Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

De leitores e ouvintes



     Li na seção de cartas do leitor de um jornal da capital a crítica de uma missivista com o que classificou de “descaso” do presidente com a fúria das águas que castiga o Estado. Dizia que “enquanto o Rio Grande submerge... o presidente Lula descansa nas praias da Bahia...”. Lista a série de infortúnios que as chuvas trouxeram e assevera que “nada disso é suficiente para perturbar o descanso do presidente”. Continua dizendo acreditar que, “[...] na hora de buscar os sonhados votos dos gaúchos, ele vai lembrar deste estado [...]”, blá, blá, blá.
     Será, dona missivista inconformada? Será que o presidente em pessoa precisaria estar presente nas área alagadas para dimensionar e resolver o problema e se solidarizar com as vítimas? Queria ela que o presidente manejasse, digamos, uma escavadeira ou mergulhasse à procura de corpos?
     Uma semana antes da publicação da carta, li que

O presidente Luis Inácio Lula da Silva ligou no final da tarde desta quarta-feira (06) para a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, para se solidarizar com as vítimas das enchentes que atingiram o Estado nos últimos dias e vêm causando diversos estragos. Lula disse ainda que o governo federal está à disposição para ajudar caso seja necessário.

     A governadora Yeda, sim, tinha a obrigação de acompanhar de perto o problema e o fez: sobrevoou a região e pousou em Agudo. Tenho certeza, no entanto, de que, mesmo que não constatasse in loco os estragos, destinaria recursos e pessoal para trabalhar no resgate e na reconstrução das áreas atingidas.
     A propósito: o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, foi muito criticado por não ter comparecido no local da tragédia de Angra dos Reis, no reveillon. No caso de Angra, o vice-governador Luiz Fernando Pezão desembarcou na região tão logo ficou sabendo dos deslizamentos que mataram mais de 30 pessoas. De uma praia na Bahia, onde repousava, Lula acionou o ministro da Integração Nacional para que ajudasse o Rio. O ministro suspendeu suas férias.
     Quanto à suposição de que Lula virá buscar votos no Estado, devo lembrar à dona missivista indignada que, se dependesse do Rio Grande do Sul, o presidente, hoje, seria Geraldo Alckmin, que obteve 53,19% dos votos dos gaúchos, contra 42,90% dados a Lula.

     O propósito deste meu comentário não é a informação, que já está ultrapassada. Só queria me referir ao fato de que sempre tem alguém e de que tudo é motivo pra criticar o que Lula faz ou deixa de fazer. Querem que seja onipresente e onisciente e nem férias possa gozar. Ora, até Deus tirou um dia de folga depois de criar o universo.
     Agora, com o episódio do terremoto no Haiti, dona missivista deverá querer que Lula esteja presente naquele país, dando apoio e prestando solidariedade aos brasileiros que lá residem e aos militares da força de paz.

Ato falho

     Enquanto escrevia esta postagem, o rádio estava ligado e sintonizado numa FM de jornalismo, lá pela frequência dos noventa e tantos megahertz, num programa comandado por dois figurões do jornalismo radiofônico. Aviso que quem gosta de ouvir esse programa é minha mulher e, como sou tolerante, tolero.
     Os ouvintes desse programa podem comunicar-se com os apresentadores por torpedos, msn, twitter, etc. Em determinado momento, um dos dois apresentadores leu o comentário de um ouvinte – indignado como a missivista do assunto anterior – que pregava o voto nulo. Muito consciente de sua função, o jornalista lembrou que o voto nulo não é um protesto válido e que, ao contrário, poderá ajudar a eleger um candidato menos preferencial, blá, blá, blá. Certo ele. Aconselhou o ouvinte a sempre escolher um candidato que se acredite ser melhor e finalizou com um ato falho: “um dia a gente acaba acertando”. “A gente” é nós; “nós” pode ser todos ou apenas ele e o ouvinte. Então eu pergunto: ele ainda não acertou? Se ainda não acertou, presumo que nada entende de política; se nada entende de política, por que passa boa parte da manhã falando nela, elogiando uns, criticando outros, fazendo juízo de valores tendenciosos? Porque há quem dê guarida a esse tipo de “formador de opinião”.

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