Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







sábado, 23 de outubro de 2010

O caso da “bolinha de papel”



      Quarta-feira, dia 20, noticiou-se que o candidato José Serra havia sido atingido numa confusão entre militantes petistas e tucanos, durante caminhada em Campo Grande, no Rio de Janeiro. A notícia dizia que Serra fora atingido por um objeto que, segundo o Jornal Nacional, seria uma bobina de fita adesiva. O candidato teria ficado estonteado e, por isso, procurado um hospital onde passou por um exame de tomografia cerebral.
     Com certeza, a maioria dos telespectadores, inclusive os que não gostam do Serra, ficaram revoltados com a confusão beligerante e com a agressão ao candidato tucano.
     Na quinta-feira, no seu telejornal matinal, no entanto, o SBT exibiu a sequência dos fatos e mostrou que Serra fora atingido por uma bolinha de papel na parte posterior da cabeça, e não por algo que o levasse a ficar estonteado e a fazer uma tomografia. A reportagem foi para a internet e a comoção daqueles telespectadores da noite anterior mudou de lado.
     Nessa mesma manhã, em Rio Grande, o presidente Lula, que não consegue ficar quieto, abriu a bocarra pra condenar a atitude do candidato, classificando-o, inclusive, como mentiroso.
     À noite, contudo, a coisa mudou de novo. O Jornal Nacional exibiu imagens — de péssima qualidade — obtidas pelo celular de um repórter do “imparcial” e “isento” jornal Folha de São Paulo, que mostram Serra sendo atingido por um objeto circular e transparente.
     A casa caiu! Perdeu! Perdeu!
     Serra, que era vítima, passou a ser mentiroso e voltou a ser vítima. Lula, que se sentira enganado, passou a ser caluniador.
     É claro que o assunto não iria parar aí. A Globo contratou os serviços do perito Ricardo Molina, da Unicamp, para analisar os vídeos. Em entrevista, disse que o objeto — que parecia ser um rolo de fita adesiva — bateu na região superior da cabeça, frontal superior. Ocorre que o médico Jacob Kligerman — ex-secretário de Saúde da administração Cesar Maia (DEM) e nomeado por Serra a cargo de confiança quando foi ministro da Saúde —, que atendeu o paciente, disse que o objeto que teria estonteado o candidato teria lhe atingido na parte posterior da cabeça.
     A casa caiu de novo! Perdeu! Perdeu!
     Os dois, perito e médico, divergem quanto ao local onde a bolinha de papel e o outro objeto teriam atingido a cabeça de Serra. Resumindo: conforme as imagens, a bolinha de papel atinge Serra por trás; o tal rolo, no alto da cabeça (tanto que é ali que ele passa mão logo em seguida); o perito garante que o que causou o ferimento superficial atingiu a região superior da cabeça, frontal superior; o médico, por sua vez, diz que o objeto que causou o ferimento atingiu a região occipito-parietal (isso fica atrás...).
     Mas o tro-lo-ló ainda não terminou! Novos fatos surgiram. O vídeo feito com o celular do repórter Ítalo Nogueira, da Folha de São Paulo, foi impiedosamente manipulado e editado pela Globo. Não sou eu que estou dizendo. Isto está documentado num vídeo postado no Youtube, ao qual o leitor eleitor deve assistir, clicando aqui, para tirar suas conclusões..
     E então, a casa caiu de vez?
     E agora, José (Serra)? Onde dói? No coco ou no occipito-parietal? Como fica o câmbio flutuante no teu programa de governo? Afinal, o que pode mais: o Brasil, uma bolinha de papel, uma bobina de fita adesiva ou a Rede Globo?
     Como é que o famigerado perito Ricardo Molina não viu que o vídeo da Globo fora manipulado? Será que é porque foi contratado pela empresa para “peritar” as imagens?
     Como é que fica a cabeça do eleitor de acordo com o desenrolar dos fatos ou das “montagens”, sendo ele serrista ou não? Serra foi vítima de militantes petistas? Serra é um farsante mentiroso e Lula um caluniador? A Globo é uma farsante mentirosa, Serra concorda com isso e Lula não é caluniador?
     Você decide.

.:: o ::.


     Vamos, entretanto, dar uma pausa e relaxar um pouco.
     A todas essas, a criatividade, a oportunidade e a agilidade dos caras que fazem animações e joguinhos pra computador andam a mil por hora, mais rápido do que o avanço tecnológico de hoje em dia. Diria até que, se derem mole, a gurizada é mais ágil do que a divulgação dos fatos na internet.
     Mal se começou a comentar nas esquinas, nos bares, bolichos e baladas, nas paradas de ônibus, nas filas do SUS e do INSS, nas igrejas fundamentalistas e nas progressistas, nos consultórios médicos, nas camas das alcovas e nos sofás das salas de estar sobre o episódio da bolinha de papel, ou melhor, do rolo de fita adesiva, já apareceu um joguinho em que jogador tem que acertar bolinhas de papel na cabeça do Serra. Seja você ou não um daqueles indignados com o que aconteceu ao candidato, que depois se indignou com o que teria feito o candidato, que voltou a se indignar com o que aconteceu ao candidato, e que tornou a se indignar com o que fez a Globo, atire umas bolinhas virtuais de papel na cabeça dele clicando aqui.

Um comentário:

Luis Felipe R. Freitas disse...

Ótimo texto, Aldo.

Na minha opinião estamos progredindo num aspecto importante, e bastante, sobretudo graças a democratização da informação através da imprensa alternativa. Se fosse, digamos, há 20 anos atrás, teríamos a "verdade" única e absoluta sobre um fato, aquela determinada pela Rede Globo, pela Veja, pela Folha, pelo Estadão, e por "veículos" de imprensa similares.

Ou seja, essas (i)empre(ns)sas ainda podem a todo custo (inclusive o custo de fazer sangrar a verdade e de ridicularizar o tele-espectador ou leitor) tentar manipular um fato ocorrido, para gerar interpretações que lhes sejam favoráveis, e a seus candidatos. Mas fazer isso já não é tão fácil quanto antigamente, e quanto mais perdem credibilidade, maior deveria ser a lição de não fazer isso, porque, afinal de contas, não somos tão ingênuos jamais.

Abração,