt="clip_image004" src="http://lh3.ggpht.com/-KahAeKbUyQE/TxCrJKJaNaI/AAAAAAAAAho/e6wGLrMdOA4/clip_image004_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="360"></a> <i>A equipe de 1993</i> <p> Em 1994 sim, começou num time que não tinha pra ninguém. Depois das primeiras goleadas nos adversários — inclusive com vários gols do meu garoto—, os “cartolas” se reuniram e resolveram misturar aqueles atletas nas outras equipes para equilibrar as coisas. Não adiantou. O time para o qual o meu craque foi ficou forte, sagrando-se campeão ao final do ano. Valeram aquelas manhãs frias de domingo na torcida. <p><a href="http://lh6.ggpht.com/-w-NiLZPRkM4/TxCrJjs3C4I/AAAAAAAAAhw/J_il40XVGcE/s1600-h/clip_image006%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image006" border="0" alt="clip_image006" src="http://lh3.ggpht.com/-6p7kTC_3vx4/TxCrKe2JobI/AAAAAAAAAh4/JpITsDmovI8/clip_image006_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="302"></a> <i>O time campeão de 1994</i> <p> No ano seguinte, Marcos já não tinha idade pra escolinha. Se quisesse ser jogador de futebol tinha que fazer teste pra categoria sub-15 e, logo em seguida, pra juvenil. E os testes são fortes. Se o sujeito coloca aquilo como um ideal de vida e não é classificado, a frustração é grande e pode ser sentida o resto da vida. Felizmente, ele não quis. Enveredou pro futebol de salão, mas só por diversão, sem objetivo de profissionalizar-se. <p> Já houve um Garrincha, um Pelé, um Maradona e um Ronaldo (o Fenômeno, porque o outro não conta); agora tem um Messi. Confesso que não troco nenhum deles por aquele que vai continuar sendo o meu craque pelo resto dos meus dias, mesmo sem ter ganho 33 milhões de euros por ano. <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-75151491996608900772011-12-31T17:23:00.001-02:002011-12-31T17:23:46.622-02:00O dia que não precisava existir<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> O relógio do computador marcava pouco mais de 10 e meia quando comecei a escrever este texto. Chovia muito na manhã deste 31 de dezembro, o dia que, por mim, não precisava existir. Eu ia começar a falar sobre amargura quando, pela terceira vez neste mês, faltou energia (não estou falando da minha, mas da elétrica). </p> <p align="center"><strong>.:: o ::.</strong></p> <p> Cinco horas se passaram, a energia (a elétrica, não a minha) voltou e posso, finalmente continuar. <br> Eu dizia que, por mim, este 31 de dezembro não precisava existir. Como não posso evitar, e é um dia importante para outras pessoas, pensei em voltar pra cama (isso naquela hora que faltou energia), dormir e só acordar quando fosse o primeiro dia útil do ano que vem. Nem me importaria de não apreciar os fogos, ouvir os foguetes que fazem todos os cachorros do mundo latir desesperadamente e assistir ao show brega da Globo. Se não fosse dormir pra acordar na segunda-feira, outra opção seria ver a meia noite passar como motorista de ônibus, recepcionista de motel, repórter, médico, enfermeiro, faroleiro ou qualquer profissional plantonista, pra passar alheio. <br> Desde ontem estou amargurado. Não sei por quê. Talvez porque tenha olhado fotos de réveillons passados, das décadas de 80 e 90. Nelas revi meus filhos crescendo ano após ano naquelas festas de família numerosa, cheia de tios, primos, cunhados e cunhadas, concunhados e concunhadas. São vários álbuns de fotos de um tempo que — é óbvio — nunca mais vai voltar. Nenhum tempo volta, mas, quando se fala assim, fala-se de uma circunstância. E essa circunstância — eu com filhos pequenos, depois adolescentes, em festas de fim de ano cheia de parentes, roupas novas, espumantes, salgadinhos, picanhas, costelas, vazios e cervejas, sorrisos, abraços, poses e flashes — não vai mais acontecer. Os filhos das fotos já são gente grande. Hoje, por exemplo, uma está no Rio; o outro, nem tenho ideia, pois não atende ao telefone, não me liga e nem responde o torpedo de Feliz 2012 que mandei de manhã; eu e a mãe desses filhos havíamos nos separado há alguns anos e, neste ano, ela nos deixou; os parentes numerosos eram família dela, não mais faço parte dela... <br><a href="http://lh3.ggpht.com/-wcALJoYTPkM/Tv9hP0xAcsI/AAAAAAAAAgw/d3fQlBrhSuw/s1600-h/reveillon%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="reveillon" border="0" alt="reveillon" src="http://lh6.ggpht.com/-DqY9n9ZWKXg/Tv9hQcY1rUI/AAAAAAAAAg4/58HsOC1F40Y/reveillon_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="350"></a> Enfim, hoje, sem uma grande família, ninguém me convida pra essas festas de ano novo. Depois que inventaram as máquinas fotográficas digitais, qualquer um, ou melhor, procurando ser politicamente correto, todos são capazes de tirar fotos. Minha velha Pentax não é mais necessária. <br> 31 de dezembro de 2011 e ficarei restrito a minha mulher e ao filho dela. O réveillon vai ser entre cinco: nós três mais a cachorrinha Lila e a gata Wanda. Sim, vamos comer lentilha e porco, tomar espumante e cerveja e nos abraçarmos à meia noite. Não vou tirar, no entanto, muitas fotos para a posteridade. Vou armar o tripé da câmera na sacada da frente e tentar fotografar os fogos de artifício. Mas até eles têm sido mixurucas nos últimos anos. <br> Não sou disso, mas aqui vai um plano pra 2012: será o último fim de um ano e começo de outro que passo em casa. A partir do próximo, se ninguém me convidar pra algo melhor, adeus, tia Chica, pego a Clarinha e nos vamos mundo afora. Dias como hoje não vão mais existir.</p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-43284720093297305992011-12-18T14:51:00.001-02:002011-12-18T14:51:05.356-02:00Nem tanto ao mar, nem tanto à terra<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Algo sobre o recente caso da enfermeira que maltratou um Yorkshire. <br></div> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Todos devem ter visto na internet o vídeo da mulher — uma enfermeira — maltratando um indefeso cãozinho da raça Yorkshire, jogando-o no chão e dando-lhe chutes. E, ainda por cima, na frente de uma criança. O revoltante caso virou o principal assunto no Facebook, motivando tanto irascíveis protestos como piadas de gosto duvidoso. Cheguei a ler postagens que poderiam ser classificadas como incitação à violência, instigação ao crime.</div> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> A expressão do título — nem tanto ao mar, nem tanto à terra — significa “nem uma coisa nem outra; sem exageros; com equilíbrio”. E é assim que eu procuro manter minhas relações com animais: sem exageros. De jeito nenhum concordo com maus tratos, mas também não admito que eles sejam tratados como filhos ou qualquer membro da família. Abominável o que a enfermeira fez com o Yorkshire; inaceitável, porém, fazer dela a única bandida do mundo, esquecendo-se que há crimes muito piores sendo cometidos sem que alguém se digne, por exemplo, a “fazer ou assinar uma petição” para que o óbvio aconteça. <br> Não consigo entender como alguns têm tanta comiseração com animais, mas não são capazes de se compadecerem com a miséria humana: desde a infância abandonada até a velhice desamparada. <br> Eu tenho dois animais de estimação: uma cadela Poodle — a Lila — e uma gata Himalaia — a Wanda. Também convivo, ocasionalmente, com o Chico, um Yorkshire do meu filho. Pego-os no colo, dou carinho, alimento-os, trato-os quando doentes, mas não os beijo... </div> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> </div> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" width="500"> <tbody> <tr> <td valign="top" width="250"> <p><a href="http://lh5.ggpht.com/-S5iSrH-pbuU/Tu4Z6je0OUI/AAAAAAAAAf4/kWzGQAgP8Rw/s1600-h/clip_image002%25255B6%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh6.ggpht.com/-8i-iNuuHNO8/Tu4Z6yMIGUI/AAAAAAAAAgA/XExHke7__ME/clip_image002_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="273"></a></p></td> <td valign="top" width="250"> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/-xFKkf_y4s7Q/Tu4Z7fQOneI/AAAAAAAAAgI/Vw3f2Oa9NZo/s1600-h/clip_image004%25255B6%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px" title="clip_image004" border="0" alt="clip_image004" src="http://lh3.ggpht.com/-coWRYxSazdQ/Tu4Z74HNKAI/AAAAAAAAAgQ/wJKs14vBN_A/clip_image004_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="273"></a></p></td></tr></tbody></table> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0"> <tbody> <tr> <td valign="top" width="288"> <p><a href="http://lh5.ggpht.com/-S5iSrH-pbuU/Tu4Z6je0OUI/AAAAAAAAAgY/pkyVKDnIN6Q/s1600-h/clip_image002%25255B4%25255D.jpg"></a> </p></td> <td valign="top" width="288"> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/-xFKkf_y4s7Q/Tu4Z7fQOneI/AAAAAAAAAgc/BsC6htxldC4/s1600-h/clip_image004%25255B4%25255D.jpg"></a> </p></td></tr> <tr> <td valign="top" width="576"> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/-QfE55Wrtg1o/Tu4Z9qRWU2I/AAAAAAAAAgg/SG5Wy1MER44/s1600-h/clip_image006%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: 0px; border-left-width: 0px; margin-right: 0px" title="clip_image006" border="0" alt="clip_image006" align="left" src="http://lh4.ggpht.com/-qBvPrGnBmng/Tu4Z-B1VwiI/AAAAAAAAAgo/b3PlZZXZqSE/clip_image006_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="375"></a></p></td></tr></tbody></table> Recolhi na internet algumas opiniões de especialistas sobre o que considero exagero na relação de humanos com animais. Pra isso, pratiquei saudáveis CtrlCs de alguns sites e apliquei CrtrlVs neste texto. Tudo o que está abaixo saiu da cabeça de outros e, pelo que entendi, assim como maus tratos, apego demais também é problema psicológico. </div> <p style="text-align: center; line-height: 140%; font-size: 14px"><b>.::o::.</b> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> Ter um animal de estimação em casa pode realmente ser uma ótima ideia. Eles trazem alegria para o lar, são ótimas companhias e, além de tudo, as crianças aprendem com eles a responsabilidade de cuidar de alguém e o valor da amizade. Mas, e quando o amor destinado a esses animais passa dos limites? De acordo com especialistas, é muito comum que as pessoas depositem uma quantidade enorme de amor nos bichos de estimação, e em casos mais extremos, vivam exclusivamente para cuidar destes animais. “Pessoas que apresentam um grau de depressão ou de carência muito elevado estão mais suscetíveis ao apego em excesso pelos seus bichos”, diz o psicólogo Paulo Tessarioli. “Muitas vezes, essas pessoas vivem em função do seu animalzinho, esquecendo-se, muitas vezes, de sua vida social, por exemplo”, diz.</i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> Para o psicólogo Hélio Guilhardi, mestre em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo, “a convivência prioritária com o animal produz pessoas alienadas do mundo que as cerca”. Ele reconhece que ter um animal é saudável, mas diz que o bicho não deve ser fonte única de carinho. “Relações com animais podem envolver afetos genuínos, mas isso não basta. O afeto entre humanos tem uma riqueza superior e não pode ser dispensado. Excessos afetivos com animais não indicam sensibilidade privilegiada. Pessoas autoritárias, egoístas e metódicas tendem a ter mais facilidade em dirigir seu tônus afetivo para bichos. Conviver com animais torna a vida mais fácil, embora mais fácil não signifique melhor”.</i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> De acordo com Paulo Tessarioli, a primeira atitude é se convencer de que o exagero pode ser prejudicial. “Analisar sua postura com seu animal de estimação é o primeiro passo. Se o problema for com outra pessoa, vale tentar conversar, mas sem forçar a barra”. A ideia é mostrar que existem outras coisas na vida além daquele bicho. Mas, alguns casos pedem ajuda profissional. “Quando a pessoa não consegue se desligar do animal, seja por qualquer motivo, o melhor a fazer é procurar um especialista, já que problemas como depressão, desapego à realidade e solidão podem estar envolvidos”.</i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> Os especialistas explicam que quando as pessoas tratam os animais como se fossem filhos ou quando o elo se torna muito forte entre eles deve-se tomar certos cuidados. “É preciso fazer a distinção entre as espécies, para que possam aprender a cuidar da forma correta. Senão pode até adoecer um animal, por querer que ele seja uma espécie que não é”, ressalta a psicóloga Madalena Cabral Rehder.</i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> Além disso, ela explica que o apego excessivo ao animal pode trazer problemas como qualquer outro na vida da pessoa. “Ciúmes, agressão, exagero no cuidado, estresse pelos cuidados excessivos. Se a pessoa age assim, o animal não busca pelas ações livremente e acaba por não desenvolver os hábitos próprios.” </i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> O veterinário Milton Kolber complementa que as consequências desse apego vão além. “É aquela frase que diz que tudo que é demais não serve. Isto se aplica também ao animal, porque carinho excessivo resulta em mimo e desobediência”. </i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> Para César Ades, psicólogo especialista em comportamento animal e professor da USP, não há nada de errado em ter todo esse apego aos animais, desde que eles sejam tratados como tal e não como crianças ou gente.</i> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i> Segundo a psicóloga Regina Reis Joana Ribeiro, do ponto de vista clínico, o bicho de estimação é saudável até certo ponto. Quando este ponto é ultrapassado, há uma “humanização” do cachorro. Em contra-partida, justifica que “a partir do momento que um animal selvagem por natureza passa por um processo de urbanização para viver dentro de um domicílio, já estamos humanizando-o”.</i> <p style="text-align: center; line-height: 140%; font-size: 14px"><b>.::o::.</b> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Agora sou eu de novo. Os textos acima se referem às relações de humanos com seus próprios animais de estimação. Há, ainda, aquelas pessoas que se envolvem demasiadamente com quaisquer animais, exagerando na comiseração, esquecendo-se de que podem haver outras causas envolvendo a raça humana que mereçam mais atenção. <br> Com esse caso da enfermeira que maltratou o cãozinho, o Facebook tornou-se o muro das lamentações dos hiper defensores dos animais, tanto dos abandonados como dos maltratados. Eu não gosto da palavra que vou usar, porque seu emprego é pejorativo, resultante de antiga tradição antissemita de origem européia, mas tem muita judiação não vista e não atacada pelos mesmos usuários do Facebook ou de outra rede social qualquer. <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><b>Enquanto isso...</b> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><b><i> Acredita-se que atualmente chegue perto de oito milhões o quantitativo de crianças abandonadas no Brasil. Destas, cerca de dois milhões vivem permanentemente nas ruas, envolvidos com prostituição, drogas e pequenos furtos. Um número expressivo, demonstrando que não foram aplicadas políticas eficazes para a redução da triste realidade apresentada já em 1994, quando existiam sete milhões, segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde </i></b><i>(OMS)<b>.</b></i></p> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-41486112808120848522011-11-19T17:53:00.001-02:002011-11-19T17:53:36.383-02:00O vento<p align="right"><i>O pessimista se queixa do vento, o otimista<br>espera que ele mude e o realista ajusta as velas. </i></p> <p align="right">William George Ward (teólogo inglês, séc. XIX) <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Chega o fim da tarde e traz junto o vento da primavera. Eu o chamo de Vento Gonçalves, porque da janela vejo a rua que homenageia o outro Gonçalves, aquele mesmo, o Bento da Revolução Farroupilha, e faço uma comparação entre ambos. Da janela também vejo os arranha céus da Bela Vista sendo lambidos pelos últimos raios do sol deste horário de verão. <p><a href="http://lh5.ggpht.com/-AgY0bfqGfSA/TsgJPTTXZcI/AAAAAAAAAfk/2499uuLtAxQ/s1600-h/clip_image002%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh3.ggpht.com/-9hJc7-WwiEU/TsgJP0DL19I/AAAAAAAAAfs/zgoy9t4oGfQ/clip_image002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="306"></a> <p> Gosto do horário de verão. A mim parece que a luz do sol sobre a cidade fica mais bonita. O vento, em compensação, me deprime. Não gosto de vento, especialmente desse que assovia pelas frestas da mesma janela (e de todas as outras) por onde aprecio a beleza do fim de tarde. Sou como o pessimista da frase de William George Ward. Olho pra fora e vejo que o vento, de tão forte, também incomoda aquelas mulheres cujos cabelos, de tão duros, não sei qual é o pente que os penteia. Logo, logo passa voando desesperadamente um saquinho plástico branco, retorcendo-se todo à procura de um galho de árvore ou de uma malha de fios da rede elétrica onde possa enroscar-se e ali permanecer pelos próximos 30 ou 40 anos, que é o tempo que leva para se decompor. <br> Em novembro venta muito. Ventou tanto no feriadão do aniversário da Proclamação da República que nem saí de casa. Não me recordo de um novembro anterior tão ventoso como o deste ano, mas a gente nunca se lembra de ventos, chuvas, calores e frios passados. Ainda bem que existem os jornais para estamparem na capa e as mocinhas do tempo dos telejornais para nos lembrarem que “há ‘x’ anos não ventava tanto” ou “não chovia tanto” ou “não fazia tanto calor” ou “tanto frio”; ainda bem que também existem os meteorologistas pra guardar os registros dessas efemérides e os informar à imprensa. <br> O ruído do vento se confunde com o barulho dos ônibus que passam aqui embaixo. Às vezes penso que é um, mas é o outro. Só percebo que é o vento quando fica muito tempo zunindo, pois um ônibus acelerado não demoraria tanto pra passar. Olho para um pouco mais longe, em direção ao Morro Santana, e vejo uma fumaça branca como se fosse uma nuvem se arrastando célere e serelepe sobre os prédios da PUC. É uma imagem borrada. Se não tivesse vento, a fumaça subiria numa coluna levemente inclinada em direção às igualmente brancas nuvens, misturando-se a elas e tornando bucólica a paisagem que vislumbro. Ah, o vento que esfumaça a fumaça... <br> À medida que o sol se esconde, mais o vento zumbi e zomba de mim, soprando pelas frestas das janelas, soando feito vaia da torcida ao time adversário: uhuhuhuhUHUHUHUHuhuhhu! uhuhuhuhUHUHUHUHuhuhhu! As esquadrias de alumínio das duas lâminas das portas envidraçadas das sacadas batem-se uma contra a outra. E são duas as sacadas. É preciso embuchá-las com um papelão dobrado. Fecho as persianas fabricadas com o leve PVC. Ah, mas elas, como eu, também não suportam o vento e, irrequietas, esfregam-se contra o trilho que as guia pra baixo e pra cima. É mais um ruído intermitente fazendo coro com a descontínua vaia do vento. <br> Finalmente anoitece. Onde antes havia a luz do sol da primavera há, agora, a iluminação pública. A lua é minguante e só vai aparecer lá pela meia-noite, mesmo assim produzindo pouco brilho. Dizem que é nesse período de lua minguante que devemos aproveitar para nos livrar do que não mais precisamos, fazer limpeza doméstica, finalizar tarefas começadas, resolver assuntos pendentes, largar situações insatisfatórias. Dizem que tudo perde um pouco a intensidade e a importância. Espero que seja verdade e que este vento de novembro perca a intensidade. <p> Puxa! Nem tinha me dado conta: enquanto escrevia o que meu coração sentia, o vento virou brisa. Encerro, então, com uma frase do padre António Vieira (religioso, escritor e orador português, séc. XVII): <p><i> Para falar ao vento bastam palavras, para falar ao coração são necessárias obras.</i> <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-2947638987610211302011-10-13T15:56:00.001-03:002011-10-13T15:56:25.851-03:00Época pra ser criança<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p><a href="http://lh4.ggpht.com/-F4JCFL1URFk/Tpc0REJw85I/AAAAAAAAAeA/90q-B358rf8/s1600-h/shurato%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: 0px; border-left-width: 0px; margin-right: 0px" title="shurato" border="0" alt="shurato" align="right" src="http://lh6.ggpht.com/-S8LFFZQ5Zao/Tpc0Rq9EXEI/AAAAAAAAAeI/2uP22mTi0pc/shurato_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="115" height="240"></a> Na semana que antecedeu o Dia das Crianças, um amigo — que foi criança na década de 90 — postou no Facebook um trecho de uma animação japonesa que passava na TV. Era um tal de Shurato, de quem nunca ouvi falar, porque meu contato com programação infantil encerrou-se na década de 80. Na ocasião da postagem, fez o seguinte comentário: “sinto pena da criançada de hoje, que não tem coisas tão legais assim”. Me senti na obrigação de responder, dizendo: “Não fiques com pena dos que não têm o que tiveste, senão me sentirei obrigado a sentir pena de ti, que não teve o que eu tive...” Ao que o sujeito, não entendendo o que eu quis dizer, respondeu: “Sinta-se livre para sentir o que quiser, independente das minhas emoções. Acho difícil eu invejar a tua geração, uma vez que na minha já existia propaganda contra cigarro”. Resolvi parar por aí e até agora estou sem saber o que uma coisa tem a ver com a outra, assim como não sei o que pena tem a ver com inveja e Shurato com cigarro. Afinal, de acordo com Shakespeare, “só sou responsável pelo que eu falo, não pelo o que você entende”. <br> Sinto pena — no sentido de compaixão, piedade, comiseração — de o amigo não ter entendido que vivemos tempos distintos e que não existe isso de uma época ser melhor que outra; pena que ele não sabe que cada um viveu suas experiências da melhor maneira que pode; pena que trouxe a discussão para outro lado. Em todo caso, já que me liberou pra sentir o que quiser, confesso que não sinto invejo nem pena de alguém que se emocionou com um “herói” japonês de olho grande que fala fazendo gestos marciais. Aliás, como todos os super heróis orientais... Talvez se existissem troços assim no meu tempo de criança eu também fosse fã. Como, porém, posso saber, se no meu tempo não havia essas maravilhas? <br> Nasci no último ano da década de 40. Fui criança na de 50 e parte da de 60. Morava com minha família em uma casa, assim como todos os meus amigos de rua e colegas de escola, pois, naquela época, eram raríssimos os edifícios no bairro Higienópolis. Meu colégio ficava a cerca de um quilômetro da minha casa. Eu e outros meninos e meninas da minha rua e de ruas próximas íamos a pé até a Escola Santa Maria Goretti. As freiras nos recebiam na entrada. Da mesma forma voltávamos, juntos, fazendo algazarra pela rua. <br><a href="http://lh3.ggpht.com/-V0zpmP3Zp8M/Tpc0SArLhlI/AAAAAAAAAeQ/jXIKhUIsL4U/s1600-h/carrinho%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: 0px; border-left-width: 0px; margin-right: 0px" title="carrinho" border="0" alt="carrinho" align="left" src="http://lh3.ggpht.com/-5zCeWJkSXYs/Tpc0S1zs9qI/AAAAAAAAAeY/10-lP6KNTsM/carrinho_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="155"></a> Depois de fazer os “temas”, a turma se encontrava na pracinha em frente a minha casa. Lá se jogava de tudo (já escrevi sobre isso em <a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com/2011/06/jogos-de-bola.html" target="_blank">Jogos de bola</a>). Além dos jogos, brincávamos de mocinho e bandido, de esconder, de pegar; por um cordãzinho puxávamos pequenos carrinhos de madeira, empinávamos pandorgas; andávamos de bicicleta, fazíamos carrinhos de lomba, enfim, uma infinidade de coisas somente possíveis a quem morava em um bairro residencial. E, com exceção do centro da cidade, todos os bairros eram residenciais na década de 50. <br> Depois da janta, a diversão da família (naquela época uma famímlia tinha um pai, uma mãe e pelo menos dois filhos) era reunir-se na sala, em torno do rádio (leia <a href="http://www.bomdiars.com/colunistas/aldo-jung/o-radio/" target="_blank">O rádio</a>). E foi assim até o surgimento da televisão, no início da década seguinte, quando o foco mudou. Nos sábados, como não tinha aula, passávamos o dia todo na rua. Nas manhãs de domingo íamos a missa; nas tardes, aos matinês dos cinemas. Havia pelo menos seis cinemas nas proximidades. Antes dos filmes, assistíamos a animações: Pica Pau, Tom e Jerry, Gato Felix, Dom Pixote, Zé Colmeia, Snoopy. Depois<a href="http://lh6.ggpht.com/-zuYschINslE/Tpc0TQ8JXwI/AAAAAAAAAeg/Aso9ugwxM8c/s1600-h/o%252520dia%252520em%252520que%252520a%252520terra%252520parou%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: 0px; border-left-width: 0px; margin-right: 0px" title="o dia em que a terra parou" border="0" alt="o dia em que a terra parou" align="right" src="http://lh3.ggpht.com/-NBskrOg7iHI/Tpc0TyzgFBI/AAAAAAAAAeo/_XUcOWgRVxQ/o%252520dia%252520em%252520que%252520a%252520terra%252520parou_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="169" height="240"></a> vinham os filmes de faroeste, com John Wayne, Gregory Peck, Richard Widmark; os de ficção científica, como <i>O dia em que a Terra parou</i>, <i>Guerra dos mundos</i>, <i>Planeta</i> <i>proibido</i>, <i>Vampiros de alma</i>, entre outros (todos refilmados recentemente); os épicos históricos e religiosos, como <i>Quo Vadis</i>, <i>Ben-Hur</i>, <i>Spartacus</i>, <i>Lawrence</i> <i>da</i> <i>Arábia</i>, <i>Cleopatra</i>, além das comédias e dos romances. O legal era levar aquele monte de revistas em quadrinhos pra trocar no intervalo entre os dois filmes que passavam. E era com algumas dessas revistas que tínhamos contato com cowboys famosos (Roy Rogers, Durango Kid, Tom Mix, Buffalo Bill, Buck Jones, Hopalong Cassidy) e com super heróis, não orientais, mas norte-americanos: Super Homem, Batman, Fantasma, Homem de Ferro, Capitão América, etc. Pelo jeito, estes continuam “emocionando” também as crianças de hoje, pois volta e meia um deles aparece nas telas do cinema. <br><a href="http://lh3.ggpht.com/-hR9C7OlmIr4/Tpc0UYcWYiI/AAAAAAAAAew/c7QfRQ2vkv8/s1600-h/citroen%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: 0px; border-left-width: 0px; margin-right: 0px" title="citroen" border="0" alt="citroen" align="left" src="http://lh4.ggpht.com/-ZT_NH5WyVUs/Tpc0U5LF5qI/AAAAAAAAAe4/ydYV8JRozRc/citroen_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="145"></a> No caso específico da minha família, no verão passávamos alguns dias em Ipanema — não no Rio de Janeiro, mas no bairro homônimo de Porto Alegre —, onde tínhamos um chalé. Como era longe! O Citroën do meu pai ia lotado. Outras vezes, íamos de barca à praia da Alegria, no outro lado do Guaíba. Isso quando eu não ia pescar com meu pai na Ilha da Pintada. Voltávamos sem peixe algum, pois os devolvíamos para a água... <br> Tomo a liberdade de reproduzir o texto que minha amiga Sandra Fagundes postou ontem, Dia das Crianças, no Facebook. <blockquote> <p><i>“Quando eu era criança gostava de dias de chuva, às vezes a nossa rua inundava e a gente tomava uns banhos de piscina, banho de mangueira, de tanque, de bexiguinha, ficava o dia inteiro montando casinha e depois tinha que desmanchar tudo porque a mãe chamou...odiava comer e dormir porque era perda de tempo, brincava de 5 marias, elástico, polícia-ladrão. E tem um detalhe eu tinha um grandalhão palh... aço que aprontava junto. Meu pai. Ele fez os móveis da Susy, a minha mãe fez as roupinhas, dia da criança tinha brincadeiras especiais....Não pude ser tudo isso para meus filhos, a correria nem sempre deixou, a vida mudou, entraram os eletrônicos, mas fui a quase todos os lugares que achei que não podiam faltar... Agora espero pelos netos e com eles sim certamente vou voltar a ser criança... Gracias a la vida...”</i> </p></blockquote> <p> Ela tem uns quinze anos a menos do que eu (me perdoa se for mais, Sandra), mas se vê que ainda na época em que ela foi criança as brincadeiras ao ar livre e a liberdade para viver eram bem maiores do que as das crianças nas décadas de 80 e 90 e das de hoje em dia. <br><a href="http://lh4.ggpht.com/-bzP1UGqBdRQ/Tpc0VfjDEjI/AAAAAAAAAfA/T2vWGXteKhw/s1600-h/bal%2525C3%2525A3o%252520m%2525C3%2525A1gico%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: 0px; border-left-width: 0px; margin-right: 0px" title="balão mágico" border="0" alt="balão mágico" align="right" src="http://lh6.ggpht.com/-SKcPv9X_ktk/Tpc0WEXWLDI/AAAAAAAAAfI/tS6xKD8a2N4/bal%2525C3%2525A3o%252520m%2525C3%2525A1gico_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="204"></a> Meus filhos foram criança na década de 80. Posso dizer que não tiveram a mesma sorte que eu, de terem sido criados em uma casa, pois sempre viveram em apartamento. E no Bom Fim, bairro movimentado. Não tinham uma pracinha em frente à casa, mas curtiram a Redenção; também podiam ir a pé para as respectivas escolas e chegaram a pegar alguns matinês no Baltimore. Sem fanatismos, foram baixinhos da Xuxa, como todos daquela época. Se eram felizes com aquilo, não seria eu a censurá-los. Afinal, cresceram e são felizes, mesmo tendo assistido à Xuxa, ao He-Man e aos Thundercats na TV. <br> Acho que a criançada de hoje, mesmo sem jogar bola na calçada ou soltar pandorga na pracinha — e sem assistir ao anime do Shurato —, além de não ser digna de “pena”, será feliz no futuro, porque, a seu tempo, diverte-se e passa o tempo com excelentes videogames, computadores e internet. <br> Quem sou eu, então, pra dizer que as coisas do meu tempo eram melhores que as de hoje? A única diferença é que eu “vivi” e “vi” coisas que não se vive e não se vê hoje. </p> <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-20551490106485035682011-09-27T20:47:00.002-03:002011-09-27T20:49:11.833-03:00Para evitar recidivas I<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Muitos já leram a expressão do título em bulas de medicamentos, geralmente para doenças infecciosas. Recidiva é o substantivo feminino do adjetivo recidivo, que é aquele que reincide, que torna a errar, ou aquilo que reaparece (no caso de um sintoma ou doença). Em direito penal recidiva é, então, uma recaída na mesma falta, no mesmo crime; reincidência. Em medicina, é o reaparecimento de uma doença ou de um sintoma, após período de cura mais ou menos longo; recorrência. <br> Vai daí que devem estar me perguntando: tá, e daí? Daí que respondo: é que nas próximas duas postagens vou falar sobre alguns emails que, volta e meia (leia-se há alguns anos), reaparecem na minha caixa de entrada, ou seja, são recidivas de uma infecção viral que vou classificar como ignorância. <br> Um deles é sobre um benefício pago pela previdência social chamado “auxílio-reclusão”; outro é sobre uma tal de “justiça volante”; e por fim um sobre uma emenda à Lei nº 11.915, que instituiu o Código Estadual de Proteção aos Animais, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul. </p> <p align="center"><b>.:: o ::.</b> </p> <p> Eu já li várias vezes na internet que é para desconfiar de emails com textos sensacionalistas, em que o autor usa muitas exclamações ou interrogações ao final das frases. Pois nesses três casos, os textos dos emails são assim. <p>Nesta postagem vou tratar do auxílio-reclusão e da justiça volante. <p><b>AUXÍLIO-RECLUSÃO</b></p></div> <p></p> <p> <div style="text-align: justify; color: #000000; font-size: 12px"> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="5" width="500" bgcolor="#cccccc" align="center"> <tbody> <tr> <td valign="top"> <p>Assunto: Portaria nº 48, de 12/2/2009, do INSS</p></td></tr> <tr> <td valign="top" width="576"> <p>DIVULGUEM AO MÁXIMO <p>Incrível !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! <p>As Centrais Sindicais chiaram com o "aumento" do salário mínimo p/ R$ 545,00, porém não estão discordando do aumento do "salário presidiário" para R$ 810,00! <br>Será que os sindicalistas e os governantes do Brasil acreditam que um criminoso merece uma remuneração superior a de um trabalhador???? <br>A REFERIDA PORTARIA JÁ FOI REVOGADA PELA DE Nº 333, DE 1º/06/2010 NA QUAL O VALOR DO SALARIO FAMILIA PRESIDIARIO PASSOU A SER DE R$ 810,18 ! ! ! E TEM MAIS. . . <br>NO CASO DE MORTE DO "POBRE PRESIDIÁRIO", A REFERIDA QUANTIA DO AUXÍLIO- RECLUSÃO PASSA A SER "PENSÃO POR MORTE". <br>O GRANDE LANCE É ROUBAR OU MATAR PARA SER PRESO E ASSIM SUSTENTAR CONDIGNAMENTE A SUA PROLE. <br>ISTO É INADMISSÍVEL ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! INCENTIVO À CRIMINALIDADE ! ! <p>Você sabe o que é o AUXÍLIO RECLUSÃO? <p>Todo presidiário com filhos tem direito a uma bolsa que, a partir de 1/1/2010 é de R$ 798,30 por filho para sustentar a família, já que o coitadinho não pode trabalhar para sustentar os filhos por estar preso. Mais que um salário mínimo que muita gente por aí rala pra conseguir e manter uma família inteira. <br>Ou seja, (falando agora no popular pra ser entendido): <br>Bandido com 5 filhos, além de comandar o crime de dentro das prisões, comer e beber nas costas de quem trabalha e/ou paga impostos, ainda tem direito a receber auxílio reclusão de R$ 3.991,50 da Previdência Social. <br>Qual pai de família com 5 filhos recebe um salário suado igual ou mesmo um aposentado que trabalhou e contribuiu a vida inteira e ainda tem que se submeter ao fator previdenciário? <br>Mesmo que seja um auxílio temporário, prisão não é colônia de férias. <br>Isto é um incentivo a criminalidade. Que politicos e que governo é esse????? <br>Não acredita? <br>Confira no site da Previdência Social. <p>Portaria nº 48, de 12/2/2009, do INSS <br>http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22 <p>Pergunto-lhes: <p>1. Vale a pena estudar e ter uma profissão? <br>2. Trabalhar 30 dias para receber salário mínimo de R$545,00, fazer malabarismo com orçamento pra manter a família? <br>3. Viver endividado com prestações da TV, do celular ou do carro que você não pode ostentar pra não ser assaltado? <br>4. Viver recluso atrás das grades de sua casa? <br>5. Por acaso os filhos do sujeito que foi morto pelo coitadinho que está preso, recebe uma bolsa de R$798,30 para seu sustento? <br>6. Já viu algum defensor dos direitos humanos defendendo esta bolsa para os filhos das vítimas? <p>MOSTRE A TODOS O QUE OCORRE NESSE PAÍS!!!</p></td></tr></tbody></table> <p></p> <p>(Obs: não formatei com as cores e o tamanho da fonte do email original)</p></div> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Pois bem, recebi de novo esse email nessa semana, acho que pela 20º vez, como tem acontecido desde o primeiro mandato do presidente Lula. A aberração começa pelo “assunto”: Portaria nº 48, de 12/2/2009, do INSS. Ora, estamos em setembro de 2011 e o número das portarias do INSS já deve andar pela casa dos 500. Depois de várias interjeições e expressões entre aspas, o autor pergunta se o leitor sabe o que é o auxílio-reclusão. Na primeira linha diz que é uma “bolsa” de R$ 798,30 que, a partir 01/01/2010 todo presidiário com filho tem direito. <br> Ué? A data não era 12/02/2009? O valor não era R$ 810,00 como diz no começo do email? <br> Em seguida, diz que um bandido com cinco filhos recebe R$ 3.991,50 da Previdência Social (Isso é o resultado de R$ 798,30 vezes 5). <br> Logo após, deduz que esse benefício é um “incentivo à criminalidade”, questiona que políticos e que governo <i>é esse</i> (SIC) e dá um link para o leitor conferir no site da Previdência Social. Como normalmente os leitores não conferem, acabam passando adiante a mensagem e junto com ela um atestado de ignorância. Se conferissem, veriam que não é nada disso que está posto no email. <br> Sugiro que o meu leitor confira clicando <a href="http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22" target="_blank">aqui</a>. Se, no entanto, não quiser, dou uma breve explicação. <br> “O auxílio-reclusão é um benefício devido aos dependentes do segurado recolhido à prisão, durante o período em que estiver preso sob regime fechado ou semi-aberto. Não cabe concessão de auxílio-reclusão aos dependentes do segurado que estiver em livramento condicional ou cumprindo pena em regime aberto. <br> Para a concessão do benefício, é necessário o cumprimento dos seguintes requisitos: <blockquote> <p>- o segurado que tiver sido preso não poderá estar recebendo salário da empresa na qual trabalhava, nem estar em gozo de auxílio-doença, aposentadoria ou abono de permanência em serviço;<br>- a reclusão deverá ter ocorrido no prazo de manutenção da qualidade de segurado;<br>- o último salário-de-contribuição do segurado (vigente na data do recolhimento à prisão ou na data do afastamento do trabalho ou cessação das contribuições), tomado em seu valor mensal, deverá ser igual ou inferior aos seguintes valores, independentemente da quantidade de contratos e de atividades exercidas, considerando-se o mês a que se refere: (segue-se uma tabela de valores, cujo mais recente é a partir de 15/7/2011 – R$ 862,60 – Portaria nº 407, de 14/07/2011.)” <a href="http://lh3.ggpht.com/-bxHgkINSCzM/ToJgcDBsiYI/AAAAAAAAAd4/2qq1NPL9JCM/s1600-h/reclus%2525C3%2525A3o%25255B5%25255D.jpg"><img title="reclusão" border="0" alt="reclusão" align="right" src="http://lh5.ggpht.com/-JbXOSOksQG4/ToJgc1AbnAI/AAAAAAAAAd8/HphAcs9pvmQ/reclus%2525C3%2525A3o_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="172" height="400"></a></p></blockquote> <p> Enfim, só têm direito ao benefício quem for <b>SEGURADO</b>, ou seja, quem contribui mensalmente para a Previdência Social, o auxílio é limitado a quem ganha até R$ 862,60, e este valor é <b>dividido entre todos os dependentes</b> (no caso do exemplo do email, cada filho ganharia R$ 172,52). <br> Você acha que aquele assaltante contumaz, que rouba carteiras, cordões de ouro, celulares, etc. contribui mensalmente com 20% do resultado do seu trabalho para o INSS (desde que seus assaltos rendam até R$ 862,60, é óbvio)? Por outro lado, os grandes traficantes, mesmo que contribuam mensalmente para a previdência, têm vencimentos superiores ao teto do auxílio-reclusão. <br> De acordo com o site <a href="http://www.observatoriosocial.org.br/conex2/?q=node/3678" target="_blank">Observatório Social</a>, esse benefício é do tempo dos Institutos de Aposentadoria e Pensões, começou no dos marítimos (IAPM) e tinha também o dos bancários (IAPB). O benefício foi mantido na Lei nº 3.807, de 26 de agosto de 1960, e está previsto no inciso IV do artigo 201 da Constituição Federal de 1988. <br> O auxílio-reclusão é, portanto, muito anterior à chegada de Lula à presidência, como quis fazer crer o autor do email e seus encaminhadores. <br> Percebe-se que o autor do email é um sujeito esquentadinho. Basta ver a quantidade de exclamações e maiúsculas no seu texto. Queira Deus que seu temperamento não faça com que — se ainda estiver vivo — um dia desentenda-se com o amante de sua esposa e desfira-lhe um tiro na cara. Se, no entanto, isso acontecer e for preso, seus dependentes receberão o auxílio-reclusão, desde que seus rendimentos mensais não sejam superiores a R$ 862,60. <br> Dados divulgados pelo Conselho Nacional de Justiça indicam que a população carcerária brasileira é de quase 495 mil presos. O Boletim Estatístico da Previdência Social, por sua vez, diz que foram pagos 18.833 benefícios do tipo auxílio-reclusão em 2010. Isso quer dizer que 3,8% dos presos receberam o auxílio-reclusão no ano passado, com uma média de R$ 658,83 por mês para cada detento. <br> A propósito: este benefício existe em países ditos “civilizados”, de “primeiro mundo” ou seja qual for o qualificativo que os detratores do Brasil preferirem usar para classificar outras nações. <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p><b>JUSTIÇA VOLANTE</b> <p> Esse email não é mal-intencionado, apenas denota que seus encaminhadores ouviram o galo cantar, mas não sabem onde (nem tentaram descobrir). </p> <div style="text-align: justify; color: #000000; font-size: 12px"> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="5" width="500" bgcolor="#cccccc" align="center"> <tbody> <tr> <td valign="top" width="576"> <p>Esta é informação real, já conferi... <br>Olha a gente perdendo o Direito por não utilizar. <br>JUSTIÇA VOLANTE (VALE A PENA SABER E DIVULGAR). <br>O novo número da JUSTIÇA VOLANTE : é 0800 644 2020. <p>Sabe aqueles acidentes de trânsito chatos, discussões sobre de quem é a culpa, etc & etc..Há um serviço público chamado Justiça Volante. Se você se envolver em acidente de trânsito, ligue 0800-644-2020. São cinco viaturas equipadas com Juizado de Pequenas Causas, e, oficialmente, todo mundo sai de dentro da Van como se tivesse saído de um tribunal. <br>Parece que o serviço está prestes a acabar simplesmente porque ninguém liga. Ninguém conhece. Transmita para quem puder, e guarde o número em seu celular. <p>IMPORTANTE SABER E REPASSAR AO MÁXIMO. <p>Gostaria muito que esta informação chegasse ao máximo de pessoas que você conhece. Este é o tipo de informação que 'é direito do povo', mas que o povo não sabe! Fora que esse dinheiro com certeza deve ir para o bolso de alguém, se não for, deve ajudar de alguma forma negativamente para quem tem veículos furtados ou roubados! </p></td></tr></tbody></table></div> <p></p> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Esse texto não está cheio de pontos de exclamação e nem grita com muitas maiúsculas. Só que o autor/encaminhador mentiu ao dizer que conferiu a informação: isso nunca existiu no Rio Grande do Sul... <br> A Justiça Volante foi criada no Espírito Santo, há 15 anos, como juizado especial, pelo magistrado Pedro Valls Feu Rosa e serviu de modelo para outros estados. Além de estar presente em municípios da Grande Vitória (ES), é encontrada em Aracaju (SE), Cuiabá (MT), João Pessoa (PB) e Distrito Federal. <br> Confira clicando <a href="http://www.quatrocantos.com/LENDAS/153_justica_volante.htm" target="_blank">aqui</a>. <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p>Na próxima postagem vou falar sobre sacrifício de animais. Clique e leia “<a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com/2011/09/para-evitar-recidivas-ii.html">Para evitar recidivas II</a>”.</p> <p></p></div> <p></p></div>Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-76333849575589115732011-09-27T20:43:00.002-03:002011-09-27T20:50:01.519-03:00Para evitar recidivas II<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 12px">(Continuação de “<a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com/2011/09/para-evitar-recidivas-i.html">Para evitar recidivas I</a>”)</div> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p><b>SACRIFÍCIO DE ANIMAIS</b></p> <p> Em julho de 2004, o então governador do RS, Germano Rigotto, sancionou projeto de lei acrescentando parágrafo único a um dos artigos do Código Estadual de Proteção aos Animais, com a seguinte redação: “Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos cultos e liturgias das religiões de matriz africana”. A proposta de inclusão do parágrafo foi do então deputado Edson Portilho (PT). <br> O Código Estadual de Proteção aos Animais foi instituído pela Lei nº 11.915, de maio de 2003. <br> Na ocasião, foi geral a gritaria dos defensores dos animais. Saltaram abaixo-assinados de tudo quanto foi lado para tentar proibir a inclusão do parágrafo, sob a alegação que assim se estaria permitindo tortura e sacrifício de animais em rituais religiosos. Essas pessoas “politicamente corretas” acabaram fazendo juízes e desembargadores perderem seu tempo, mas não levaram e o texto da lei ficou como sancionado pelo governador. <br> Pois bem, como nos exemplos anteriores (leia “Para evitar recidivas I”), gente que passa a vida ouvindo o galo cantar sem saber onde, resolveu “noticiar” o fato como se novo fosse. A “informação” passou dos emaisl ao facebook, com títulos do tipo “Aprovada Lei que permite TORTURA de animais”; “VAMOS COMPARTILHAR! NÃO DEIXE QUE UM ANIMAL COMO ESTE DESTRUA A PRÓPRIA RAÇA!”. Como alguns(as) “amigos(as)” meus publicaram em seus murais a “novidade”, fui atrás do divulgador. Descobri um cara que provocou nada mais nada menos do que 11.507 compartilhamentos, 11.704 comentários e 13.940 pessoas curtiram sua postagem. Se acrescentarmos aí os que compartilharam os compartilhamentos, a que número chegaremos? <br> De acordo com o Art. 2º da Lei que instituiu o Código Estadual de Proteção aos Animais, é vedado: <blockquote> <p>I - ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência;<br>II - manter animais em local completamente desprovido de asseio ou que lhes impeçam a movimentação, o descanso ou os privem de ar e luminosidade;<br>III - obrigar animais a trabalhos exorbitantes ou que ultrapassem sua força;<br>IV - não dar morte rápida e indolor a todo animal cujo extermínio seja necessário para consumo;<br>V - exercer a venda ambulante de animais para menores desacompanhados por responsável legal;<br>VI - enclausurar animais com outros que os molestem ou aterrorizem;<br>VII - sacrificar animais com venenos ou outros métodos não preconizados pela Organização Mundial da Saúde - OMS -, nos programas de profilaxia da raiva. </p></blockquote> <p>Parágrafo único - Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos cultos e liturgias das religiões de matriz africana. (Incluído pela Lei n° 12.131/04) <p> Ocorre que na mesma ocasião em que o governador sancionou Lei 12.131, também assinou o Decreto nº 43.252, que em seu Art. 2º diz que “Para o exercício de cultos religiosos, cuja liturgia provém de religiões de matriz africana, somente poderão ser utilizados animais destinados à alimentação humana, sem utilização de recursos de crueldade para a sua morte.” <br> Ora, por acaso os fiéis do candomblé e da umbanda transgridem alguma das alíneas do código? Se acharem que sim, sugiro aos fundamentalistas defensores que pesquisem sobre crueldade em aviários. <br> Percebe-se, então, que desde maio de 2003 — ou seja, há oito anos — além de ofender por emails ou por redes sociais o ex-deputado Edson Portilho, alguns vêm exacerbando seu preconceito contra religiões de matriz africana, mais uma vez ouvindo o galo cantar sem saber onde. <br> As pessoas têm medo do que não conhecem, e fantasiam demasiadamente sobre o desconhecido, passando tabus e preconceitos de geração em geração. Muitos associam as religiões de matriz africana ao mal. Imaginam que os animais são “cruelmente torturados” nos sacrifícios dos seus cultos, aos quais os ignorantes classificam como “bruxaria”. No candomblé e na umbanda o ritual é realizado por uma pessoa especializada no sacrifício, o Axogun, que tem tal função na hierarquia sacerdotal ou, na sua falta, o babalorixá. O Axogun <b>NÃO PODE DEIXAR O ANIMAL SENTIR DOR OU SOFRER</b>, porque a oferenda não seria aceita pelo Orixá. O objeto do sacrifício, que é sempre um animal, muda conforme o Orixá ao qual é oferecido; trata-se, conforme a terminologia tradicional, ora de um animal de duas patas, ora de um animal de quatro patas, galinha, pombo, bode, carneiro. Na realidade não se trata de um único sacrifício: sempre que se fizer um sacrifício a qualquer Orixá, deve ser antes feito um para Exu, o primeiro a ser servido.<br> E, atenção: nenhuma parte do animal é jogada fora! O couro é usado para encourar os atabaques, o animal inteiro é limpo e cortado em partes, algumas partes são preparadas para os Orixás e o restante é destinado aos demais. Tudo é aproveitado: até a porção oferecida aos Orixás é posteriormente distribuída entre os filhos da casa como o inché do Orixá. É usada para confraternização: unem-se os filhos a comer com o pai ou mãe, havendo repartição do Axé gerado pelo Orixá.<br>(<a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Sacrif%C3%ADcio#Sacrif.C3.ADcio_no_Candombl.C3.A9" target="_blank">http://pt.wikipedia.org/wiki/Sacrif%C3%ADcio#Sacrif.C3.ADcio_no_Candombl.C3.A9</a>) <br> De acordo com o advogado Antonio Basílio Filho (Ogan Basílio de Xangô), vice-presidente do Superior Órgão de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo e diretor jurídico da União de Tendas de Umbanda e Candomblé do Brasil, em artigo publicado na Revista Orixás Candomblé e Umbanda, Ano II, Nº 6 (Editora Minuano), “o sacrifício dos animais é ritual de consagração, em que apenas o sangue é ofertado às entidades superiores, pois o produto final da carne dos animais abatidos é consumido pelos próprios autores da oferenda ou distribuído a entidades assistenciais e pessoas carentes, servindo a carne de alimento exatamente como a carne bovina, suína ou das aves abatidas em matadouros sem que, entretanto, aqui, na prática religiosa, esteja presente o componente econômico que está presente na atividade daqueles que fazem o abate visando, exclusivamente, o lucro advindo da exploração dos animais.” <br>(<a href="http://www.umbandaemfoco.com.br/modules.php?name=Conteudo&file=index&pa=showpage&pid=128" target="_blank">http://www.umbandaemfoco.com.br/modules.php?name=Conteudo&file=index&pa=showpage&pid=128</a>) <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p>Se você quer saber o que é tortura e crueldade contra animais, clique <a href="http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&newwindow=1&biw=1280&bih=564&gbv=2&tbm=isch&sa=1&q=crueldade+animais&oq=crueldade+animais&aq=f&aqi=g1&aql=1&gs_sm=e&gs_upl=38203l41718l0l42750l17l15l0l5l5l1l438l1829l2-6.0.1l7l0" target="_blank">aqui</a>. <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p> Espero, portanto, que pelo menos os leitores dessas duas últimas postagens nunca mais repassem emails falando mal do ex-deputado Edson Portilho (hoje em dia ele é vereador em Sapucaia do Sul) e sua emenda à lei que instituiu o Código Estadual de Proteção aos Animais, bem como parem de tratar o auxílio-reclusão como um ato absurdo do governo petista. <br> Evitem recidivas! </p> <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p>Clique e leia “<a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com/2011/09/para-evitar-recidivas-i.html">Para evitar recidivas I</a>” </p></div>Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-24704610109196126452011-09-25T11:17:00.001-03:002011-09-25T11:17:20.145-03:00Jaguarão<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Estive em Jaguarão. Precisava repor o estoque de vinho, Amarula, Carolina Herrera e Hugo Boss. Escolhi a hora errada: o dólar subia feito louco. Azar. Se continuar alto quando vier a fatura do cartão de crédito, posso dizer que valeu pelo passeio e pela companhia de Clara, minha mulher, excelente companheira em todos os sentidos, inclusive de viagem.</p> <p><a href="http://lh4.ggpht.com/-fb1-FCJA28k/Tn831p7Oi8I/AAAAAAAAAdI/S0l_PoP8stU/s1600-h/Jaguarao%25255B5%25255D.png"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: 0px; border-left-width: 0px; margin-right: 0px" title="Jaguarao" border="0" alt="Jaguarao" align="left" src="http://lh4.ggpht.com/-kfLwi_lAOcU/Tn832FKARXI/AAAAAAAAAdM/GCmBcDG3sOw/Jaguarao_thumb%25255B3%25255D.png?imgmax=800" width="173" height="167"></a> Vamos nos situar: Jaguarão fica no extremo sul do Rio Grande do Sul e faz fronteira com a cidade de Rio Branco, no Uruguai. A divisão entre os dois países é determinada pelo rio Jaguarão, cujo curso tem 270 quilômetros. A travessia para o lado uruguaio e vice-versa é feita pela Ponte Internacional Barão de Mauá, que tem uma extensão de 870 metros e sobre a qual há departamentos da Aduana uruguaia e da Receita Federal brasileira. </p> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/-uzI4nQdGNPM/Tn832r2dCNI/AAAAAAAAAdQ/jn3y1vD_zHM/s1600-h/ponte%252520jaguar%2525C3%2525A3o%25252001%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="" border="0" alt="" src="http://lh6.ggpht.com/-tgnlwSgBDa0/Tn833frZT0I/AAAAAAAAAdU/rFJG47lpdeo/ponte%252520jaguar%2525C3%2525A3o%25252001_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="333"></a> <p><a href="http://lh5.ggpht.com/-43xKDUPDPvs/Tn83381qJPI/AAAAAAAAAdY/SmU0dY5HGgA/s1600-h/placa%252520na%252520ponte%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: 0px; border-left-width: 0px; margin-right: 0px" title="" border="0" alt="" align="right" src="http://lh5.ggpht.com/-1yejH69kv2U/Tn834V6gQ2I/AAAAAAAAAdc/eqrOjnYZiAI/placa%252520na%252520ponte_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="160"></a> Foi o Barão do Rio Branco que emprestou seu nome à cidade do lado uruguaio, pertencente ao Departamento de Cerro Largo, onde, em uma só rua, estão localizadas várias lojas do sistema <i>free shop</i>. Cada brasileiro pode comprar até um limite de 300 dólares americanos. As mercadorias são de primeira qualidade e os preços, livres da pesada carga tributária brasileira, são bem menores dos que os praticados aqui. <br> Das cidades de fronteira com a característica de ser zona de <i>free shops</i>, Jaguarão é a mais próxima de Porto Alegre: 383 km. Aceguá — que divide com cidade do mesmo nome no Uruguai — fica a 428 km; Santana do Livramento — que faz fronteira com Rivera — fica a 489 km; e Chuí — que faz divisa com Chuy —, a 517 km. Em termos de área e população, Jaguarão perde pra Livramento. Santana do Livramento é maior e mais populosa: 6.950 km² e 83 mil habitantes. Jaguarão tem 2.054 Km² e cerca de 28 mil habitantes. Aceguá (1.549 km²) é maior do que Chuí (203 km²), mas tem população menor: quatro mil contra cinco mil habitantes. <br> De acordo com dados da Biblioteca do IBGE, o nome Jaguarão é uma corruptela de Jaguanharo (tupi): cão bravo ou onça feroz; ou, segundo Alfredo de Carvalho, aumentativo português de jaguar. <br> Em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso, a área do atual município de Jaguarão ficava em terras espanholas. As origens da cidade remontam a 1802 num acampamento militar fundado às margens do Rio Jaguarão pelo tenente-coronel Manuel Marques de Sousa (como, aliás, começaram vários municípios do Rio Grande do Sul). <br> Deve seu primitivo nome, Guarda da Lagoa e do Cerrito, a um posto fortificado dos espanhois, situado a seis quilômetros da atual cidade de Jaguarão. Ali, em 1801, devido a questões militares entre Portugal e Espanha, estabeleceram-se as forças do Coronel Marques de Sousa. Ajustada a paz em virtude de armistício, a coluna Marques de Sousa retirou-se, ficando apenas uma pequena guarda de 200 homens, sob o comando do tenente-coronel Jerônimo Xavier de Azambuja. Em janeiro de 1812 foi criado o distrito com a denominação Divino Espírito Santo do Cerrito. Ainda com esse nome foi elevado à categoria de vila, em julho de 1832. Finalmente, tornou-se cidade com a denominação de Jaguarão, em novembro de 1855. <br> Jaguarão tomou parte destacada em diversos acontecimentos militares de nossa história, entre os quais a Revolução Farroupilha, em 1835, e a Invasão Uruguaia de 27 de janeiro de 1865, quando 1.500 caudilhos “blancos” invadiram e saquearam a cidade, chefiados por Basílio Munhoz. <br> As estradas de Porto Alegre até lá são razoáveis. Trafega-se pela BR 290 e BR 116. Nos pouco mais de 380 quilômetros, em quatro horas e meia de viagem passa-se por seis praças de pedágio na ida (R$ 36,90) e cinco na volta (R$ 29,40), totalizando R$ 66,30. Um pouco antes de entrar na cidade de Jaguarão fomos parados pelo exército, numa barreira da operação Ágata II, que visa fiscalizar o comércio ilegal de armas, explosivos, drogas, agrotóxicos, produtos eletrônicos e o escambau. Só olharam nossos documentos e o documento do carro. E se o porta-malas estivesse cheio de alguma dessas coisas? <br> Jaguarão parece ainda viver sua história. Existem mais de 800 prédios catalogados na Prefeitura Municipal por suas fachadas, que conservam vários estilos arquitetônicos. A cidade é conhecida pelas portas desses prédios dos séculos XIX e XX, muitos deles ainda servindo como residência. Dentre elas, destaca-se a do senhor Jean Macksoud, que possui a porta considerada a mais bonita do Estado. Quem quiser se aprofundar no estudo da arquitetura de Jaguarão, sugiro a leitura de <a href="http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4458/000501515.pdf?sequence=1" target="_blank">Ecletismo Arquitetônico em Jaguarão: um estudo</a>, dissertação de mestrado de Lidiane Corrêa Ensslin apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRGS. <p><a href="http://lh4.ggpht.com/-nhT5HfsRyL8/Tn834w9lmQI/AAAAAAAAAdg/g8Rmz979UAM/s1600-h/casa%25252001%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="" border="0" alt="" src="http://lh3.ggpht.com/-r8qjx_zH6lY/Tn835caqqaI/AAAAAAAAAdk/RVPQFh3TkrQ/casa%25252001_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="333"></a> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/-aNUNRMfh1DQ/Tn8354LrDKI/AAAAAAAAAdo/6Bd9Y3B3i54/s1600-h/casas%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="" border="0" alt="" src="http://lh4.ggpht.com/-8RlVJE1h0xc/Tn836YGX8-I/AAAAAAAAAds/7_hiu0BnChM/casas_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="335"></a> <p><a href="http://lh4.ggpht.com/-ICZxztexJWo/Tn836zw57pI/AAAAAAAAAdw/ex_Q5XT5tp0/s1600-h/portas%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="" border="0" alt="" src="http://lh5.ggpht.com/-y0irXqhV4t4/Tn837rnzkKI/AAAAAAAAAd0/Dy2re4Z9UBU/portas_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="750"></a> <p> Quem vai a Jaguarão para fazer compras nos <i>free shops</i> de Rio Branco encontra pelo menos 15 opções de hospedagem. Destacam-se nesse setor o Hotel Sinuelo, com 45 apartamentos, e o Crigial Hotel. Ambos são próximos à Ponte Barão de Mauá. Há também cerca de 15 restaurantes à disposição dos turistas para almoço, com destaque para o Red’s Restaurante, com seu buffet a quilo e grelhados. À noite, as opções se resumem a umas duas ou três pizzarias, destacando-se a Pizza Mia. Mas a <i>point</i> mesmo é a Panificadora PaneMio, um lugarzinho bem agradável, que serve lanches deliciosos. Como tudo tem pelo menos um problema, a PaneMio não deixa por menos: além de ser um local com poucas mesas, o lanche, seja qual for — uma torrada, um cheese, um bauru —, demora no mínimo meia hora pra ficar pronto. É uma pena... <br> Feitas as compras, retornamos. Dessa vez o exército nos deixou passar na barreira. E se o porta-malas estivesse cheio de contrabando ou descaminho? </p></div> <div style="text-align: justify; font-size: 12px"> <p>________________<br>Fontes: <br><a href="http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/riograndedosul/jaguarao.pdf">http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/dtbs/riograndedosul/jaguarao.pdf</a> <br><a href="http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4458/000501515.pdf?sequence=1">http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/4458/000501515.pdf?sequence=1</a> </p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-75900991852589908172011-09-06T11:20:00.001-03:002011-09-06T11:20:58.010-03:00Ademã, que eu vou em frente!<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Acordei domingo, 4 de setembro, com um ano a mais, completado às três da madrugada, hora em que surgi há 62 anos. Ao olhar no espelho, não notei no meu rosto diferenças de um passado recente. Nem sei quando minhas pálpebras começaram a debruçar-se sobre os olhos; quando algumas rugas começaram a emoldurá-los e outras, verticais, instalaram-se acima do nariz, entre as sobrancelhas que, por sinal, quase desapareceram; quando o bigode chinês acentuou-se e as bochechas derreteram sobre o pescoço; quando e por que comecei usar o cabelo cortado rente à cabeça; e quando a barba embranqueceu. Àquela hora da manhã, a cara no espelho me parecia a mesma de sempre. <br> Fiquei um tempinho me encarando, tentando descobrir há quanto tempo minha cara foi diferente daquela. Segui mecanicamente os passos cotidianos: lavei as mãos, pois acabara de desaguar as cervejas da noite anterior, passei uma água no rosto, escovei os dentes, apaguei a luz e fui preparar o café. Fiquei o tempo todo buscando uma imagem no passado, quando ainda não tinha, por exemplo, os vincos da testa. Pra isso, tinha que pensar em fatos. Lembrei, então de uma data em 1996, quando voltei a tocar numa banda de rock. Putz! Só pegando uma foto. Não me lembro como eu era... <br> Foi o que fiz. Peguei algumas fotos de outubro de 96, do show de reestreia de uma banda em que havia tocado na década de 60. Não estava muito diferente. A barba do mesmo tamanho, só que preta; os cabelos, já curtos, mas com um pouco mais de quantidade e também mais pretos. As fotos são muito pequenas. Não deu pra perceber se já existiam rugas. <br> Teria que voltar mais no tempo, procurar outra referência. Se um pulo de 15 anos pra trás não mostrou muita diferença, quem sabe saltar o dobro disso? Fui até 1980 e 1979, anos em que nasceram meus filhos. Ah! Agora se percebe diferença! Aquele da foto não é o mesmo que se olhava no espelho há poucos minutos. Cabelos mais compridos, barba bem aparada e escura, pele lisa, sem vincos. <br> Mas ainda não estava contente e queria saber quando os cabelos mudaram radicalmente. Fui avançando ano por ano naqueles velhos álbuns de fotos: 81, 82, 83, 84, 85, 86... Oba! Achei! De repente, não mais que de repente, em 1986, aqueles cabelos que subiam nas orelhas deixaram-nas descobertas! Eles estavam, então, espetados pra cima, cheios de gel. Lembrei-me da época e da ocasião que me fez cortá-los. Abrira um salão maneiro perto da minha casa, no Bom Fim, que várias celebridades provincianas andavam frequentando. Levei lá minha filha, então com sete anos, e meu filho, com seis, pra cortar os cabelos. Aceitei a sugestão do estilista, que cortou o longo cabelo loiro da minha filha como os de um punk (corte de cabelo que muitos jogadores de futebol usam hoje, ao qual chamam de moicano). Da nuca saía um belo rabo até a metade das costas. Com o meu filho ele fez parecido, mas não tão radical, mesmo porque ele nem tinha cabelos compridos. <br> Dias depois também fui lá cortar os cabelos e saí de lá com um jeitão de <i>yuppie</i>. Para os que talvez não saibam, um parênteses: segundo o Wikipédia, <i>yuppie</i> é uma derivação da sigla “YUP”, expressão inglesa que significa <i>Young Urban Professional</i> (Jovem Profissional Urbano). É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta, que, em geral, seguem as últimas tendências da moda. O termo <i>yuppie</i> descreve um conjunto de atributos e traços de comportamento que se constituíram num estereótipo comum nos EUA, Inglaterra e outros países do ocidente. <p><a href="http://lh4.ggpht.com/-AE5xE-NmUGE/TmYsRUdY4pI/AAAAAAAAAc8/lH_DbMLdVMg/s1600-h/clip_image002%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh3.ggpht.com/-UfGNYxrJ-Fg/TmYsSOzgjYI/AAAAAAAAAdA/1-Ip14pBZFk/clip_image002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="375"></a> <p> Puxa, me dei conta de que faz um quarto de século que meu corte de cabelo sofreu a tal mudança radical! Voltei a me olhar no espelho e fiquei a imaginar como estarão eles daqui a outros 25 anos. Sim, pois não pretendo me entregar e espero ter quase tanto futuro quanto já tenho de passado. <p> Por falar em futuro, como dizia Ibrahim Sued*: “Ademã, que eu vou em frente!” <p> </p></div> <div style="text-align: justify; font-size: 12px">______________ <br>* <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Ibrahim_Sued" target="_blank">http://pt.wikipedia.org/wiki/Ibrahim_Sued</a></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-8731651966810066362011-07-30T10:35:00.001-03:002011-07-30T10:35:08.573-03:002097: do meu bisneto pro meu trineto<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/-lrtSOTLd8jU/TjQIiM1q5HI/AAAAAAAAAcw/lHC2z_xFkDY/s1600-h/clip_image002%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh3.ggpht.com/-ms6FCKvSWow/TjQIiyzblwI/AAAAAAAAAc0/YJ56TnmbOsw/clip_image002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="375"></a> <p> Desculpe estar escrevendo, meu filho, mas é que a máquina holográfica estragou e não tive tempo de encomendar outra. Para de ler agora e usa o leitor de texto. É até melhor, pois assim me ouves sem deixar tuas tarefas. Pra que irias querer olhar pra essa minha velha cara e esse meu corpinho com mais de meio século? <br> Tua mãe, tua irmã e eu ansiamos tua volta. Estamos loucos que termine logo esse longo estágio prático. Tanto tempo longe da família só pra trabalhar noutro planeta! Até parece coisa do tempo do teu avô. Não sei se já te contei, mas, no tempo dele, quem se formava em Direito não poderia exercer a profissão se não fizesse uma prova para habilitar-se perante o conselho profissional (chamava-se Ordem dos Advogados). Acontece que a prova era tão difícil que só passavam cerca de cinco ou seis por cento dos candidatos. E olha que eram uns 120 mil que faziam a prova cada vez, no país todo! Isso, no entanto, é coisa do passado. <br> Sei que és bem informado aí em cima (ou embaixo, não sei, é questão de ponto de vista), com notícias diárias e quentinhas da Terra. Não te informam, contudo, sobre as coisas da nossa família. A primeira ruim: teu tio foi multado de novo por estar fumando na rua. Deves saber que, se for pego mais uma vez, perde o plano de saúde por um ano e, depois, tem que fazer todos aqueles exames chatos de novo pra voltar a ter assistência. Não sei até quando vão continuar com esse expediente. Já não bastava terem fechado todas as fábricas de cigarro e proibido a importação de tabaco da África? Depois que descobriram a cura e criaram a vacina contra o câncer poderiam deixar as pessoas voltarem a fumar livremente. Claro, desde que respeitassem lugares fechados, prédios, etc. como sempre foi. Mas na rua? Se um sujeito com mais de 60 como teu tio, que não tomou a vacina, ficar com câncer, grande merda, o tratamento de cura nem é tão dispendioso para o plano de saúde. Em todo caso, o velho rebelde vai ter que ficar ligado e fumar aqueles cigarros fedidos que ele mesmo fabrica só dentro da própria casa. Ainda bem que ele ganha bem, porque a multa é bem alta. <br> Enquanto isso, a farmácia daqui da rua está com um movimento fantástico: a última safra de <i>cannabis</i> foi bárbara, o produto é de alta qualidade e o preço baixou. Eu e tua mãe temos fumado uns três por dia. Aliás, eu estava com teu tio quando ele foi pego fumando na rua. Ele ainda disfarçou, jogou o cigarro longe e pegou meu baseado. Mas não adiantou. O mata-rato dele fede muito e o fiscal sentiu o cheiro nele. <br> No último fim de semana estive no litoral. O mar ainda não invadiu nossa casa, mas falta pouco. Fui lá pra retirar as últimas tralhas. O chato é que não dá pra chegar perto com o veículo. Tem muita areia úmida e pode-se perder a impulsão e atolar. Dá pena de ver aqueles prédios enormes e luxuosos, onde antes era a beira da praia, transformados em esqueletos. O pessoal dos pavimentos inferiores perdeu tudo. Os dos mais altos não conseguem chegar pra retirar suas coisas. Dizem que ladrões deram um jeito de chegar neles e levaram tudo o que tinha valor. <br> Em compensação, na região da fronteira, lá pros lados de Bagé, o deserto tá cada vez mais avançado. Acho que de onde estás deves ter uma visão boa dessa catástrofe. <br> O tempo continua quente. Finalzinho de julho e Porto Alegre registra uma média diária de 28 graus. Quando eu era bem pequeno, ainda peguei resquícios de inverno. Me lembro que nessa época tinha dias que fazia 16 ou 17 graus. Outro dia, mexendo numas caixas guardadas na garagem, achei umas fotografias do meu avô. Ele devia ter a tua idade e estava encasacado, com gorro e luvas de lã, na neve, num lugar chamado Bariloche, na Argentina. Lembro também que ele sempre dizia que queria morar no Nordeste, porque não aguentava mais o inverno gaúcho. <br> Além da máquina holográfica, outra coisa que estragou aqui em casa foi o sistema de reposição de mantimentos. Cada vez que se dava baixa de alguma coisa — azeite, manteiga, vinho, etc. —, em seguida chegavam duas unidades do mesmo produto, com uma diferença de uns cinco minutos entre a entrega de um fornecedor e de outro. Não sei de onde o computador tirou o segundo fornecedor. Até explicar que não era cavalo, já tinha comido um balde de milho. Finalmente, a administração mandou aqui um técnico do setor de reposição que deu um jeito. Eu atribuo esses problemas a uma interferência cada vez maior das explosões solares nos equipamentos eletrônicos. Enfim... <br> Meu filho, vou ter que parar agora porque tá na hora de levar tua avó ao médico. Todos os dias ela pergunta quando vais voltar desse planetinha fajuto, que é como ela chama a estação. A cabeça dela tá meio atrapalhada, mas o corpinho, apesar dos 86 anos, tá em dia. E não desiste de procurar outro marido. <br> Muitos beijos e abraços de nós todos. Aguardamos notícias. Tchau! <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-67311375677900830472011-07-25T16:51:00.001-03:002011-07-25T16:51:23.819-03:00Concerto do amor<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 12px"> <blockquote> <p><em>(Sugiro a leitura desse texto com a audição de “Concerto de Aranjuez – segundo movimento”, do compositor e pianista espanhol Joaquín Rodrigo, Marquês dos Jardins de Aranjuez, (22 de novembro 1901 – 6 de julho 1999). Apesar de ser cego desde jovem, ele atingiu grande sucesso e é considerado um dos compositores que mais popularizaram a guitarra na música clássica do século XX. Seu Concerto de Aranjuez é um dos pontos altos da música espanhola. <br>A melodia ficou popularmente conhecida a partir de 1967, quando o cantor francês Richard Anthony gravou a música chamada “Aranjuez Mon Amour”, com letra de Guy Bontempelli. <br>O tecladista e baixista do Led Zeppelin, John Paul Jones, usou parte do Concerto de Aranjuez durante uma improvisação da música “No Quarter”, na turnê de1977 da banda. <br>Som na caixa, olhar no monitor e pensamento no texto.)</em> </p></blockquote></div> <p align="center"><object classid="clsid:6BF52A52-394A-11D3-B153-00C04F79FAA6" id="WindowsMediaPlayer1" width="160" height="35" align="center"> <param name="URL" value="http://www.centrosaintgermain.com.br/aldo/Aranjuez Mon Amour - Werner Muller and His Orchestra.mp3" ref="" /> <param name="rate" value="1" /> <param name="balance" value="" /> <param name="currentPosition" value="0" /> <param name="defaultFrame" value="value" /> <param name="playCount" value="19" /> <param name="autoStart" value="0" /> <param name="currentMarker" value="0" /> <param name="invokeURLs" value="-1" /> <param name="baseURL" value="" /> <param name="volume" value="100" /> <param name="mute" value="0" /> <param name="uiMode" value="mini" /> <param name="stretchToFit" value="0" /> <param name="windowlessVideo" value="0" /> <param name="enabled" value="-1" /> <param name="enableContextMenu" value="-1" /> <param name="fullScreen" value="0" /> <param name="SAMIStyle" value="" /> <param name="SAMILang" value="" /> <param name="SAMIFilename" value="" /> <param name="captioningID" value="" /> <param name="enableErrorDialogs" value="0" /> <param name="_cx" value="4075" /> <param name="_cy" value="4366" /> </object></p> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><a href="http://lh5.ggpht.com/-GEnV_tUhtec/Ti3JNr51yXI/AAAAAAAAAco/YYIZ-7NGIR0/s1600-h/clip_image002%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh5.ggpht.com/-PGiouMLpJYA/Ti3JOoRZczI/AAAAAAAAAcs/DPzYLuy3L-U/clip_image002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="375"></a> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> Era uma nota musical que vivia saltando pelas linhas dos pentagramas vazios a procura de uma música, Poderia ser qualquer nota com qualquer valor: dó, sol, mi, fá, fusa, colcheia, semicolcheia, breve, semibreve... Queria soar por qualquer instrumento em qual tipo de música e ritmo que fosse. Poderia ser um metal vibrante, um violino romântico um cravo bem temperado ou um tímpano furioso. Queria ser marcha, valsa, opus, concerto ou sinfonia. Tocaria em adaggio, fortíssimo ou allegro ma non troppo. <br> De outras vezes já havia sido tocada. Fez parte de algumas músicas populares e de uma sinfonia inacabada, cujas pautas caíram no chão e ela soltou-se do pentagrama. Passou a vagar pelos enormes salões de concerto a olhar os mudos instrumentos. Por vezes escondia-se nas partituras dos maestros e dormia ao pé das páginas. Olhava as pautas completas, aquelas notas ordenadas — soldados em fila — formando aquela linguagem musical. Passeava pelos acidentes empurrando sustenidos, tropeçando em bemóis, dobrando compassos até atirar-se em qualquer linha. Pensava: agora vou ser tocada. Triste ilusão. O maestro sacudia a batuta e dava início ao concerto. Ia tudo dando certo: os violinos gritavam fino e os cellos respondiam-lhes baixo. Os fagotes, oboés, pistons e clarinetes puxavam o choro dos trombones. Os tambores ralhavam grosseiramente. E ela ali, muda e estática, a espera da ordem do maestro. Chegava a sua vez, mas tudo desabava. Desafinava, e os instrumentos começavam a brigar. O maestro, furioso, pegava uma borracha e corrigia a pauta. Lá ia ela rolando com sua solidão. <br> E a vida continuava a mesma. Um passeio entre instrumentos, um sonho irrealizável e mil sons na cabeça. Não se sentia mais uma nota musical. Era um pequeno desenho preto que rolava em sons confusos. Quando uma orquestra afinava os instrumentos ela corria de um lado a outro, perdida. <br> Um dia parou sobre uma estante. Procurava um canto pra dormir e encontrou uma partitura. Surpresa total: era uma sinfonia por completar. Vibrou, pulou, voltou ao princípio e começou a solfejar. Foi aprendendo aos poucos a melodia. Inchou de alegria e tornou-se uma nota breve. Um dó maior. Espremeu-se entre as fusas o virou sol sustenido. Olhou para o compasso e resolveu ser semicolcheia, um lá menor. Bemol. Podia ser o que quisesse. O grande compositor aprovaria sua colocação. Pulou na partitura e soltou-se entre as linhas. Dormiu feliz esperando o grande dia do concerto. <br> A batuta bateu três vezes e soou um imponente acorde. Os sons cresceram numa melodia incrível, forte. Metais, couros o cordas discursavam, conversavam, sussurravam. Desenrolou-se uma melodia. histórica. <br> Chegou sua vez e ela entrou no compasso. Um tom infinito elevou-a muitas oitavas acima. Allegro, adagio, fortissimo, alta, baixa... Passeou pela escala e esta até hoje sendo o meio, a parte mais inspirada de uma sinfonia eterna. Agora faz parte do concerto do amor. </p> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-32300333131281422782011-07-19T12:13:00.003-03:002011-07-23T11:04:35.348-03:00Fragmentos aleatórios de um diário<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <h3><font color="#999999">Um dia</font></h3> <p><a href="http://lh6.ggpht.com/-ATqJJKzdypo/TiWfIxfVbBI/AAAAAAAAAcY/xrZX0BUN9oU/s1600-h/clip_image002%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh6.ggpht.com/-kYymaN43XKg/TiWfJR-TMNI/AAAAAAAAAcc/vVgLesPJUpA/clip_image002_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="279"></a> <p> Acordei na madrugada sentindo o coração apertado, o corpo cansado, a respiração curta, ofegante, suspiros constantes, cabeça pesada. Mirei os números verdes do relógio digital. A princípio estavam desfocados. Me concentrei e ficaram nítidos: 02:36. Virei para o outro lado. Sentia no intestino a revolta pelas misturas de doces e salgados do dia anterior. Revirei para o lado de antes. Com os olhos abertos, fiquei a calcular de quanto em quanto tempo piscava a luz verde do Identificador de Chamadas que acusa ligações não atendidas. Segui os rastros das luzes do roteador para ver até onde iluminavam. A luz mais forte, no entanto, era a da régua de tomadas que fica abaixo da mesa. Dei-me conta da quantidade de pequenas lâmpadas que ficam acordadas 24 horas por dia, mas que só as percebo à noite, quando perco o sono. <br> A contagem das piscadas do Identificador de Chamadas, o rastro das luzes nervosas do roteador, a constante luz vermelha da régua de tomadas e os números luminosos do relógio digital eram, na verdade, uma tentativa de acariciar o sono, que não chegava perto e era incerto; eram uma distração, um subterfúgio para eu não pensar em algo que me incomodava. <br> Levantei depois de muito virar e revirar, de cansar de admirar luzinhas. Na cozinha, tomei remédios pra acalmar o intestino revoltado e dolorido. Talvez fosse isso o que não me deixava dormir. <br> Voltei para a cama esperando os remédios fazerem efeito. Foi quase imediato. Mesmo assim, ainda não encontrava o sono. Não era essa indisposição que não me deixava dormir... Num instante, contudo, descobri que eram os ratos barulhentos que habitavam meu sótão que me mantinham insone. Me falavam de como minha vida mudou nos últimos tempos; de como, surpreendentemente, interrompeu-se uma inércia vivencial e sobrevieram suaves solavancos sensoriais. Passei a amar como jamais esperava que acontecesse ou que acontecesse novamente. Sei lá, as pessoas passam, os fatos ficam distantes, as sensações são esquecidas. A idade é outra... <br> Abri os olhos e mirei os números verdes do relógio digital. A princípio estavam desfocados. Me concentrei e ficaram nítidos: 05:32. Virei para o outro lado até ser acordado pelo despertador nervoso. Acho que, de raiva, derrubei-o no chão. <br> Desde aquele primeiro momento da noite anterior, e até agora, meu coração está apertado, o corpo cansado, a respiração curta, ofegante, suspiros constantes, cabeça pesada. Seria resultado de uma noite mal dormida? </p> <p align="center"><strong>.:: o ::.</strong></p> <h3><font color="#999999">Outro dia</font></h3> <blockquote> <blockquote> <blockquote> <p><i>A vida só pode ser entendida olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida olhando-se para frente<sup>1</sup>. </i></p></blockquote></blockquote></blockquote> <p> A<b> </b>primeira frase da epígrafe dominou minha manhã. Olhei para minhas relações passadas lembrando o que as fez acabar. Algumas, quem sabe, foram apenas entendimento, combinação de feronômios, mas foram relações.<br> Persegui a primeira guria por quem me apaixonei até conquistá-la e torná-la minha namorada. Eu tinha uns 16 ou 17 anos. Isso faz mais de 40 anos. O que poderia eu saber da vida? Namorei-a até achar que me apaixonara por outra, mais interessante, mais bonita... Mas fora um acidente de percurso. Voltei à anterior e com ela fiquei até ser trocado pelo Rio de Janeiro. Lembro de ter sofrido muito, das cartas apaixonadas que trocávamos, das respostas dela que foram rareando até cessarem. Aí, contudo, achei que tinha me apaixonado novamente por outra. Minha vida mudou. Tornei-me sério e compenetrado e curti longos períodos de meditação solitária em meu quarto. Fui ao Rio de Janeiro pra me certificar de que estava no caminho certo. Descobri que sim e me senti vingado. <br><a href="http://lh6.ggpht.com/-UglXJqpZ2j4/TiWfJ2ydhwI/AAAAAAAAAcg/bCeP6Trem7E/s1600-h/fragmentos-2%25255B5%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; margin: 0px 10px 0px 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px" title="fragmentos-2" border="0" alt="fragmentos-2" align="left" src="http://lh3.ggpht.com/-0srVyk2Tf_0/TiWfKRPQR5I/AAAAAAAAAck/Lj5doN1-62E/fragmentos-2_thumb%25255B3%25255D.jpg?imgmax=800" width="250" height="373"></a> Casei. Logo depois descobri que havia entrado numa fria. Uma viagem levou meu amor embora. Por um mês fiquei sozinho da noite para o dia, remoendo aquele abandono. Na volta, não adiantou a tentativa de descobrir se havia amor naquela relação e ela terminou. <br> O cadáver do amor ainda nem estava frio e renasceu avassaladoramente, também da noite para o dia, dentro de um bar. Outra vez achava que estava no caminho certo e resolvi “casar” novamente. Ainda fiz duas experiências antes disso e tive certeza de que a mulher que eu queria era esta mesmo. Depois de nove anos de certeza, no entanto, balancei e me apaixonei por uma colega de trabalho. O casamento não acabou. Acho que quem acabou foi o amor. E por quê? Talvez desgaste; talvez cansaço. <br> Esta nova paixão, contudo, acabou, não por falta de dedicação e promessas, mas sim por falta de coragem de continuar, de seguir as perspectivas e expectativas. Pelo menos aprendo que onde se ganha o pão não se come a carne.<br> Por um bom tempo fiquei inconformado comigo mesmo e, de repente, percebi que não amava ninguém. Criei um escudo, uma proteção em volta do meu coração, não permitindo que alguém entrasse nele ou que dele eu saísse. Uma mulher aqui, outra ali, relações que, mesmo duradouras, para mim não passavam de aventuras carnais, sem romance. <br> Enfim volto a me encontrar com o amor e, agora, devo pensar na segunda frase da epígrafe, com esperança de não precisar mais pensar na primeira. Não quero que o amor que sinto seja um dia entendido como passado. Quero vivê-lo intensamente como agora, até o fim da vida, não da relação. </p> <p>__________________ <br><sup>1 </sup>S. Kierkegaard, filósofo dinamarquês - 1813-1855</p></div>Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-90103161025859807342011-06-22T11:44:00.001-03:002011-06-22T11:44:52.864-03:00Jogos de bola<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p> Nasci há muito tempo, numa casa que ficava em frente a uma pracinha que marcava a confluência de duas ruas. A pracinha, que já estava lá bem antes de eu nascer, era um triângulo isósceles de areia cercado por um meio-fio de paralelepípedos com dois lados medindo cerca de 10 metros e o menor, uns cinco metros. Lembrei-me da pracinha porque nela faziam-se grandes fogueiras na véspera de São João, em 23 de junho de todos os anos. <br> Naquele espaço se jogava de tudo: bola de gude, taco, cela, vôlei e, principalmente, futebol. Diariamente, a partir das três da tarde, com os temas de casa feitos, a turma se envolvia com alguma espécie de bola, já que pra tudo que era praticado ali se precisava de pelo menos uma. <br> Para jogar futebol faziam-se times de três, quatro, no máximo cinco pra cada lado, com um no gol e o resto na linha. Os dois considerados os melhores jogadores escolhiam no par ou ímpar os integrantes de seus times. Os jogos iam até 10 gols, com virada em cinco. Como se jogava em um triângulo, quem atacava no campo maior tinha mais chances de trabalhar a jogada e fazer gol. Em compensação, quem atacava para a ponta mandava a bola em gol desde que chutasse pra frente. No segundo tempo, porém, tudo se invertia. <br> Havia pelo menos três faixas etárias de moleques naquela zona. Nos fins de semana, especialmente nas tardes de sábado, a pracinha era ocupada pelos mais velhos. Volta e meia acontecia algum torneio contra uma gurizada das ruas próximas. Invariavelmente dava briga. <p align="center"><a href="http://lh4.ggpht.com/-Ps1-md8znCU/TgH_zKSa1fI/AAAAAAAAAbc/tsYjBB4jgZE/s1600-h/pracinha%25255B4%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="Pracinha na década de 60" border="0" alt="Pracinha na década de 60" src="http://lh3.ggpht.com/-rv_1KuQgQQg/TgH_zjVXNEI/AAAAAAAAAbg/EiiF-mQ4d54/pracinha_thumb%25255B2%25255D.jpg?imgmax=800" width="500" height="358"></a> <div style="text-align: center; line-height: 140%; font-size: 12px"><i>Foto na pracinha do início da década de 60 (sou o 2º em pé, da esquerda para a direita)</i></div> <p> Quando a bola ia pro meio da rua e estivesse passando algum carro, todos paravam. Era como o <i>fair-play</i> praticado nos esportes de hoje. Às vezes algum chute mais forte disparado para o lado — certamente por algum zagueiro desesperado — ia parar num dos vidros de uma janela da minha casa. Ficando comprovado que havia sido durante uma “séria” partida de futebol, tudo bem, era considerado acidente de trabalho; se, no entanto, o chute tivesse sido dado ao léu, o pai do “vândalo” tinha que pagar o vidro. <br> Quanto a mim, era um jogador médio de bolinha de gude. Em algumas modalidades de jogos que envolviam bolinhas de vidro eu me saía bem; na mais comum, aquela em que se desenha uma circunferência no chão e se disputa as bolinhas que estão dentro, não era dos melhores. Pra não ficar logo com o saquinho vazio, procurava jogar só “às brincas”. Às vezes, no meio de um desses jogos, passava um guri mais velho, mais forte e mau caráter e recolhia as bolinhas com a maior cara de pau, dizendo simplesmente: “— Fiscal de bolinhas!”. Botava-as no bolso e nos deixava com cara de choro. <br> Alguns dos guris maiores chamavam de “beti” o jogo de taco. Fui pesquisar e descobri que o jogo pode ter-se originado do <i>cricket</i> e que o nome <i>bets</i> (e não beti) seria uma homenagem à rainha Elizabeth I. Pois bem, <i>bets</i> ou taco, nesse eu era bom. Conta uma lenda daquela época que certa vez, durante um jogo de taco, a bola foi picando na direção do Betão, o mais forte dos guris maiores, que descia a rua com um guarda-chuva na mão. Ao ver a bola picando, apesar de não estar jogando, não teve dúvidas, meteu-lhe uma tacada com o cabo do guarda-chuva, mandando-a até os trilhos dos bondes, que ficavam a uns 150 metros rua abaixo. <br> Depois da minha adolescência, nunca mais vi jogarem cela, nem os sucessores da minha turma da pracinha. O jogo de cela consistia em fazer no chão um buraco para cada participante: se fossem cinco jogadores, cinco buracos seriam feitos, um após o outro, em linha reta. A ordem dos buracos era sorteada. Uma bola de tênis era largada em direção aos buracos. O jogador do buraco em que ela parasse deveria pegá-la e atirá-la em direção a algum dos oponentes. Se acertasse, a vítima continuaria a perseguição aos outros; se errasse, ganhava um “filho”, representado por um pauzinho de fósforo colocado no buraco correspondente. E assim por diante, até um dos participantes acumular três filhos. Este, então, deveria ir para a cela, que era um muro de uma casa qualquer em frente à pracinha. Tinha que ficar encostado no muro, de costas para a rua, com a cabeça abaixada em direção ao peito e os braços para trás e por sobre ela, protegendo-a. Os demais jogadores davam cinco boladas cada um nas costas do perdedor. Não raro o perdedor saía chorando e com marcas redondas e vermelhas nas costas. Joguinho inocente, né? <br> Vôlei era raro acontecer por causa da dificuldade em se afixar a rede. Quando tinha, nem me arriscava a jogar. Em futebol eu era péssimo. Com perdão pela incorreção: muito péssimo! Na hora do par ou ímpar eu era sempre o último a ser escolhido, o que sobrava. Se o número de participantes era ímpar, pra contrabalançar me botavam no time mais fraco. E, mesmo assim, no gol. Claro, eu tinha chance de jogar na linha, como todo mundo. A cada gol sofrido havia rodízio: o goleiro ia pra linha e um da linha ia pro gol. Quando estava na linha, entretanto, pouco tocava na bola, pois não a passavam pra mim. Eu me contentava em correr atrás do bolo de guris que corria atrás da bola. Desconfio que fui eu que inventei o chute de três dedos, a famosa “trivela”. Quando ocasionalmente a bola sobrava pra mim eu a chutava com toda força tentando acertar o gol, mas ela ia pra lateral direita. E eu fazia isso olhando pra esquerda... Desastre total. <br> Quando tinha 16 anos, desisti pra sempre do futebol que nunca me quis. Montei uma banda em que eu era o baterista (leia: <a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com/2009/10/old-stones.html" target="_blank">The Old Stones</a>). Ensaiava na garagem da minha casa, nos sábados à tarde, quando o resto da turma corria atrás da bola, na pracinha em frente. <br> A pracinha continua lá e ganhou um nome: Praça Monsenhor André Mascarello, que foi o pároco do bairro durante toda minha infância, adolescência e parte da vida adulta. Hoje, está melhorada, bem cuidada e tem até grama. De vez em quando, filhos e netos de remanescentes da minha época se reúnem e jogam futebol nela. Confira nas fotos de Isa Kolbetz, de uma geração posterior a minha, cujos pais ainda moram naquela rua. <p align="center"><a href="http://lh6.ggpht.com/-1gKa_lmzNiA/TgH_0W4PYlI/AAAAAAAAAbk/1Oqg7d_srPM/s1600-h/pracinha%2525202%25255B10%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="Praça Monsenhor André Mascarello" border="0" alt="Praça Monsenhor André Mascarello" src="http://lh3.ggpht.com/-gnHWOxrg2c0/TgH_1OApE8I/AAAAAAAAAbo/u-GicPbZJGs/pracinha%2525202_thumb%25255B8%25255D.jpg?imgmax=800" width="502" height="377"></a> <div style="text-align: center; line-height: 140%; font-size: 12px"><em>A pracinha hoje, quase no mesmo ângulo da foto antiga</em></div> <p> <div style="text-align: center; line-height: 140%; font-size: 12px"> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" width="500" align="center"> <tbody> <tr> <td valign="top" width="250" align="middle"><i> <p><a href="http://lh3.ggpht.com/-5EJgkmAOwzQ/TgH_1zFSIUI/AAAAAAAAAbs/dYYqMlGt4Vo/s1600-h/pracinha%2525203%25255B3%25255D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: inline; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; border-left-width: 0px" title="Foto de Isa Kolbetz" border="0" alt="Foto de Isa Kolbetz" src="http://lh6.ggpht.com/-c-yPByP96Z8/TgH_2ebjnJI/AAAAAAAAAbw/mUnZdR1Zi4Q/pracinha%2525203_thumb%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="180"></a><br>De cima pra baixo</i></p></td> <td valign="top" width="250" align="middle"> <p><i><a href="http://lh3.ggpht.com/-AQv-nj-M7Vk/TgH_2zEe5_I/AAAAAAAAAb0/QUkKzZtOu3w/s1600-h/pracinha%2525204%25255B3%25255D.jpg"><img style="border-bottom: 0px; border-left: 0px; display: inline; border-top: 0px; border-right: 0px" title="Foto de Isa Kolbetz" border="0" alt="Foto de Isa Kolbetz" src="http://lh6.ggpht.com/-5eRM24hzCsE/TgH_3SQbaDI/AAAAAAAAAb4/D94InrRnOJU/pracinha%2525204_thumb%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="180"></a><br>De baixo pra cima</i></p></td></tr></tbody> <p></p></table> <p></p> <p> <table border="0" cellspacing="0" cellpadding="0" width="250" align="center"> <tbody> <tr> <td valign="top" width="250" align="middle"> <p><i><a href="http://lh5.ggpht.com/-ijKDaWhwQdY/TgH_4AHLyiI/AAAAAAAAAb8/8OYVPfvORME/s1600-h/pracinha%2525205%25255B3%25255D.jpg"><img style="border-bottom: 0px; border-left: 0px; display: inline; border-top: 0px; border-right: 0px" title="Foto de Isa Kolbetz" border="0" alt="Foto de Isa Kolbetz" src="http://lh3.ggpht.com/-OChGwe3GeCc/TgH_4-z6SDI/AAAAAAAAAcA/sr184o0_viw/pracinha%2525205_thumb%25255B1%25255D.jpg?imgmax=800" width="240" height="180"></a><br>Minha ex-casa ao fundo</i></p></td></tr></tbody></table></p></tr></tbody> <p></p></div> <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-45730162534936710652011-05-19T18:48:00.001-03:002011-05-19T18:48:36.312-03:00Por uma vida melhor<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p><i> Por uma vida melhor</i> é o título do livro que integra a coleção <i>Viver, Aprender</i>, destinada aos alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA), distribuído pelo MEC a 485 mil alunos de 4,2 mil escolas, através do Programa Nacional do Livro Didático. <br> Essa obra tem dado o que falar com a polêmica levantada pela imprensa escrita, falada, televisionada e “blogueada”. Cronistas, articulistas e editorialistas — muitos dos quais, tenho certeza, nem leram o livro didático —, todos fantasiados de donos da verdade e da língua portuguesa, insurgiram-se contra a obra porque, segundo eles, admite erros de português, coisa que acham que não cometem e não aceitam que se cometa. Alguns dizem que o livro ensina a falar errado; outros falam como se fosse para crianças (desconhecem, inclusive, que se destina ao EJA). Um grande jornal do Rio de Janeiro disse, em seu editorial, que <i>“</i><i>Este atentado à educação pública brasileira, considerada por unanimidade o maior empecilho a que o país atinja um estágio superior de desenvolvimento e se mantenha nele, se assenta numa visão ideológica da sociedade alimentada pela ‘mitologia do excluído’, ligada à ‘síndrome da tutela estatal’.</i><i>”</i> Qual unanimidade, caras pálidas? Aquela burra, do Nelson Rodrigues? Eu fora! Neste caso, já não é mais unanimidade. <br> O primeiro capítulo do livro em questão, “Escrever é diferente de falar”, procura explicar aos alunos jovens e adultos (aqueles que não completaram os anos da educação básica em idade apropriada) que não há um só jeito de escrever e de falar, e que a língua portuguesa apresenta muitas variantes. Diz que uma delas é de origem social: “As classes sociais menos escolarizadas usam uma variante da língua diferente da usada pelas classes sociais que têm mais escolarização. Por uma questão de prestígio — vale lembrar que a língua é um instrumento de poder —, essa segunda variante é chamada de <b>variedade culta</b> ou <b>norma</b> <b>culta</b>, enquanto a primeira é denominada <b>variedade</b> <b>popular</b> ou <b>norma</b> <b>popular</b>”. <br> Numa das seções desse capítulo, os autores explicam o funcionamento da concordância entre as palavras: <blockquote> <p><i>A concordância entre as palavras é uma importante característica da linguagem escrita e oral. Ela é um dos princípios que ajudam na elaboração de orações com significado, porque mostra a relação existente entre as palavras.</i> <p><i>Verifique como isso funciona:</i> <p><i>Alguns <b>insetos</b> provocam <b>doenças</b>, às vezes, fatais à <b>população</b> ribeirinha.</i> <p><i>insetos (masculino, plural) ◄ alguns (masculino, plural) <br>doenças (feminino, plural) ◄ fatais (feminino, plural) <br>população (feminino, singular) ◄ ribeirinha (feminino, singular)</i> <p><i>As palavras centrais (insetos, doenças, população) são acompanhadas por outras que esclarecem algo sobre elas. As palavras acompanhantes são escritas no mesmo gênero (masculino/feminino) e no mesmo número (singular/plural) que as palavras centrais.</i> <p><i>Essa relação ocorre na norma culta. Muitas vezes, na norma popular, a concordância acontece de maneira diferente. </i></p></blockquote> <p> Nesse sentido, seu conteúdo traz por escrito alguns exemplos de “falas” de pessoas de classes menos favorecidas, que tiveram pouco ou nenhum contato com a chamada norma culta da língua portuguesa. Entre outras, usam essas três frases para explicar as variedades: “Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado”; “Nós pega o peixe”; e “Os menino pega o peixe”. O que os cronistas e articulistas fizeram foi pinçar essas frases de seu contexto original e manipulá-las, como, aliás, soem fazer com tudo. Foi o que bastou para que a obra fosse considerada assustadora, absurda e outros adjetivos menos elogiosos. Nenhum deles, no entanto, falou sobre o contexto em que as frases foram apresentadas. Veja isso: <blockquote> <p><i>Os <b>livro</b> ilustrado mais interessante estão emprestado</i><i></i> <p><i>Você acha que o autor dessa frase se refere a um livro ou a mais de um livro? Vejamos:</i> <p><i>O fato de haver a palavra os (plural) indica que se trata de mais de um livro. Na variedade popular, basta que esse primeiro termo esteja no plural para indicar mais de um referente. Reescrevendo a frase no padrão da norma culta, teremos:</i> <p><i>Os <b>livros </b>ilustrado<b>s </b>mais interessante<b>s </b>estão emprestado<b>s</b>.</i> <p><i>Você pode estar se perguntando: “Mas eu posso falar ‘os livro?’.”</i> <p><i>Claro que pode. Mas fique atento porque, dependendo da situação, você corre o risco de ser vítima de <b>preconceito linguístico</b>. Muita gente diz o que se deve e o que não se deve falar e escrever, tomando as regras estabelecidas para a norma culta como padrão de correção de todas as formas linguísticas. O falante, portanto, tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião.</i> <p>Os autores também explicam que na variedade popular é comum a concordância funcionar de outra forma. <p><i>Nós pega o peixe.</i> <p><i>nós = 1ª pessoa, plural<br>pega = 3ª pessoa, singular</i> <p><i>Os menino pega o peixe.</i> <p><i>menino = 3ª pessoa, ideia de plural (por causa do “os”)<br>pega = 3ª pessoa, singular</i> <p><i>Nos dois exemplos, apesar de o verbo estar no singular, quem ouve a frase sabe que há mais de uma pessoa envolvida na ação de pegar o peixe. Mais uma vez, é importante que o falante de português domine as duas variedades e escolha a que julgar adequada à sua situação de fala.</i> </p></blockquote> <p> O capítulo todo tem 17 páginas. O texto que está recuado acima não chega a duas páginas e é o que está provocando toda essa celeuma. Na introdução do capítulo, os autores salientam que a língua é um instrumento de poder. A polêmica está provando isso. Os exemplos usados nada mais são do que a fala da gente simples, que jamais terá o “poder” de um cronista ou articulista da nossa imprensa ou de um especialista em gramática (leia-se norma culta) de nossas universidades. <br> Se o tema lhe interessar, não deixe de ler o capítulo todo em um desses links: <a href="http://www.advivo.com.br/sites/default/files/documentos/v6cap1.pdf"><br>http://www.advivo.com.br/sites/default/files/documentos/v6cap1.pdf</a> <br><a href="http://zerohora.clicrbs.com.br/pdf/11055740.pdf">http://zerohora.clicrbs.com.br/pdf/11055740.pdf</a> <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p><a href="http://lh4.ggpht.com/_M9LF5NrXkiQ/TdWQL-LvGNI/AAAAAAAAAbU/6TPO5JcjG4Q/s1600-h/clip_image002%5B5%5D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh4.ggpht.com/_M9LF5NrXkiQ/TdWQMpcQkVI/AAAAAAAAAbY/PV51B5y_AHw/clip_image002_thumb%5B2%5D.jpg?imgmax=800" width="500" height="229"></a> <p> Coloquei no Google o título do livro, <i>Por uma vida melhor</i>, acompanhado das palavras-chave <i>livro</i> e <i>EJA.</i> O buscador retornou 643 mil resultados. Escolhi aleatoriamente uma dessas entradas. Era a notícia de que a Associação Brasileira de Letras criticara o livro e havia inúmeros comentários de leitores. A grande maioria dando força para o texto. Selecionei alguns dos poucos que faziam o contrário, ou seja, criticavam o texto e davam força para o livro. Eis um deles: </p> <blockquote> <p><i>Vergonhosa mesmo é a reação da mídia até o momento. Totalmente desinformados. Todos defendem a Gramática tradicional em detrimento da ciência que se chama Linguística. Assim como a Física Quântica e a da Relatividade, as duas não se “bicam” mesmo. Todos devem estudar um pouco mais e saber que nada há de errado no conteúdo do livro da escritora Heloísa Ramos, que o MEC, acertadamente, defende. Basta consultar Marcos Bagno, Sírio Possenti, este, um dos principais membros da Academia Brasileira de Letras, dentre outros.<br>É uma pena que estas pessoas achem que o idioma é estático e nunca muda. Há vida nas línguas de qualquer país e, por isso, mudam a cada geração. O Português não é diferente. Leiam qualquer obra do século XVIII ou XIX para verem que a Linguística está correta. Defender a rigidez que prega Pasquale Cipro Neto é atentar contra a inteligência do falante.</i> </p></blockquote> <p> Nesse mesmo <i>site</i> havia um comentário que considero uma pérola, ainda mais vindo de um, pasme, “professor”: <blockquote> <p><i>Um absurdo!!! Só pode ser brincadeira…, e por sinal de muito </i><b>mal</b><i> (SIC) gosto. Livro didático, pregando que </i><b>é possível</b><i> e admissível </i><b>erros</b><i> grosseiros (SIC) de </i><b>portugues</b><i> (SIC), comprado com o dinheiro público pelo MEC, para ensinar jovens brasileiros… essa a verdadeira herança maldita. E me perdoem os outros, mas são um bando de PTistas interesseiros. Deve ter havido dinheiro por fora e alguns sempre levando uma vantagem – a famosa lei de Gerson .Triste, muito triste ver pessoas que ainda vão defender essa nova </i><b>lingistica</b><i>… (SIC), incrível mesmo. E ainda </i><b>vão se dar</b><i> (?) de “cultos”. Como professor, já lhes aponto grandes problemas futuros: com a desvalorização e desrespeito por que passam os professores de todos os níveis e por todo nosso país, tenho certeza, que em futuro próximo, veremos professores sendo processados por “preconceito </i><b>liguístico</b><i>” (SIC) por estudantes interessados nessa educação que se prega. É triste… e é de envergonhar qualquer um. No fundo é de dar nojo de ver o que estão fazendo com a educação no Brasil. Dessa forma vai ser </i><b>dificil</b><i> (SIC) dizer que querem investir na educação para libertar o povo brasileiro e fazermos nós que o Brasil dê um salto de qualidade. Assim, com essas coisas acontecendo por aqui, vamos sim nos enterrar na imbecilidade de “alguns”, infelizmente. Pobre desse Brasil.</i> </p></blockquote> <p> Pobres dos alunos desse professor que não sabe, por exemplo, a diferença entre mal e mau, que não acentua palavras e que não sabe o que é “linguística”, mas conhece muito bem a <b>lingistica</b> e inventou o preconceito <b>ligístico</b>. <br> Quanto aos “istas”, sejam eles da imprensa ou da gramática, que me perdoem, mas é muita ignorância não entenderem que a língua é um organismo vivo, em constante movimento, e que isso deve ser ensinado. <br> Quando estava no ginásio, na década de 60, aprendi a concordar o numeral da porcentagem dessa forma: <b><i>60 por cento dos gaúchos ainda não entregaram a declaração de rendimentos</i></b> ou <b><i>60 por cento da população gaúcha ainda não entregaram a declaração de rendimentos</i></b>. Com o tempo, por desconhecerem essa regra — decerto por algum problema entre o tico e o teco, ou melhor, entre a semântica e a sintaxe —, os redatores de jornal começaram a escrever assim: <b><i>60 por cento da população gaúcha ainda não entregou a declaração de rendimentos</i></b>. Em vista disso, os gramáticos de ocasião passaram a considerar correta essa forma. Não sei como ficaria se, ao escrever, resolvesse inverter a ordem da frase: <b><i>Da população gaúcha, 60 por cento ainda não (</i></b><i>entregou ou entregaram?<b>) a declaração de rendimentos</b></i>. Há vários exemplos como esse, em que o uso da língua por incultos acabou mudando a regra dita culta. <br>Veja os textos a seguir. Eles são a prova de que a língua muda. <blockquote> <p><b>Razoões desvairadas, que alguuns fallavam sobre o casamento delRei Dom Fernamdo</b> <p>Quamdo foi sabudo pello reino, como elRei reçebera de praça Dona Lionor por sua molher, e lhe beijarom a maão todos por Rainha, foi o poboo de tal feito mui maravilhado, muito mais que da primeira; por que ante desto nom enbargando que o alguuns sospeitassem, por o gramde e honrroso geito que viiam a elRei teer com ella, nom eram porem çertos se era sua molher ou nom; e muitos duvidamdo, cuidavom que se emfa daria elRei della, e que depois casaria segundo perteemçia a seu real estado: e huuns e outros todos fallavam desvairadas razõoes sobresto, maravilhamdose muito delRei nom emtemder quamto desfazia em si, por se comtemtar de tal casamento. <p><em>(Trecho de crônica escrita em português arcaico na primeira metade do século XV, de Fernão Lopes, escrivão de livros do rei D. João I e escrivão do infante D. Fernando.) </em> <p><b>Gréve dos Alfaiates</b> – Esteve, hontem, na Chefatura de Policia, o official alfaiate Ulysses Henrich, que entregou ao dr. Vasco Bandeira, chefe de policia, um officio em que a União dos Alfaiates diz que nenhum grevista tentou, até hoje, aggredir qualquer collega. Depois de ouvil-o, o dr. Bandeira declarou... <p><em>(Trecho de notícia publicada no Correio do Povo em 19 de maio de 1911) </em></p></blockquote> <p> Daqui a alguns anos, todos estarão escrevendo e dizendo que “os livro ilustrado mais interessante estão emprestado” ou que “nós pega o peixe” e os cronistas e gramáticos do futuro estarão defendendo essa forma como a mais culta e absoluta. Não sei se a regra será considerada melhor ou pior que a do passado, mas espero que a vida seja melhor.</p> <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-37707182302906761832011-05-08T14:29:00.001-03:002011-05-08T14:29:23.018-03:00Saravá! Quando a fé fere o direito.<a href="http://lh5.ggpht.com/_M9LF5NrXkiQ/TcbS78wbdeI/AAAAAAAAAbI/ZxifarZkHPY/s1600-h/galos%20dos%20despachos%5B4%5D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="" border="0" alt="" src="http://lh5.ggpht.com/_M9LF5NrXkiQ/TcbS8ZGVHpI/AAAAAAAAAbM/8rdDVjwVSVE/galos%20dos%20despachos_thumb%5B2%5D.jpg?imgmax=800" width="500" height="319"></a> <blockquote> <div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><i>Diante dos direitos e deveres individuais e coletivos garantidos na Constituição Federal no art. 5º, especificamente no Inciso VI, ‘é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias’, ou do Código Penal sobre os crimes contra o sentimento religioso em seu art. 208: ‘Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso’, faz-se necessária a apresentação deste projeto de lei que define, em parágrafo único, a garantia constitucional que vem sendo violada por interpretações dúbias e inadequadas da Lei nº 11.915, de 21 de maio de 2003 que institui o Código Estadual de Proteção aos Animais. Face a essa dubiedade de interpretação, os Templos Religiosos de matriz africana vêm sendo interpelados e autuados sob influência e manifestação de setores da sociedade civil que usam indevidamente esta lei para denunciar ao poder público práticas que, no seu ponto de vista, maltratam os animais.</i> </div></blockquote> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> O texto acima, de 06 de agosto de 2003, é a justificativa do então deputado Edson Portilho (PT), por ocasião da apresentação de seu Projeto de Lei Nº 282/2003, que acrescentava parágrafo único ao art. 2º da lei nº 11.915, de maio de 2003, que institui o Código Estadual de Proteção aos Animais, no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul. <br> O projeto foi aprovado por 32 votos a dois pelo plenário da Assembléia Legislativa e, após, sancionado pelo governador Germano Rigotto, em julho de 2004. Depois da iniciativa do hoje em dia vereador em Sapucaia do Sul, Edson Portilho, a redação do artigo 2º do Código Estadual de Proteção aos Animais ficou assim: </p> <blockquote> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px">Art. 2º - É vedado: <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><b>I. </b>ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem condições inaceitáveis de existência;<b></b> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><b>.../...</b> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"><b>Parágrafo único - Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos cultos e liturgias das religiões de matriz africana.</b> </p></blockquote> <p style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> A gritaria dos protetores dos animais foi geral. Até hoje recebo emails condenando o ex-deputado, seu Projeto de Lei e os demais deputados que votaram a favor, como se o assunto fosse novidade. Se procurarem no Google as palavras “lei edson portilho” vão receber mais de 100 mil resultados. O surpreendente é que mais de 80 mil são de 2010. Ô, gentinha que dorme no ponto! Depois de seis anos de o Código estar em vigor com o tal parágrafo, resolveram comentar o assunto. <br> Sempre que recebo emails de protetores de animais ou de simpatizantes de animais e dos protetores desses, tratando do tema como se fosse novidade, ou seja, “informando-me” do acontecido, imediatamente informo-os sobre a chata e inoportuna defasagem temporal da indignação. Pô! O troço aconteceu em 2003-2004 e estão falando como se fosse hoje! Mas isso não vem ao caso. Enfim, o Código teve seu texto alterado e, desde então, ninguém pode reclamar dos sacrifícios de animais que certa religião promove a título de crença, de ritual, de liturgia e os cambau. <i>Sifu</i> os demais. <br> Já escrevi aqui sobre isso (<a href="http://coisasdoaldo.blogspot.com/2009/10/galos-de-despachos.html" target="_blank">Galos de despachos</a>) e, hoje, não quero falar sobre o direito de os animais — no caso galos — não serem mortos para realização dos rituais, mas sim do direito de quem mora perto das encruzilhadas preferidas por esses religiosos. <br> Nunca achei que matar galos pra colocar em despachos fosse crueldade com animais. O sacrifício da morte existe seja qual for o destino dado ao cadáver: um despacho, um casaco ou uma mesa de almoço ou jantar. O galo, a chinchila e o boi vão morrer contra sua vontade. O que me causa indignação, no caso dos despachos, é o cadáver ficar ali exposto, sob o sol, sob o olhar de todos, inclusive das crianças. Por que isso não pode ser feito dentro dos terreiros, assim como são os rituais nas igrejas, nas mesquitas e sinagogas? Por que tem que ser nas esquinas das ruas onde a gente vive? Entendo que o direito de alguém professar sua fé através de ritos religiosos termina onde começa o meu direito à higiene, a saúde pública ou individual. <br> Já falei várias vezes desse bairro deselegante em que moro. E moro numa esquina classificada como encruzilhada estratégica por religiosos de certa crença. Esses religiosos teimam em escolher essa esquina como altar para seus ritos. Seguidamente tem nela um despacho com o cadáver de um galo entre grãos de pipoca, sobre um arranjo de folhas de jornal e papel de seda vermelho. Hoje, domingo, Dia das Mães, a rua amanheceu com três cadáveres de galos — um preto, um marrom e um branco — espalhados sobre as calçadas. Algum cachorro grande e novo na zona resolveu, durante a madrugada, jantar os galos mortos. Não conseguindo devorá-los por inteiro, deixou-os mastigados entre as penas que se soltaram. <br> Uma coisa que se tolera é ver os galos mortos sobre os despachos nas esquinas; outra, intolerável, é vê-los espalhados pelas calçadas. Repugnante! <br> Lamento não ter condenado, na época, a iniciativa do então deputado Edson Portilho. Que os praticantes dessa religião que mata galos e os coloca em esquinas tenham em mente que a Constituição lhes garante “proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Entendo, contudo, que essas liturgias devam ficar restritas aos locais de culto e que estes não sejam as esquinas das ruas, que são públicas e de todos, inclusive de quem professa outra fé.</p> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-6328852850505135914.post-57837954423497768622011-05-07T17:10:00.001-03:002011-05-07T17:10:03.461-03:00Não requer prática nem habilidade, pode-se fazer com a maior facilidade!<div style="text-align: justify; line-height: 140%; font-size: 14px"> <p>O título desta postagem é um antigo bordão que costumava ouvir dos camelôs do centro de Porto Alegre, na minha adolescência. Usei-o como título de uma reportagem que fiz em 1977, quando cursava o 6º semestre de jornalismo na PUC. O trabalho ganhou primeiro lugar em reportagem para estudantes, no I Prêmio Anual do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Porto Alegre. A matéria foi publicada no jornal Comunicação, informativo do Sindicato, em dezembro daquele ano. Achei um exemplar e reproduzo abaixo a reportagem. <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p><b>“É o gigante, o balão japonês, <i>olhaí</i>! <i>Óia</i> a lixa pra <i>péis</i>, pra senhora e cavalheiro! É a novidade, é o <i>raibanspeiado</i>! A moda do Rio e São Paulo, agora aqui. A mais prática carteira pra documento: dá pra <i>enganá</i> até ladrão porque tem <i>malandrage</i>. <i>Olhaí</i> o balão japonês, a lixa pra <i>péis</i>, é unissex o <i>raibanspeiado</i>, a novidade, porta-documentos, lixa, óculos, gigante, o balão japonês...”</b> <p><a href="http://lh4.ggpht.com/_M9LF5NrXkiQ/TcWnF1g_WPI/AAAAAAAAAbA/AtcdtKeRQB8/s1600-h/clip_image002%5B5%5D.jpg"><img style="border-right-width: 0px; display: block; float: none; border-top-width: 0px; border-bottom-width: 0px; margin-left: auto; border-left-width: 0px; margin-right: auto" title="clip_image002" border="0" alt="clip_image002" src="http://lh6.ggpht.com/_M9LF5NrXkiQ/TcWnGtHKy2I/AAAAAAAAAbE/tcegAz1Dh1g/clip_image002_thumb%5B2%5D.jpg?imgmax=800" width="500" height="375"></a> <blockquote> <p> Misturando-se às vozes de quem passa, ao estridente som das discotecas e aos berros dos fanáticos religiosos está o pitoresco pregão dos camelôs. Suas vozes metálicas anunciam, na linguagem do povo, os seus coloridos produtos ao som da novidade. E assim vivem e fazem viver a família. <br> De vez em quando, a fiscalização da SMIC (Secretaria Municipal da Indústria e Comércio) faz com que esses vendedores não registrados levantem-se ligeiro, carregando a mercadoria. A pena para quem não tem o registro é ter o produto do seu sustento apreendido. E pra retirá-lo deve pagar uma taxa. <br> O romantismo abrutalhado de seus pregões já se incorporou à vida da Rua da Praia, da Voluntários e da Otávio Rocha, onde há maior quantidade de camelôs. Um ao lado do outro, vão vendendo óculos escuros, lixas pra pés, naftalina, bijuterias, lenços, meias, brinquedos, carteiras, de tudo um pouco. <p><b>SÓ DÁ PRA FAZER ISTO</b> <p> A maioria dos camelôs escolheu essa profissão, muitas vezes perigosa, por não ter condições de fazer outra coisa, como Matias, que há 22 anos vende na rua. “Já vendi de tudo um pouco e nunca fui registrado. A papelada que eles <i>pede</i> é demais e, sendo doente como <i>sô</i>... Há quatro anos estou encostado no INPS e só disso não dá pra <i>vivê</i>.” Matias não usa o “pregão” pra vender o seu peixe na Rua da Praia. “Eu fico aqui parado, os <i>fregueis chega</i>, fala comigo e compra. Este ponto é bom porque passa bastante gente. As lojas não se importam. Tem umas que até fazem <i>questã </i>que a gente trabalhe defronte que é pra <i>cuidá </i>os <i>mau elemento </i>que entra pra <i>sacaniá</i> eles. Vendo a gente aqui eles <i>respeita</i>.” <br> Batista está começando na profissão e o motivo da escolha é o mesmo: não pode fazer outra coisa. “Faz um ano que trabalho nisso porque me quebrei todo: perna, costela... Então não tenho oportunidade pra <i>pegá</i> noutro serviço mais pesado. De <i>veiz</i> em quando eu saio, umas duas <i>veiz</i> por semana, e, a pau-e-corda faço <i>uns</i> <i>biscate</i>”. Batista também não é registrado, mas não tem medo da fiscalização, nunca foi pego. “Quando eu vejo <i>os fiscal</i> me levanto e saio”. Batista tem mulher e quatro filhos. O sustento da família é o resultado de seu dia-a-dia vendendo lenços e brinquedos. “Quando <i>tá</i> bom eu tiro uns cem, cento e pouco por dia”. <br> E a mercadoria vai saindo. Gente olha, gente para, gente pechincha, gente compra. Há aqueles que, constantemente, estão numa roda de pessoas. A sua propaganda é interessante e o pessoal quer ver como funciona o produto. Geralmente é novidade. Há poucos dias, um novo artigo apareceu. É uma carteira para documentos e dinheiro, com muitos truques. Põe-se o dinheiro solto na carteira, vira-se e o dinheiro está preso. De um lado se vê bastante dinheiro; do outro, pouco. E o camelô vai explicando o truque. Muita gente fica um pouco confusa e o vendedor repete a operação. Muitas vezes, as pessoas compram a novidade sem nem saber usar direito. “Eu não sei, olhei, achei legal. Agora, em casa, dou uma treinadinha e tudo bem”. <p><b>É UM BOM SERVIÇO</b> <p> Nem todos os camelôs o são por necessidade, por serem doentes ou encostados no INPS. Jurandir trabalha no ramo porque gosta. “Estou com 28 anos e trabalho desde os 18. Não tenho profissão e, graças a Deus, aqui me defendo <i>mais melhó</i> do que se fosse <i>trabalhá</i> de salário mínimo. Quase sempre tiro cento e poucos cruzeiros por dia e pago 35 por mês pro sindicato. Quem não é regularizado é porque não <i>tão</i> por dentro de onde deve ir. E depois tem <i>plobrema</i> com a fiscalização”. <br> Célia acha que é um serviço bom. Estudou até a 7ª série, parou e, agora, é camelô. Além disso, Célia inaugura um novo emprego: trabalhar em banquinha de camelô. “Eu trabalhava fora antes. Agora <i>tô</i> aqui, ganhando 60 cruzeiros por dia na banca do seu Francisco. Acho que o seu Francisco <i>veve</i> bem do negócio. Eu mesma abro, eu mesma fecho e ele só vem aqui, recebe o dinheiro e pronto. Tem dias que dá mais de duzentos cruzeiros; noutros, quase não dá. O seu Francisco tem carteirinha e tudo, e nesta semana ele <i>tá</i> caminhando pra <i>botá</i> o meu nome na carteirinha. <i>Cruiz credo</i>! Se a fiscalização chega, nem sei...” <p><b>AGRESSÕES</b> <p> “Os camelôs também são gente e têm o direito de trabalhar como todo mundo”. Assim Carlos Eisenhut Filho, presidente do Sindicato dos Vendedores Ambulantes e Feirantes do Estado do Rio Grande do Sul, fala dos camelôs e das agressões e intimidações que a categoria vem sofrendo ultimamente. “A SMIC, a Prefeitura e a Brigada Militar — explica Eisenhut — não são responsáveis pelas agressões que vêm sofrendo os vendedores ambulantes e os camelôs”. E denuncia: “o responsável é o senhor Alécio Ughini, diretor da Associação Comercial de Porto Alegre. Ele quer a retirada dos camelôs dos seus pontos de trabalho”. Mas o Sindicato só pode agir em favor daqueles que estão devidamente legalizados, que tenham alvará da SMIC e sejam filiados ao órgão de classe. “Se for necessário — diz Eisenut —, iremos às últimas consequências”. <br> A profissão de camelô está devidamente regulamentada pela Lei Nº 3.187. Ela estabelece as condições para que o trabalhador seja regularizado. O primeiro passo é que seja cadastrado na SMIC e, depois, se sindicalize. Assim, ele receberá um crachá e um ponto para trabalhar. <br> “São trabalhadores honestos e assim devem ser reconhecidos”, diz Eisenhut. <p><b>HONESTIDADE DUVIDOSA</b> <p> Mas há uma certa malícia na “honestidade” de alguns. Comop no caso daqueles cachorrinhos de brinquedo que só latem na mão do camelô. Com um apito escondido sob a língua, o vendedor faz o som ao mesmo tempo em que aperta o sifão que move o cachorro. O desavisado que compra, leva pra casa um cachorrinho mudo. <br> Outros têm um esquema tão bem bolado que chega a ser um caso de marketing. Enquanto apregoa o seu artigo, o pessoal olha desconfiado. De repente, alguém se deixa levar. Logo, mais outro também decide comprar. E o pessoal começa a adquirir a mercadoria, incentivado pelos primeiros compradores. Passando um tempo, quando não há mais nenguém por perto, voltam os dois primeiros, devolvem a mercadoria e recebem de volta o dinheiro. Assim que o pregão chama mais gente, a operação recomeça. <p><b>O PROBLEMA DO CEGUINHO</b> <p>O Arthur ainda é daqueles que fazem propaganda da mercadoria, mas honestamente, sem contar com qualquer esquema. A falta de visão talvez lhe tenha deixado aquele ar de paciência. Na Rua da Praia, alheio à passarela de urgentes executivos, misses de verão e paqueradores inoportunos, vai anunciando a sua naftalina, com voz forte e pausada. E sópara pra fumar de vez em quando. <br> “A gente vive porque não tem outro recurso de negócio. Não dá pra fazer boas vendas, pra trazer conforto pra dentro de casa como seria interessante. Tenho minha senhora e um gurizinho pra sustentar. Ganho também do INPS, mas não chega. Não me associo ao Sindicato porque, com o que ganho na rua, não dá pra pagar a mensalidade. Algum tempo atrás, quando o prefeito quis pôr as primeiras bancas pra cegos, eu fui um dos contemplados com um ponto. Aí fui trabalhar numa firma e perdi o ponto. Quando eu voltei, o prefeito tinha cancelado os pontos de banca. Quem tinha, tinha; quem não tinha teve que ir vender na rua. Se eu tivesse uma banquinha de bijuterias ou de frutas, conforme outros cegos têm aí, tranquilo, dava pra pagar o Sindicato e ainda levar um melhor conforto pra casa. No verão dá pra <i>defendê</i> uns 60 por dia, mas, no inverno, a gente tira 30 cruzeiros, quando muito”. <br> Com a escuridão nos olhos, Arthur solta o berro metálico do seu pregão: <p><b>“É naftantzantdrop. É <em>dois cruzeiro</em> o pacote. É con-tra-tra-ç’e barata. É <i>dois cruzeiro</i> o pacote!”</b> <p> E os pregões que ainda restam, seguem anunciando de tudo um pouco. Os recursos ficam cada vez mais sofisticados. Os antigos e criativos camelôs, com seus textos rebuscados, deixam o ponto para a gurizada arisca. A burocracia dos alvarás toma conta do romantismo folclórico. A pressa atropela o pitoresco. Quem não lembra da antiga Praça Parobé, da cobra Catarina e do lagarto José? </p></blockquote> <p align="center"><b>.:: o ::.</b> <p> Desde fevereiro de 2009, os camelôs do centro de Porto Alegre estão abrigados no que era pra ser inicialmente o Centro Popular de Compras, mas que acabou sendo conhecido como “Camelódromo” e chamado de “Shopping do Porto”, apesar de certo deputado querer acabar com os estrangeirismos. <br> O projeto, de iniciativa público-privada, tirou das ruas cerca de 800 camelôs e lhes concedeu um lugar com toda a infra-estrutura necessária para a prática do comércio. Localizado na Rua Voluntários da Pátria, o camelódromo comporta 800 lojas, praça de alimentação, lotérica, caixas eletrônicos, restaurante temático e estacionamento. Além disso, tem duas passarelas com vista panorâmica sobre a movimentada Avenida Júlio de Castilhos. <br> Em 2010, o Shopping do Porto venceu Prêmio Top de Marketing da ADVB/RS na categoria Pólos Comerciais. <br> Os camelôs — como eram chamados antigamente os vendedores ambulantes — são, hoje, prósperos empresários, locatários de lojas em um shopping, e já não anunciam mais “raibanspeiados”. <br> Ficou curioso pra saber o que seriam “raibanspeiados”? Trata-se de óculos de sombra, comumente chamados de Ray Ban — que é uma marca e não um tipo de óculos —, com as lentes espelhadas, surgidos na década de 70. </p> <p></p></div> Aldo Junghttp://www.blogger.com/profile/05457372921162098295noreply@blogger.com0