"Depois de algum tempo você aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida." (William Shakespeare)
Em 24 de outubro de 2009 postei neste blog o texto The Old Stones. Confira aqui.
Se não estiver interessado ou não tiver tempo agora, reproduzo o final daquele texto.
The Old Stones cresceu e ficou conhecido em Porto Alegre e algumas cidades do interior. Durou alguns anos e, depois, cada um seguiu seu rumo, tocando em outros “conjuntos“.
Em 1996, para comemorar os 30 anos de que havíamos tocado pela primeira vez, o Buffalo promoveu um jantar dançante e os Old Stones se reuniram de novo.
Pois bem, na noite passada, os Old Stones reuniram-se novamente. Não pra tocar, mas pra celebrar a velha amizade de 44 anos. Na verdade, 244 anos estavam ao redor de uma mesa. Se somarmos a idade do proprietário do bar, que também foi parte daquele círculo, teremos, então, 302 anos.
Calma. Somos do século passado, mas o atual só tem nove anos, portanto... Explico melhor. Quando nos conhecemos, eu e o Júlio tínhamos 16 anos, o Buffalo, 17, o Português, 15 e o Tonho, proprietário do bar, 14. Hoje estamos, respectivamente, com 61, 62, 60 e 58.
A história dos Old Stones você já leu (se ainda não leu, faça o favor). Nela, contudo, não falei do Tonho. O João Antônio era um guri que morava na minha rua, onde ensaiávamos. Como também curtia música, estava sempre junto e era um dos que carregavam instrumentos e amplificadores quando íamos tocar (hoje em dia é uma profissão e chama-se roadie). Uma vez a banda ia viajar para o interior e o Português não poderia ir. De tão entrosado que era com o grupo, nem pestanejamos em convidar o Tonho pra substituir o Portuga na excursão. Mas ele era tão guri que a mãe dele não deixou. O Português acabou indo.
Os Old Stones terminaram. Eu e o Buffalo seguimos tocando em outras bandas. Primeiro juntos, nos Hooligans, depois para lados diferentes: ele para os Invencíveis; eu para a Banda do Pentágono da Paz e, finalmente para o Caos. O Português ainda tocou numa banda chamada Nômades, na qual acabou substituído pelo Tonho. O Júlio, por sua vez, não tocou mais, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, casou-se, foi morar em Tubarão — onde mora até hoje — e tornou-se um profissional da área financeira, aposentando-se pela extinta RFFSA. O Buffalo trabalhou e se aposentou pela Caixa Federal. O Português é engenheiro, tem uma empresa de engenharia e ainda trabalha. Eu trabalhei alguns anos com publicidade, formei-me em jornalismo e, desde 1979, trabalho na UFRGS. Não me aposentei. O Tonho seguiu carreira no meio artístico, trabalhando em rádio, tocando em grupos famosos como a Banda dos Corações Solitários, que é banda do pub Sgt Peppers — do qual era sócio —, e no grupo musical humorístico Discocuecas. Ficou conhecido como garoto propaganda das lojas Tevah e suas jaquetas reversíveis e, atualmente, ainda aparece em comercial da Jimo. Tonho é proprietário do John's Pub, local em que os Old Stones se reuniram ontem.
Voltando ao encontro de ontem. Foi uma oportunidade de matar a saudade de um tempo que, se voltasse, com certeza nós cinco faríamos tudo exatamente como fizemos. Se não fosse assim, não teríamos sobre o que falar nem o que comemorar 40 anos depois.
A memória é uma coisa estranha. Algumas passagens eram lembradas por todos, em uníssono. Chamou-me a atenção, no entanto, o fato de cada um lembrar-se de acontecimentos que, apesar de vividos por todos, permaneciam apenas na memória de um ou de alguns, respectiva e vice-versamente (putz, essa foi braba!). Outras coisas se perderam no tempo e se embaralharam de tal modo que alguns lembravam de um pedaço, outros, de outro. No somatório, contudo, acabamos enriquecendo nosso repertório de lembranças.
Quero ver repeti-las no próximo encontro.
Muito eu teria para contar sobre a trajetória desses guris cabeludos que, na década de 60, se juntaram com o objetivo de fazer sucesso com a música e “ganhar” todas as gurias que pudessem. É coisa pra livro, mas que, com certeza, só interessaria aos The Old Stones.
5 comentários:
Gurizada medonha
Cada vez que "nos vejo" juntos, vem à memória muitos e muitos momentos vividos com grande intensidade (de alguns eu já esqueci ou então o Julio é um bom inventor de histórias).
Lembro que as vezes pensava em como seria o futuro,o nosso futuro, que naquela época era do tipo "incerto e não sabido". Porém nunca poderia imaginar (nem nos meus mais loucos devaneios) que quando sessentões sentariamos numa mesa de um pub/bar (por sinal, ótimo) e nos veriammos ainda guris, cheios de energia, planos e (ainda) muitos sonhos.
Não sei o que, ou Quem, guia os nosso passos, mas esse "Quem" certamente estava de bom humor quando criou o roteiro das nossas vidas.
Parabéns a esses excelentes músicos e obrigado pela parcela musical da minha existência.
Um forte abraço a todos.
Caros Stones
Ontem, durante nosso encontro, como disse o Tonho, desfilou um filme das nossas vidas, um longa metragem que está passando até agora pois ainda não me curei da ressaca emocional que o encontro me causou. Já me encontrei várias vezes com o Aldo, muitas com o Português, o Julio já veio em minha casa, mas quando estamos todos juntos a coisa fica mágica. Ontem eu estava com 18 anos naquela mesa. Agora já estou com uns 50. Talvez amanhã eu já tenha retornado aos meus 62, e começado a torcer para que o próximo encontro não demore muito pois já estou com saudade dos meus 18 novamente.
Amo vocês
Adorei o texto e as postagens. Que bom sentir, que o encontro foi especial e o que depender de mim, para os próximos, está liberado, meu amor!
Que encontro histórico! É notável a passagem tempo! Mas só enriquece esta velha e eterna amizade. Na próxima me avisem que eu vou como carregador de instrumentos para emprestar um pouco de juventude ao encontro. Pelo menos em retrib uição a todas as tardes de sábado que eu tive que aguentar os ensaios na garagem da casa do Seu Romualdo.
Beijo, Egon
Por Julio:
Daí gurizada de ontem ! na verdade estes gurís são perpetuados; parafraseando o Buffalo, a gente quando "se ajunta",é como se estivéssemos nos nos anos 60, 70, gurís cheios de energia e sonhos, talento sendo lapidado para enfrentar a realidade. O que é interessante é que a gente amaduresce mas não muda muita coisa, são aqueles meninos com as mesmas "manhas", hoje sessentões. Altamente positivo o nosso encontro, com o tempero especial de encontrar o Tonho Cueca e conhecer o seu "John's Pub", nota 10.
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