Vive-se numa época em que não se precisa mais de dinheiro (em papel moeda) e cheques. Os cartões de débito e de crédito os substituíram com vantagem para usuários e instituições. Eu, por exemplo, sempre tive problemas no preenchimento de cheques: ou errava o valor por extenso ou a data ou, até, a assinatura. Um saco!
Fazia muito tempo que eu não preenchia um cheque. Hoje, precisei. Com todo cuidado, não errei valor nem data nem assinatura. Uma coisa, no entanto, me chamou a atenção: ao escrever a data me dei conta de que já é outubro. Daqui a três meses estaremos em 2011. Putz!
Perceba, então, que este texto nada tem a ver com dinheiro, cartões ou cheques, mas sim com o tempo, a quem chamam de implacável ou inexorável, aquele que não perdoa.
Os dicionários têm muitas acepções para o verbete “tempo”. O Houaiss, por exemplo, define-o de 17 formas diferentes, em diversas rubricas. O Aurélio, por sua vez, tem 15 definições diferentes e mais 66 expressões em que se usa a palavra tempo (por exemplo: tempo compartilhado, a um só tempo, de tempo em tempo, nesse meio tempo, fechar o tempo, etc.). Em cada um desses dicionários, a primeira acepção é aquela que nos assusta. O Houaiss diz que o substantivo masculino tempo é “duração relativa das coisas que cria no ser humano a ideia de presente, passado e futuro; período contínuo e indefinido no qual os eventos se sucedem”. O Aurélio diz a mesma coisa: “tempo é a sucessão dos anos, dos dias, das horas, etc., que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e futuro”. E explica: “o tempo é um meio contínuo e indefinido no qual os acontecimentos parecem suceder-se em momentos irreversíveis”.
Desde a antiguidade, os filósofos perdem muito tempo pensando e falando no tempo. Se colocarmos no Google as palavras-chave “o tempo filosofia”, surgirão cerca de 7.130.000 de resultados em 0,23 segundos! Se o Google perdesse um segundo, acharia 31 milhões de resultados. Mas ele – e quem dele faz uso – quer tudo pra já. Ninguém quer perder tempo.
Horácio, um dos maiores poetas da Roma antiga lançou esta sentença: “carpe diem, quam minimum credula postero” (aproveita o dia presente e não queiras confiar no de amanhã). Ele achava muito importante aproveitar o presente sem demonstrar muita preocupação com o futuro, idéia que se assemelhava muito com a do filósofo grego Epicuro, que viveu dois séculos antes de Horácio.
Poetas e compositores modernos também esbaldam-se com o tempo. Afinal, eles só fazem isso porque têm tempo de sobra. Nosso poeta Mário Quintana, além de várias frases sobre o tempo, deixou-nos uma poesia com esse nome, que transcrevo aqui.
O tempoA vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é Natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Simples e fantástico, sem muita filosofia.
Cazuza também nos deixou uma música maravilhosa falando do tempo: O tempo não para. Dela destaco a estrofe,
Eu vejo o futuro repetir o passado,
Eu vejo um museu de grandes novidades.
O tempo não pára, Não pára, não, não pára.
Sérgio Britto compôs e os Titãs gravaram “Epitáfio”, que é um texto que o sujeito gostaria de deixar escrito no seu túmulo. Começa assim:
Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...
Essas belas formas poéticas de ver o tempo me fazem pensar que de nada adiantou Einstein ter revolucionado o pensamento vigente com sua teoria da relatividade. Pra mim, perdeu tempo. Mas isso relativo. O tempo é relativo. Numa partida de futebol, para o time que está perdendo, parece que o tempo passa rápido; para o que está ganhando, parece que demora; para os dois, contudo, passa de segundo em segundo ao mesmo tempo.
Einstein preocupou-se muito com o tempo e, além da teoria da relatividade, numa de suas tantas frases diz: “Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais”.
Muitos deixaram para a posteridade frases sobre o tempo. Marquês de Maricá, por exemplo, disse que “desperdiçamos o tempo queixando-nos sempre de que a vida é breve”. É do grande George Bernard Shaw a seguinte: “temos tempo bastante para pensar no futuro quando já não temos futuro em que pensar”. Uma das mais filosóficas veio de Antoine de Saint-Exupéry: “foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante”. Tem algumas engraçadas, como uma de Marcel Achard, um ator e comediógrafo francês nascido em 1899: “se uma mulher se vestisse só para um homem, com certeza não demoraria tanto tempo”.
Eu nunca digo minha idade quando me perguntam quantos anos tenho, mas sim que espero ainda ter muitos.
Veja só: enquanto pensava no tempo, não agi, e o tempo passou... Parafraseando outra de Mário Quintana, poderia dizer que o tempo é coisa que acaba de deixar o leitor um pouco mais velho ao chegar ao fim desta linha.
Portanto, caro leitor e cara leitora: carpe diem!
Um comentário:
Meu amor,
"O tempo é muito lento para os que esperam;
Muito rápido para os que tem medo;
Muito longo para os que lamentam;
Muito curto para os que festejam;
Mas, para os que amam, o tempo é eterno."William Shakespeare
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