Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







domingo, 25 de setembro de 2011

Jaguarão

     Estive em Jaguarão. Precisava repor o estoque de vinho, Amarula, Carolina Herrera e Hugo Boss. Escolhi a hora errada: o dólar subia feito louco. Azar. Se continuar alto quando vier a fatura do cartão de crédito, posso dizer que valeu pelo passeio e pela companhia de Clara, minha mulher, excelente companheira em todos os sentidos, inclusive de viagem.

Jaguarao      Vamos nos situar: Jaguarão fica no extremo sul do Rio Grande do Sul e faz fronteira com a cidade de Rio Branco, no Uruguai. A divisão entre os dois países é determinada pelo rio Jaguarão, cujo curso tem 270 quilômetros. A travessia para o lado uruguaio e vice-versa é feita pela Ponte Internacional Barão de Mauá, que tem uma extensão de 870 metros e sobre a qual há departamentos da Aduana uruguaia e da Receita Federal brasileira.

      Foi o Barão do Rio Branco que emprestou seu nome à cidade do lado uruguaio, pertencente ao Departamento de Cerro Largo, onde, em uma só rua, estão localizadas várias lojas do sistema free shop. Cada brasileiro pode comprar até um limite de 300 dólares americanos. As mercadorias são de primeira qualidade e os preços, livres da pesada carga tributária brasileira, são bem menores dos que os praticados aqui.
     Das cidades de fronteira com a característica de ser zona de free shops, Jaguarão é a mais próxima de Porto Alegre: 383 km. Aceguá — que divide com cidade do mesmo nome no Uruguai — fica a 428 km; Santana do Livramento — que faz fronteira com Rivera — fica a 489 km; e Chuí — que faz divisa com Chuy —, a 517 km. Em termos de área e população, Jaguarão perde pra Livramento. Santana do Livramento é maior e mais populosa: 6.950 km² e 83 mil habitantes. Jaguarão tem 2.054 Km² e cerca de 28 mil habitantes. Aceguá (1.549 km²) é maior do que Chuí (203 km²), mas tem população menor: quatro mil contra cinco mil habitantes.
     De acordo com dados da Biblioteca do IBGE, o nome Jaguarão é uma corruptela de Jaguanharo (tupi): cão bravo ou onça feroz; ou, segundo Alfredo de Carvalho, aumentativo português de jaguar.
     Em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso, a área do atual município de Jaguarão ficava em terras espanholas. As origens da cidade remontam a 1802 num acampamento militar fundado às margens do Rio Jaguarão pelo tenente-coronel Manuel Marques de Sousa (como, aliás, começaram vários municípios do Rio Grande do Sul).
     Deve seu primitivo nome, Guarda da Lagoa e do Cerrito, a um posto fortificado dos espanhois, situado a seis quilômetros da atual cidade de Jaguarão. Ali, em 1801, devido a questões militares entre Portugal e Espanha, estabeleceram-se as forças do Coronel Marques de Sousa. Ajustada a paz em virtude de armistício, a coluna Marques de Sousa retirou-se, ficando apenas uma pequena guarda de 200 homens, sob o comando do tenente-coronel Jerônimo Xavier de Azambuja. Em janeiro de 1812 foi criado o distrito com a denominação Divino Espírito Santo do Cerrito. Ainda com esse nome foi elevado à categoria de vila, em julho de 1832. Finalmente, tornou-se cidade com a denominação de Jaguarão, em novembro de 1855.
     Jaguarão tomou parte destacada em diversos acontecimentos militares de nossa história, entre os quais a Revolução Farroupilha, em 1835, e a Invasão Uruguaia de 27 de janeiro de 1865, quando 1.500 caudilhos “blancos” invadiram e saquearam a cidade, chefiados por Basílio Munhoz.
     As estradas de Porto Alegre até lá são razoáveis. Trafega-se pela BR 290 e BR 116. Nos pouco mais de 380 quilômetros, em quatro horas e meia de viagem passa-se por seis praças de pedágio na ida (R$ 36,90) e cinco na volta (R$ 29,40), totalizando R$ 66,30. Um pouco antes de entrar na cidade de Jaguarão fomos parados pelo exército, numa barreira da operação Ágata II, que visa fiscalizar o comércio ilegal de armas, explosivos, drogas, agrotóxicos, produtos eletrônicos e o escambau. Só olharam nossos documentos e o documento do carro. E se o porta-malas estivesse cheio de alguma dessas coisas?
     Jaguarão parece ainda viver sua história. Existem mais de 800 prédios catalogados na Prefeitura Municipal por suas fachadas, que conservam vários estilos arquitetônicos. A cidade é conhecida pelas portas desses prédios dos séculos XIX e XX, muitos deles ainda servindo como residência. Dentre elas, destaca-se a do senhor Jean Macksoud, que possui a porta considerada a mais bonita do Estado. Quem quiser se aprofundar no estudo da arquitetura de Jaguarão, sugiro a leitura de Ecletismo Arquitetônico em Jaguarão: um estudo, dissertação de mestrado de Lidiane Corrêa Ensslin apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRGS.

     Quem vai a Jaguarão para fazer compras nos free shops de Rio Branco encontra pelo menos 15 opções de hospedagem. Destacam-se nesse setor o Hotel Sinuelo, com 45 apartamentos, e o Crigial Hotel. Ambos são próximos à Ponte Barão de Mauá. Há também cerca de 15 restaurantes à disposição dos turistas para almoço, com destaque para o Red’s Restaurante, com seu buffet a quilo e grelhados. À noite, as opções se resumem a umas duas ou três pizzarias, destacando-se a Pizza Mia. Mas a point mesmo é a Panificadora PaneMio, um lugarzinho bem agradável, que serve lanches deliciosos. Como tudo tem pelo menos um problema, a PaneMio não deixa por menos: além de ser um local com poucas mesas, o lanche, seja qual for — uma torrada, um cheese, um bauru —, demora no mínimo meia hora pra ficar pronto. É uma pena...
     Feitas as compras, retornamos. Dessa vez o exército nos deixou passar na barreira. E se o porta-malas estivesse cheio de contrabando ou descaminho?

4 comentários:

vidacuriosa disse...

Muito bom. Uma aula de história de geografia gaúchas. E de curiosidades. Legal essas origens de nomes. Me amarro nas derivações do tupi-guarani.

Sabrina Chagas /Jaguarão disse...

É maravilhoso e gratificante ler a história de nossa cidade e saber que as pessoas prestigiam a mesma.Valeu!!

Jorge Ramiro disse...

É muito importante preservar o património cultural e arquitectónico do nosso país. É preservar uma parte da nossa história. Que de outra forma seriam destruídas. Muitos dos restaurantes em santana são os edifícios históricos da cidade.

Anônimo disse...

Realmente é uma riqueza de informações, una aula de história e riqueza de conhecimentos de nossas origens. Parabéns a esse blog