Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







domingo, 17 de janeiro de 2010

Arrogância



     Muitos dos grandes nomes da literatura, estrangeiros e brasileiros, assim como cineastas, produzem suas trilogias, ou seja, conjuntos de três obras ligadas entre si por um tema comum. Assim foi com os gaúchos Érico Veríssimo e Cyro Martins. O primeiro com sua obra O tempo e o vento, dividida em três volumes: O continente, O retrato e O arquipélago; o segundo, com O gaúcho a pé, que reúne Sem rumo, Porteira Fechada e Estrada nova. Quem não leu ou viu no cinema ou, pelo menos, ouviu falar de O poderoso chefão (The Godfather)? Pois também é uma trilogia do americano Mario Puzo, que foi levada para as telas pelo também americano Francis Ford Coppola. Também há escritores contemporâneos fazendo sucesso com trilogias: entre outros, o sueco Stieg Larsson, com Millenium; os americanos Paul Aster, com A trilogia de Nova Iorque, John dos Passos, com USA, e o britânico Philip Pullman, com seu Fronteiras do universo são exemplos recentes. Isso sem falar em Senhor dos Anéis e Harry Potter, que já ultrapassaram as fronteiras da trilogia, assim como os clássicos Guerra nas estrelas e Jornada nas Estrelas.
     Modéstia à parte, eu não poderia ficar de fora: com esta crônica estou lançando o terceiro volume da minha primeira trilogia, que começou com Coerência, passou por Tolerância e se encerra com esta Arrogância.
     É isso mesmo: arrogância. Este termo pode perfeitamente ser usado para descrever o fato de eu colocar meu nome em relação aos dos que citei acima. Querer comparar-me a eles é, no mínimo, manter uma atitude desrespeitosa e ofensiva, uma insolência, um atrevimento, uma ousadia. A expressão “modéstia à parte” que usei no início do parágrafo anterior quer dizer exatamente isto: a modéstia é uma virtude que fica à parte, de lado, esquecida, quando se fala de arrogância. Arrogante é aquele que, por suposta superioridade moral, social, intelectual ou de comportamento, assume atitude prepotente ou de desprezo com relação aos outros. Arrogância é soberba, um orgulho excessivo, uma presunção, um ato de presumir, uma confiança excessiva em si mesmo, uma opinião demasiado boa e lisonjeira sobre si mesmo e a pretensão de demonstrar publicamente essa opinião.
     Arrogância é a caracterização da falta de humildade. O arrogante é aquele que exige que lhe ouçam, mas não ouve aos outros, porque acredita que sabe tudo e que já não tem mais nada a aprender com seus semelhantes (aliás, o arrogante é único, não tem semelhantes), menosprezando ideias e opiniões que não sejam as suas.
     Há pessoas que adquirem conhecimentos em experiências vividas por terceiros e não através da vivência, da prática. No livro Mar sem fim: 360º ao redor da Antártica, Amyr Klink diz:

Hoje entendo bem meu pai. Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livro ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece, para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como imaginamos e não simplesmente como ele é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver (grifos meus).

     Conheço um sujeito que praticamente se alfabetizou lendo Platão, Aristóteles e outros gregos e troianos famosos. Por óbvio, não tinha maturidade pra assimilar tanto papo cabeça. Mas, por ter lido tudo isso e outras coisas, acha que sabe tudo, mesmo quase sem sair de casa. Se não fosse o Google Maps nem saberia se deslocar pela cidade. Quando se está discutindo alguma coisa com ele, por mais banal que seja, sobre coisas do cotidiano das pessoas e da vida, invariavelmente, depois de uma explicação, um conselho ou uma opinião vem a clássica pergunta: “— ‘Comé’ que tu sabe?” Na verdade ele não está querendo saber como adquiri aquele conhecimento. Não. Ele está duvidando da minha capacidade de saber alguma coisa que ele não saiba.
     Falta ao arrogante a capacidade de aceitar que nenhuma verdade é absoluta, não admitindo seus erros (sim, porque todos erramos), já que isso contraria seus princípios elementares. Assim, jamais se considera arrogante (a arrogância é um erro); a culpa é sempre dos outros; desmerece o sucesso alheio; traz consigo o egoísmo, é o melhor em tudo; acha que é querido por todos e nem se dá conta de que, por suas atitudes, perde a amizade, o respeito e o carinho das demais pessoas.
     O arrogante não sabe que o estudo da sabedoria nunca termina. Em Introdução à sabedoria, Juan Luis Vives (1492-1540), humanista, filósofo e pedagogo espanhol, diz:

Desterra dos teus estudos a arrogância; não fiques presumido pelo que sabes, porque tudo quanto sabe o mais sábio homem do mundo nada é em comparação com o muito que lhe falta saber.
[...] a arrogância faz com que não possas tirar proveito do estudo; creio que terá havido muitos que não chegaram a sábios e que poderiam tê-lo sido se não dessem a entender que já o eram.

     Distancie-se, portanto, dos arrogantes, se é que estás próximo de algum.
     Espero, com toda humildade, que os leitores tenham gostado da minha trilogia. Vou tentar falar com George Lucas ou Francis Ford Coppola pra ver se têm interesse em transformá-la em filme. Se não quiserem, certamente será por falta de capacidade (deles). Em último caso, espero o Fábio Barreto se recuperar do acidente que sofreu e ofereço a ele minha trilogia. O diretor de Lula, o filho do Brasil, obviamente vai me olhar e dizer: Aldo, ô filho da mãe!

2 comentários:

Anônimo disse...

Nem Aristóteles e nem Platão são troianos. Aliás, não há registros de filósfos troianos... E não é necessário alguém saber se deslocar na cidade para estudar filosofia. Será que os teus preconceitos sobre alguém não o tornam arrogante? Será que tu não estás projetando algo que és em alguém? Acho que sim...

Aldo Jung disse...

É, caro anônimo, não se pode agradar a gregos e troianos. Não sei onde viste "preconceito" contra arrogantes. Preconceito é suspeita, intolerância, ódio irracional ou aversão a outras etnias, credos, religiões, opções sexuais, etc. Nunca ouvi dizer que alguém tivesse preconceito contra quem se vale de soberba...
Além de arrogante, te achas psicólogo?