Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







domingo, 14 de novembro de 2010

Casamento




     Casamento é uma coisa de ações, vontades e sentimentos opostos, que assusta a muitos, ao mesmo tempo em que outros o encalçam desesperadamente. Tem gente que foge dele assim como de um cachorro brabo, especialmente homens, ou por serem muito galinhas ou por não serem muito homens; por outro lado, tem gente que o procura em agências matrimoniais e até na internet.
     Os dicionários brasileiros dizem que casamento é “ato solene de união entre duas pessoas de sexos diferentes, capazes e habilitadas, com legitimação religiosa e/ou civil” ou “união voluntária de um homem e uma mulher, nas condições sancionadas pelo direito, de modo que se estabeleça uma família legítima”.
     Estão ultrapassados esses pais dos burros. Nas próximas edições terão de incluir na principal acepção que casamento é ato solene ou união voluntária entre duas ou mais pessoas, etc. etc. Sem essa de “duas pessoas do mesmo sexo” ou “união de um homem e uma mulher”. Isso já era.
     A sociedade cria diversas expressões para classificar os diversos tipos de relações matrimoniais existentes. As mais comuns são:
casamento civil - celebrado sob os princípios da legislação vigente em determinado Estado (nacional ou subnacional);
casamento religioso - celebrado perante uma autoridade religiosa ;
casamento aberto (ou liberal) - em que é permitido aos cônjuges ter outros parceiros sexuais por consentimento mútuo
casamento branco ou celibatário - sem relações sexuais;
casamento arranjado - celebrado antes do envolvimento afetivo dos contraentes e normalmente combinado por terceiros (pais, irmãos, chefe do clã etc.) ;
casamento de conveniência - que é realizado primariamente por motivos econômicos ou sociais;
casamento misto - entre pessoas de distinta origem (racial, religiosa, étnica etc.);
casamento morganático - entre duas pessoas de estratos sociais diferentes no qual o cônjuge de posição considerada inferior não recebe os direitos normalmente atribuídos por lei (exemplo: entre um membro de uma casa real e uma mulher da baixa nobreza);
casamento nuncupativo - realizado oralmente e sem as formalidades de praxe;
casamento putativo - contraído de boa-fé mas passível de anulação por motivos legais;
casamento poligâmico - realizado entre um homem e várias mulheres (o termo também é usado coloquialmente para qualquer situação de união entre múltiplas pessoas);
casamento poliândrico - realizado entre uma mulher e vários homens, ocorre em certas partes do himalaia;
casamento homossexual ou casamento gay - realizado entre duas pessoas do mesmo sexo.

     Em sentido figurado, casamento é “aliança, união, combinação, harmonia”, “combinação harmoniosa de duas ou mais coisas; união estreita e íntima”, ou seja, praticamente o oposto do que é o casamento em sentido restrito para muitos casais. Metaforicamente podemos dizer, por exemplo, que os pés de Pelé eram casados com a bola. Os de Maradona também, se bem que a bola teve um famoso affair com a mão dele. Essa “pulada de cerca” da mão de Maradona tirou a Inglaterra da Copa de 86. Os pés dos Ronaldinhos também se casaram com a bola. Ultimamente andam um pouco às turras, mas, ainda assim, é um casamento. Os de Neymar, por sua vez, estão em lua de mel com a gorduchinha.
     Deixando os argentinos e o sentido figurado de lado, confesso que não me incluo entre os que fogem (ou fugiram) do casamento como de cachorro doido, mas também não o procurei aflitamente. Eles simplesmente aconteceram na minha vida. Sim: “eles”! Estou no terceiro e, garanto, último.
     O primeiro veio cedo. Eu tinha 23 anos, ela, 19. Não foi por necessidade, pois nem filhos tivemos em quatro anos e meio. Eu tinha um bom emprego, tínhamos onde morar sem pagar aluguel e uma vontade tremenda de ficarmos juntos. Foi bom enquanto durou. Pelo menos é o que eu acho.
     Durante a vigência desse casamento, me senti incentivado a continuar a estudar e comecei a fazer jornalismo. Um ano antes do final do curso já estava separado e, pasme, namorando outra mulher, que conheci uma semana depois de sair de casa. Menos de um ano depois, fui morar com ela, que já estava grávida por ocasião da minha formatura.
     Nossa filha nasceu em junho. Depois de um ano e três meses nasceu nosso filho. Esse casamento durou 27 anos, dos meus 28 aos 55, justamente o auge da minha vida até agora. Nem preciso salientar a importância dessa união que, assumo, terminou por culpa minha.
     Foi então que, sem procurar muito, acabei encontrando na internet minha atual mulher. Faz cinco anos que estamos juntos. Antes de me conhecer, ela teve um relacionamento de 21 anos. Não éramos mais — nem somos — marinheiros de primeira viagem. Pelo contrário, já conhecíamos — e conhecemos bem — os mares por onde devemos navegar.
     Longe de mim classificar a minha idade como sendo de “terceira”. Em países em desenvolvimento, por exemplo, alguém é considerado de terceira idade a partir dos 60 anos. Para a geriatria, somente após alcançar 75 anos a pessoa é considerada de terceira idade. Vamos dizer, então, que estamos na maturidade, que, em sentido figurado, quer dizer “perfeição, excelência, primor, firmeza, precisão, exatidão”. Quando conheci minha mulher tinha 55 anos, mas com corpinho de 54 e meio. Já cheguei aos 61, mas o corpinho continua de “segunda idade”, não sou aposentado e toco bateria em duas bandas de rock. Vou me classificar, portanto, de acordo com a geriatria: só vou ficar velho depois dos 75. E olhe lá!
     O que eu queria dizer é que começar uma relação amorosa nessa fase, a maturidade plena, é bem diferente do que quando se é jovem. As coisas já estão nos seus devidos lugares. A pessoa madura sabe que o amor se constrói dia após dia, tenta corrigir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e sempre manifestar afeição e carinho. As experiências vividas nos ensinam a sermos serenos, livres, tolerantes, generosos, sábios e a termos discernimento. Nessa fase enxergamos a realidade natural, temos uma visão aberta e realista das coisas que realmente importam na vida. Na maturidade percebemos intuitivamente as coisas do espírito e da alma, que nem sempre os olhos enxergam.
     Um relacionamento iniciado nessa etapa da vida não é como casamentos que duram cerca de 50 anos. Apesar de duradouros, percebe-se nesses uma espécie de ranço de convivência. Um bom exemplo disso é o casal Antero e Brígida, da novela Passione. Que não se ofendam os que já estão ou os que estejam chegando lá: toda regra tem exceção.
     Enfim, não é porque esteja no terceiro casamento que vá condenar aqueles que fogem dele, tampouco os que, mesmo querendo, não o conseguem facilmente e o procuram em agências matrimoniais. O casamento acaba acontecendo na vida das pessoas naturalmente, seja qual for a definição que o termo tiver, seja qual for a classificação dada pela sociedade para a relação matrimonial.
     Afinal, a Bíblia diz que Deus falou a Adão e Eva que era para eles crescerem e se multiplicarem e não para “casarem“ e se multiplicarem.
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Fontes
CIFUENTES, Rafael Llano. A Maturidade. São Paulo: Quadrante, 2003.
Assumpção, Wanda. Maturidade. Disponível em http://www.wandadeassumpcao.com.br/artigos/maturidade.htm
Wikipedia. Casamento. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Casamento

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