Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







terça-feira, 27 de outubro de 2009

Chaves


     Hoje fiquei mais jovem. Se não aparentemente, pelo menos virtualmente, de acordo com uma teoria minha. Ela diz o seguinte: quanto mais velhos ficamos, mais chaves temos no chaveiro. Olhe quantas chaves têm no seu chaveiro. Agora, no chaveiro dos seus filhos. Estou certo?
     Meu pai tinha um chaveiro repleto de chaves, que estava sempre preso ao cinto. E isso que naquela época, há 50 anos, nem se precisava trancafiar tudo, pois os amigos do alheio eram em número bem menor do que hoje. Pelo menos em número menor do que o de chaves que se carregava. Mas meu pai sempre gostou de trancar tudo. Tinha seus armários cheios de livros — um dos seus tesouros —, os quais, quando emprestava, fazia uma ficha, assim como nas bibliotecas; também tinha cofre e gavetas com documentos, sempre chaveadas. Mais as chaves de casa e do escritório. Seu chaveiro era enorme.
     Hoje em dia, os portões e portas das casas, apartamentos e dos nossos locais de trabalho têm, no mínimo, duas fechaduras. São comuns portas com três fechaduras. Meu chaveiro, por exemplo, tinha, até há poucos minutos, 10 chaves. Vejamos: a do portão da grade do edifício; a da porta do edifício; a da caixa de correspondência; duas da porta de segurança do apartamento; duas da porta do apartamento; a do portão lateral da grade do prédio; a da lixeira do prédio; a do claviculário do meu trabalho... Dez. Eram 11, mas minha mulher precisou de uma que eu tinha, que é da porta da grade de ferro de um edifício onde ela tem um apartamento.
     Como eu disse, fiquei mais jovem. Me livrei de três chaves de uma só vez. Deixei numa gaveta de minha escrivaninha, no trabalho, a do claviculário. Fazia anos que ela compunha o molho. Não tinha mais sentido. Estava lá desde a época em que o claviculário era chaveado. Não é mais. Está sempre aberto, portanto, não preciso dessa chave. Também tirei do chaveiro uma das duas da porta de segurança do apartamento e uma das duas da porta do apartamento. A gente sempre chaveia só uma das fechaduras mesmo. Pra que ficar envelhecido com chaves que a gente não usa?
     Daqui a algum tempo pretendo me livrar de mais uma: a da lixeira. Essa só tenho porque sou síndico e devo fechar a lixeira do prédio depois da passagem do caminhão de coleta. Não preciso abrir, pois quem o faz é uma catadora de reciclável, com quem mantenho um trato.
     Nessa contagem não estou incluindo a chave do carro, que tem seu próprio chaveiro. Neste ainda há a chave do portão da garagem do prédio (para o caso de faltar energia e não puder usar o controle remoto) e a do cadeado da porta da minha garagem, portanto, mais três chaves.
     Estou me sentindo ótimo. Pelo menos uns 10 anos mais jovem.

4 comentários:

Milton Jung (Jr) disse...

Chaveiro. Lembro bem daquela na cintura do Romu(Aldo), vô. Chacoalhava sempre que estava na hora de ir embora da casa dos netos, logo após a sobremesa do domingo. Era a chamada para a Ione se levantar da mesa e nos deixar. Ficávamos vendo a vó ir embora quando queríamos mesmo era sentar no colo dela. Eram muitas as chaves; afinal, naquela época, eram muitas as portas de uma casa. Hoje, nestes apartamentos apertados uma só chave nos basta. E os avós nos deixam saudades com todas as suas manias.

Macfuca disse...

Veja bem os livros da tua casa que eram chaveados e escreves tão bem e na minha que tinha todos a mão não soube aproveitá-los. Bom pelo menos a bateria ficava bem a mão na tua garagem o que me fez trocar os livros pelos toques de um tambor!
Abração

Edison Mello disse...

Cruzando as infovias, de repente acertei vocês.
Não sei se ainda está ativo o blog, mas se receber o comentário saiba que juntamente vai um grande abraço do Edison Mello

Aldo Jung disse...

Não uso mais o blog, Edison, mas os textos ficaram aqui. Um abraço.