Houve um tempo, do qual ainda lembro, que as pessoas costumavam trocar cartões de Natal. Meu pai, sujeito muito organizado, mantinha uma lista de parentes e famílias de amigos à qual recorria nessa época, todos os anos. Para cada um, além do texto que vinha impresso nos cartões, mandava uma mensagem personalizada de poucas palavras. Ele escrevia alguns; minha mãe, outros. Lembro-me até da letra de cada um: a do meu pai, elegante e legível, com jeito de quem se debruçava sobre os cadernos de caligrafia; a da minha mãe, também legível, mas bem simples, de alguém que se alfabetizou lá por 1917, em Caxias do Sul.
Havia um fato que me chamava a atenção: só mandavam cartões a quem, no ano anterior, os tinha retribuído. Aquela lista de parentes e amigos tinha uma marca ao lado do nome de quem não respondia com iguais votos de Feliz Natal e Próspero Ano Novo. A cada ano, essa relação de nomes ficava menor. Havia duas implicações nesse ato: uma moral, de “não lembrar” de quem não se lembrava de nós; outra financeira, pois era menos despesa com cartões e remessa pelos correios.
Mais tarde, quando eu já tinha meus filhos, procurei manter esse costume. Não tinha uma lista de nomes, mas mandava cartões a parentes e a amigos mais íntimos. Mantinha, também, o hábito de só mandar a quem respondera aos votos do ano anterior. Essa troca de cartões, contudo, não durou muito. Eram tão poucas as respostas que acabei deixando esse costume de lado.
Com o advento da informática, mas antes da internet, passei a confeccionar e a imprimir os poucos cartões que enviava. Apelava pra criatividade e montava belas (e modestas) mensagens com fotos da família e textos personalíssimos, que não seriam lidos em nenhum cartão comprado.
Foi então que a internet se popularizou. As pessoas e os carteiros passaram a ter menos trabalho. As pessoas porque não precisam mais ir a uma livraria comprar os cartões, escrever nome e endereço do destinatário, etc.; os carteiros porque não têm mais aquele volume grande de correspondências para entregar nos finais de ano.
Agora, os que ainda mantêm a tradição de trocar cartões de fim de ano recorrem à internet em busca de imagens bregas de papais noéis, renas, guirlandas, pacotes de presentes ou, então, de apresentações em Power Point (os famigerados arquivos “pps”) com textos igualmente bregas e quilométricos, com imagens que levam horas pra trocar e com aquelas musiquinhas de Natal muito chatas de fundo, que levam um tempão pra carregar no computador da gente. Encontrado o objeto, o trabalho que têm é encaminhá-lo à lista de contatos eletrônicos, todos de uma vez. Pronto, cumprida a “obrigação”.
Confesso que faço quase o mesmo. Repito os passos das duas últimas frases do parágrafo anterior: mando a mensagem a minha lista de contatos e me sinto com o dever cumprido. Passo longe, no entanto, da primeira fase, de procurar desenhos e mensagens bregas. Faço as minhas próprias mensagens cafonas.
Neste ano, antes de mandar minha mensagem, havia recebido apenas uma, de um velho amigo, que também se valeu de sua criatividade escreveu um belo texto e acrescentou o link para um vídeo do Youtube. Depois que mandei a minha, recebi alguns agradecimentos e retribuições, muitas em forma de arquivos “pps” sem criatividade alguma.
Só de raiva, fiz em Power Point a mensagem deste ano. Não tive coragem, entretanto, de fazer como aquelas apresentações demoradas. É apenas uma página com um texto e uma foto que compartilho com vocês (claro que não em “pps”, mas adaptada ao formato desta página). Quero ver se alguém vai responder.
Fantasia
Nos imaginamos como um casal bonito e famoso. Tipo assim: Richard Burton e Elizabeth Taylor; Tom Cruise e Katie Holmes; Michael Douglas e Catherine Zeta-Jones, enfim, qualquer um dos tantos. Escolhemos ser Brad Pitt e Angelina Jolie. Graças ao Photoshop, isso foi possível, mesmo que virtualmente, visível no monitor do computador, no porta retrato digital, num álbum de fotos reproduzido na TV ou até impresso.
Isso é uma coisa puramente ideal ou ficcional, sem ligação com a realidade. É o que chamamos de fantasia
Que bom se fantasia e realidade trocassem de lugar. Isto, claro, é mais uma fantasia. Pra citar um exemplo mais atual, imagine traficantes entrando em delegacias e se entregando pacificamente; imagine a polícia invadindo casas humildes para entregar cestas básicas; imagine uma cesta básica com filé mignon, picanha, foie gras; imagine todas as ruas de Porto Alegre asfaltadas e sem congestionamentos; imagine ar puro, sacolas de papel, garrafas de vidro... Imagine o contrário de tudo que você acha ruim. Fantasie. Seja criativo. Não se deixe levar pela realidade, mas, com os pés no chão. Enfrente o futuro.
Esteja pronto pra 2011.
Clara e Aldo
Um comentário:
Meu amorAldo Pitt.
Não sei os outros, mas nós estamos preparados e com os pés no chão, para enfrentarmos juntos mais um ano.
Mais um ano de amor e convivência com esse homem bom, criativo e que me faz muito feliz.
Um feliz 2011 para todos nós!
Te amo, um ano de cada vez!
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