Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Digressões


     Acho que perdi uma leitora. E já eram poucos antes dessa defecção. Note, leitor que se mantém fiel, ali onde diz “Seguidores” há oito inscritos. Isto, contudo, não quer dizer que esses oito sejam meus leitores. Talvez, cada um a seu tempo, tenha lido alguma vez e resolveu inscrever-se como seguidor. Depois, nunca mais. Mas também não quer dizer que só aqueles oito costumam ler minhas postagens. Prova disso é que recebo, muito de vez em quando, comentários de anônimos sobre postagens antigas. Claro, o cara coloca o assunto que quer pesquisar no Google e, como o Blogger é da mesma empresa, apresenta seus resultados na primeira página da busca. E lá estou eu, ou melhor, lá está o meu texto sobre o assunto que o cara pesquisou. Ainda bem que comentam, caso contrário nem ficaria sabendo que alguém leu.
     Voltemos a minha leitora que já não lê minhas coisas. Quando escrevi a última postagem de maio, sobre os impostos, desconfiei que ela não leu. Talvez ela seja (ou era) a minha mais importante e influente leitora. Por isso parei de escrever e só voltei agora, em agosto, pouco mais de dois meses depois. Aliás, um parêntese, ou melhor, dois, um para abrir e outro para fechar: naquela hora que escrevi a postagem de maio, a arrecadação de impostos no Brasil estava em R$ 482.427.109.491,56. Sabe em quanto está neste exato momento, às 10h06min34s de 16 de agosto?

R$ 766.917.080.328,40!

     Voltemos, então, a minha leitora que já não lê minhas coisas. Acho que ela não gosta muito do meu estilo. Comecei falando na leitora que já não lê minhas coisas e digressionei, falando sobre impostos. É que quando fiz o primeiro vestibular ainda não tinha redação. Era 1972 e eu tentei Odontologia. Não obtive êxito. Mas não desisti. No ano seguinte, fiz vestibular pra Arquitetura. Também não deu. Naquele tempo, o ensino médio era dividido em Clássico e Científico. Para o Clássico iam aqueles que pretendiam alguma carreira na área das ciências humanas; para o científico, os demais. Eu fui para os demais, ou seja, para o Científico, inclusive porque sabia que não sabia, entre outras coisas, escrever, não era chegado às coisas da gramática e da última flor do Lácio, inculta e bela. Então, pensei em seguir profissões que exigiam coisas das exatas: biologia, química, física, matemática. Não me dei por vencido. Contrariando o meu próprio princípio, em 1975, ingressei na Faculdade dos Meios de Comunicação Social da PUC pra tentar ser, pasme, jornalista! Nada a ver com Científico, Odontologia e Arquitetura. Eram outros tempos e nem precisei fazer redação pra ser jornalista. Enfim...
     Depois de mais essa digressão, voltemos a minha leitora que já não lê minhas coisas. Talvez não seja por causa do meu estilo, que ficou capenga porque não optei pelo Clássico no ensino médio. Acho que ela se ocupa muito em ler, responder e encaminhar os cerca de 327 emails que recebe diariamente; com os 89 scraps que deve responder no Orkut; em jogar o Mah Jongg, no qual tenta insistentemente entrar no Hall of Fame. A propósito, por falar em emails, como a gente recebe entulhos. Tem pessoas entre nossos contatos cujo senso não é muito bom, que acham lindas todas as bobagens que recebem e entendem que têm que encaminhá-las pra todos os destinatários que estão nos seus catálogos. Como geralmente são pessoas do mesmo grupo, chega-se a receber três vezes a mesma coisa durante uma semana. E quase nada é aproveitável, principalmente os esculachos contra o Lula e a Dilma. Estranho é que, no meu caso, não recebo esculachos contra o Serra, por exemplo... Será que nem isso ele merece? E aquelas mensagens de autoajuda, aquelas com exemplos de vida? Bah!
     Bem, deixemos de digressionar e voltemos a minha leitora que já não lê meus textos. Eu insisto em chamá-la de “minha leitora que já não lê meus textos”. Ora, se já não lê meus textos, não posso considerá-la minha leitora. Agora tenho certeza: ela já não tem paciência com meu jeito de escrever. Começo falando de uma coisa e pego outra rota. Ainda vão inventar um GPS literário que avisa, com uma voz feminina sensual, tipo voz de aeroporto, quando o redator perde o fio da meada: — Volte atrás uma frase e repense seu texto. Você mudou de assunto! Mantenha a coerência. Pra mim seria ótimo.
     Quanto à leitora, finalmente prometo confessar: como sei que já não lê meus textos? Simples: é que, antes do tempo que dedica aos emails, Orkut e Mah Jongg, cumpre tarefas importantes como cuidar da casa, dos animais de estimação, das compras, do almoço, da janta, das contas a pagar, de levar a mãe a médicos... E, é claro, o principal: cuida de mim, deita todas as noites comigo e acorda todas as manhãs ao meu lado. Ela tem meu perdão. Seria querer demais que, além de tudo que faz, ainda descolasse um tempinho pra ler minhas digressões. Ela não precisa ser minha leitora. Quero apenas que continue sendo minha mulher, sem desvio de rumo ou de assunto, pro resto da vida!
     Hoje ela está de aniversário.
     Mesmo que não leias esta postagem, te deixo aqui um beijo e um abraço. Parabéns, meu amor!

2 comentários:

Clara disse...

Meu amor, literalmente "o meu bem"... chamar de divagações aquilo que tão bem o fazes, que é escrever sobre tudo, é sacrilégio e é engano quando pensas que não leio mais teus textos. Esta surpresa, que me homenageia, foi a coisa mais bonita que recebi no meu dia e assim como tu, também quero continuar sendo prá ti, na mesma proporção e inversão direta para o resto de nossas vidas, um para o outro. Obrigada por seres a minha vida. Te amo prá sempre!

Macfuca disse...

A respeito da leitura do teu blog e de todos os que acompanho realmente tem algo que acaba dispersando os leitores. A falta de postagens frequentes os se não por algum tempo estacionadas.
O fato é que na internet é tudo muito rápido e segurar o internauta não é fácil. Tornar-se escravo do blog também é um saco mas que a falta de postagens periódicas faz com que se acredite que não vale a pena entrar lá porque estará escrito a mesma coisa que da última vez que acessei , bom isso sim afasta o internauta. Com certeza não a mulher porque essa o que afasta somos nós mesmos e nossas manias rsrsrs. A não ser que a postagem seja elogianda demasiadamente alguma percanta.
Abração
Viu só como eu leio o que tu escreves!!!!