Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Uns e outros


     Todos concordam que a campanha eleitoral deste ano está uma baixaria. Ao mesmo tempo em que “um” denuncia que a “outra” é a favor da descriminalização do aborto, aparece uma voz na multidão dizendo que a mulher do “um” praticou aborto; enquanto “um” fala das supostas trampolinagens do filho de Erenice, amiga e substituta da “outra”, esta fala da suposta sacanagem de Paulo Preto, correligionário e amigo do “um”, que desviou uma grana preta do partido. E por aí afora. “Uma” defendendo-se do que insinua o “outro” e vice-versa.
     Até a CNBB envolveu-se na baixaria. Uma tal de Comissão em Defesa da Vida distribuiu, ainda antes do primeiro turno, um “Apelo a todos os brasileiros e brasileiras”, assinado por alguns bispos da Regional Sul 1 da CNBB (São Paulo). O texto relaciona o PT e a presidenciável Dilma Rousseff à defesa da legalização do aborto e recomenda “encarecidamente a todos os cidadãos brasileiros e brasileiras” que, “nas próximas eleições, deem seu voto somente a candidatos ou candidatas e partidos contrários à descriminalização do aborto”. Agora, dois meses depois, o presidente dessa mesma Regional da CNBB condenou a nota. Segundo o texto, o grupo “desaprova a instrumentalização de suas declarações e notas e enfatiza que não patrocina a impressão e a difusão de folhetos a favor ou contra candidatos”. Não é o que pensa, entretanto, o vice-presidente da entidade, que diz que a nota (e o manifesto pensamento nela contido) é legítima.
     Em todas essas, por ordem do Tribunal Superior Eleitoral, a Polícia Federal apreendeu um milhão de panfletos com o conteúdo produzido pela Comissão em Defesa da Vida, em uma gráfica no bairro Cambuci, em São Paulo.
     Vejam até que ponto a igreja está envolvida: terminou em tumulto uma missa na tarde de sábado, dia 16, na Basílica de São Francisco das Chagas, em Canindé, no Ceará, em que estava presente o candidato José Serra. No final de celebração, o padre condenou a distribuição dos panfletos sobre o aborto. Afirmou que as mensagens estavam sendo atribuídas a igreja, mas que ela não havia autorizava este tipo de publicação em seu nome. O senador Tasso Jereissati, que acompanhou a missa ao lado de José Serra, se exaltou e afirmou que era um “padre petista” como aquele que estava “causando problemas à igreja”. Outros partidários do tucano também se exaltaram. O padre saiu escoltado por seguranças.
     Na saída houve um princípio de tumulto entre militantes do PT e do PSDB.
     Do que menos se ouve falar, porém, são de propostas, a não ser nos debates, em dois ou três minutos de resposta e mais um de tréplica, entremeado por uma réplica, entre uma acusação e outra, de parte a parte. E tudo muito bem alimentado pela imprensa.
     Baixaria em campanha eleitoral, contudo, não é novidade. Pra citar uma da era atual: no último debate da primeira eleição livre pós-ditadura, Collor “denunciou” que Lula tinha uma filha fora do casamento e um aparelho 3 em 1. O eleitor, ingênuo, deu crédito a Collor, provocando, no mínimo, 12 anos de atraso político, econômico e social ao Brasil e aos brasileiros. Atraso esse que se reflete na atual eleição.
     Desta vez, quem acabou sendo a estrela do primeiro turno foi a terceira colocada, Marina Silva, que se manteve alheia a ataques denuncistas. No segundo turno, uns e outros passaram a disputar os votos dados a Marina no primeiro. Mas ela ficou em cima do muro, alegando que a posição do PV não é de “neutralidade, mas de independência”. Para Marina, os dois candidatos deveriam privilegiar a discussão sobre propostas.


     De qualquer maneira, esse excesso de acusações e denúncias e a excessiva ausência de propostas pouco mudaram o quadro eleitoral. Agora que a disputa está entre dois, a última pesquisa divulgada (Datafolha, 15/10) dá conta de que, computados apenas os votos válidos, Dilma teria 54% dos votos e Serra, 46%. No primeiro turno, quando nove candidatos disputavam, Dilma obteve 46,91% dos votos válidos, Serra, 32,61%, Marina, 19,33% e os demais candidatos, 1,15%. Tomando-se por base os números da pesquisa, concluo, então, que cerca de 7% dos votos de Marina foram pra Dilma, enquanto 13% deles foram pro Serra. A diferença entre Dilma e Serra, que foi de 14,3% no primeiro turno, estaria, hoje, ainda segundo a pesquisa, em 8%.
     Tenho a impressão de que, tanto pra um como pra outro (ou tanto pra uma como pra outro) correr atrás dos votos da Marina é perda de tempo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Concordo contigo, caro Aldo..
Os milhões de brasileiros e eu estamos enojados desta política barata que leva o nada a lugar nenhum.Continuo visitando teu blog diariamente..parabéns!