Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







sexta-feira, 15 de abril de 2011

Vontade é uma coisa que dá e passa?

     Um dia, O Magro do Bonfa, personagem do humorista André Damasceno, disse em plena aula, em voz alta: — Bah! Tô cuma vontade de comer de novo a Luma de Oliveira! Imediatamente, o professor Damasceno questionou-o: — Qualé, Magro, e por acaso tu já comeu a Luma de Oliveira? E a resposta: — Não, mas to cum vontade de novo!
     Só sei isso da história. Não sei se o Magro matou sua vontade de novo ou não. Se já tinha matado uma vez, sabe-se lá como, seria fácil matá-la de novo; caso contrário, era só esperar, pois, segundo o dito popular, ela passaria.
     O bordão do título pode funcionar para algumas coisas, como a do Magro. Ele sente a vontade de transar com alguém específico, fora de seu alcance e de seu cacife. Como não pode, dá um jeito ou esquece. Por outro lado, a vontade seria satisfeita se o ato fosse realizado com alguém possível. Outro exemplo é o caso de vontade para necessidades fisiológicas, que também é fácil de resolver. Se der vontade, é só fazer e pronto, desde que haja certas condições. Experimente dizer que vontade é uma coisa que dá e passa pra alguém que antes de embarcar num ônibus intermunicipal, sem escala e sem WC, comeu um pastel na rodoviária do interior e a azeitona fez mal. Será que a vontade que deu dentro do ônibus, no meio da estrada, vai passar assim, sem mais nem menos? Duvido, nesses casos, a vontade só passa quando satisfeita.
     Afinal, o que é vontade? Entre outras coisas, é a “faculdade de representar mentalmente um ato que pode ou não ser praticado em obediência a um impulso ou a motivos ditados pela razão.” Olha só: um ato que pode ou não ser praticado! Dependendo do tipo de ato, a vontade não vai passar se ele não for praticado.
     Por que, afinal, esse papo de vontade e a referência ao bordão do título? Simples: porque estou com vontade de fumar, mas, como parei, não vou satisfazê-la. Mas quem disse que vai passar?

vontade de fumar
     Pra me ajudar a parar de fumar, participei do “Programa de Cessação do Tabagismo” da UFRGS, uma parceria entre Departamento de Atenção à Saúde e o Laboratório de Psicologia Experimental, Neurociências e Comportamento do Instituto de Psicologia. O programa utiliza técnicas de abordagem cognitivo comportamental que auxiliam a parar de fumar. Foram quatro encontros, um por semana, nos quais o grupo participante ouviu e falou sobre temas como dependência química, psicológica e comportamental, estratégias para deixar de fumar, síndrome de abstinência e exame de crenças e pensamentos disfuncionais sobre o uso do cigarro, entre outros. Como não poderia deixar de ser, uma frase recorrente em todos os encontros foi a famosa “vontade é uma coisa que dá e passa”, complementada por outra: “não nascemos fumando”.
     Depois do segundo encontro, resolvi diminuir o consumo pela metade: de 20 cigarros por dia, passei para 8 ou 10. Nas horas daqueles cigarros que não fumei nesses dias, contudo, me dava vontade que só passava quando eu acendia o próximo cigarro. Assim, eu tinha de 12 a 10 “vontades” de fumar por dia, ou seja: não esperava pra ver se a vontade passava, como me disseram tantas e tantas vezes durante o programa.
     Fiz um trato comigo mesmo: pararia totalmente de fumar assim que terminasse o maço de cigarros que estivesse em uso no último encontro. E ele terminou na manhã do dia seguinte (já falei sobre isso na postagem abaixo desta). Faz, portanto, mais de uma semana que parei de fumar, mas a vontade continua.
     Aos poucos vou aprendendo a conviver com a lenda que diz que “vontade é uma coisa que dá e passa”. É claro, quando ela é muito forte, tem-se que dar um jeito e disfarçar fazendo outra coisa. Conheço gente que deixou de fumar há mais de 20 anos, mas que ainda sente vontade de vez em quando.
     Portanto, se o ato é possível de ser executado, a vontade de efetivá-lo só passa se for satisfeita. Então: não é qualquer vontade que passa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Aldo,

Fumei por apenas 2 anos e parei faz 19 anos. Não posso dizer que eu sinta vontade. Entretanto, quando estou junto a alguém fumando, é certo que imediatamente a memória das sensações que eu tinha ao acender um cigarro me vem com toda a carga. Entendo, por isso, o que vc está sentindo. O pior são os primeiros tempos. É difícil não cair na tentação de fumar nem que seja um cigarrinho. Considero para o tabagismo o mesmo princípio empregado ao alcoolismo: um dia a menos. Hoje, faz 19 anos, um mês e 6 dias que eu deixei de fumar.

Anônimo disse...

Amor, como diria o Ivan Lins:

"Com força e com vontade, a felicidade há de se espalhar com toda intensidade".

Vamos lembrar disso, juntos! Te amo.