Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ademã, que eu vou em frente!

     Acordei domingo, 4 de setembro, com um ano a mais, completado às três da madrugada, hora em que surgi há 62 anos. Ao olhar no espelho, não notei no meu rosto diferenças de um passado recente. Nem sei quando minhas pálpebras começaram a debruçar-se sobre os olhos; quando algumas rugas começaram a emoldurá-los e outras, verticais, instalaram-se acima do nariz, entre as sobrancelhas que, por sinal, quase desapareceram; quando o bigode chinês acentuou-se e as bochechas derreteram sobre o pescoço; quando e por que comecei usar o cabelo cortado rente à cabeça; e quando a barba embranqueceu. Àquela hora da manhã, a cara no espelho me parecia a mesma de sempre.
     Fiquei um tempinho me encarando, tentando descobrir há quanto tempo minha cara foi diferente daquela. Segui mecanicamente os passos cotidianos: lavei as mãos, pois acabara de desaguar as cervejas da noite anterior, passei uma água no rosto, escovei os dentes, apaguei a luz e fui preparar o café. Fiquei o tempo todo buscando uma imagem no passado, quando ainda não tinha, por exemplo, os vincos da testa. Pra isso, tinha que pensar em fatos. Lembrei, então de uma data em 1996, quando voltei a tocar numa banda de rock. Putz! Só pegando uma foto. Não me lembro como eu era...
     Foi o que fiz. Peguei algumas fotos de outubro de 96, do show de reestreia de uma banda em que havia tocado na década de 60. Não estava muito diferente. A barba do mesmo tamanho, só que preta; os cabelos, já curtos, mas com um pouco mais de quantidade e também mais pretos. As fotos são muito pequenas. Não deu pra perceber se já existiam rugas.
     Teria que voltar mais no tempo, procurar outra referência. Se um pulo de 15 anos pra trás não mostrou muita diferença, quem sabe saltar o dobro disso? Fui até 1980 e 1979, anos em que nasceram meus filhos. Ah! Agora se percebe diferença! Aquele da foto não é o mesmo que se olhava no espelho há poucos minutos. Cabelos mais compridos, barba bem aparada e escura, pele lisa, sem vincos.
     Mas ainda não estava contente e queria saber quando os cabelos mudaram radicalmente. Fui avançando ano por ano naqueles velhos álbuns de fotos: 81, 82, 83, 84, 85, 86... Oba! Achei! De repente, não mais que de repente, em 1986, aqueles cabelos que subiam nas orelhas deixaram-nas descobertas! Eles estavam, então, espetados pra cima, cheios de gel. Lembrei-me da época e da ocasião que me fez cortá-los. Abrira um salão maneiro perto da minha casa, no Bom Fim, que várias celebridades provincianas andavam frequentando. Levei lá minha filha, então com sete anos, e meu filho, com seis, pra cortar os cabelos. Aceitei a sugestão do estilista, que cortou o longo cabelo loiro da minha filha como os de um punk (corte de cabelo que muitos jogadores de futebol usam hoje, ao qual chamam de moicano). Da nuca saía um belo rabo até a metade das costas. Com o meu filho ele fez parecido, mas não tão radical, mesmo porque ele nem tinha cabelos compridos.
     Dias depois também fui lá cortar os cabelos e saí de lá com um jeitão de yuppie. Para os que talvez não saibam, um parênteses: segundo o Wikipédia, yuppie é uma derivação da sigla “YUP”, expressão inglesa que significa Young Urban Professional (Jovem Profissional Urbano). É usado para referir-se a jovens profissionais entre os 20 e os 40 anos de idade, geralmente de situação financeira intermediária entre a classe média e a classe alta, que, em geral, seguem as últimas tendências da moda. O termo yuppie descreve um conjunto de atributos e traços de comportamento que se constituíram num estereótipo comum nos EUA, Inglaterra e outros países do ocidente.

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     Puxa, me dei conta de que faz um quarto de século que meu corte de cabelo sofreu a tal mudança radical! Voltei a me olhar no espelho e fiquei a imaginar como estarão eles daqui a outros 25 anos. Sim, pois não pretendo me entregar e espero ter quase tanto futuro quanto já tenho de passado.

     Por falar em futuro, como dizia Ibrahim Sued*: “Ademã, que eu vou em frente!”

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Aldinho! Não sei se notastes,mas pertences a "classe" dos atemporais,onde vincos, dobras,péles e outras formas físicas adquiridas ,servem só como referencia,ao olhar no espelho e poder enchergar todos os Aldos que povoam este ser,que com certeza,tem muito mais sonhos, juventude e vontade de viver, que muitos de péle rósea e lisa.Um abraço e parabéns.Da velha amiga,ou amiga velha Rosangela Almeida

Graça Craidy disse...

No age at all! ;-)