Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







sábado, 28 de janeiro de 2012

Petição

     Tenho recebido emails pedindo que eu assine petições para acabar com o Big Brother Brasil. Petição, como todo mundo sabe, é um pedido a uma autoridade, mais comumente a um funcionário governamental ou entidade pública. No sentido coloquial, uma petição é um documento oficial assinado por vários indivíduos. Uma petição pode ser oral, escrita, e, agora, também através da Internet. A petição nesses termos também é conhecida como abaixo-assinado, documento coletivo, de caráter público ou restrito, que torna manifesta a opinião de grupo e/ou comunidade, ou representa os interesses dos que o assinam.
     Resolvi dar uma olhada em dois sites que disponibilizam o serviço de petições online. Comecei olhando só as que querem o fim do BBB e, até onde tive paciência, encontrei seis abaixo-assinados. Somando as assinaturas dessas seis petições até às dez e meia do dia 28 de janeiro de 2012, encontrei o fantástico número de 30.069! Puxa vida: seja lá pra quem for — Rede Globo, Ministério Público, etc. —, os destinatários, com certeza, ficarão muito sensibilizados com tamanha quantidade de assinaturas. Vão comparar esse número de indignados assinantes com o número de ávidos votantes dos paredões, que chega a muitos milhões e dar risadas.
     Os argumentos para a retirada do programa do ar são, em geral, os mesmos. Pelos textos dos cabeçalhos das petições tem-se uma ideia do nível do autor. Escolhi um deles, cujos signatários asseveram que o Reality Show Big Brother Brasil, DEVE SER RETIRADO DO AR, pois, o mesmo:

1. Divulga e promove desde de (SIC) suas etapas de pré-seleção de seus candidatos e durante sua programação, a ética da exclusão;
2. Promove e privilegia a mulher-objeto, fazendo com que suas participantes femininas sirvam tão somente de objetos de voyeurismo sexual de suas audiências;
3. Incita e dar (SIC) a entender que “pelo jogo” vale tudo, atentando contra todo tipo de ética estabelecida para as boas relações, no que diz respeito as (SIC) conquistas de oponentes;
4. Ajuda a alimentar a alienação da população com a sedução da ilusória participação telefônica;
5. Não ajuda na formação de um povo consciente e cidadão de bons costumes e de boa índole.

Ética da exclusão? Qualquer dia vão querer acabar com os torneios de futebol estilo mata-mata, com o vestibular, com o Exame da OAB (este seria ótimo se acabasse). Mulher-objeto? Ah, então foi o BBB que inventou isso? Quanto aos itens 3, 4 e 5, sem comentários. O pessoal da TFP[1] (Tradição, Família e Propriedade) deve ter adorado.
     Ora, abaixo-assinado pra acabar com um programa da Rede Globo. As pessoas gostam de perder tempo, paciência e pagar mico. Eu tenho uma solução pra acabar com o BBB. Preste atenção: se você estiver assistindo à Globo, assim que terminar a novela das 21 hclip_image002oras estique-se um pouco, pegue o controle remoto que está sobre a mesa de centro da sala e escolha outro canal de televisão qualquer. Se for assinante de alguma TV a cabo ou satélite — ou seja lá o que for —, você terá dezenas de canais pra escolher. Na pior das hipóteses, você terá a Record, a Rede TV, o SBT, a Educativa (Cultura) e a Band pra assistir, pelo menos pela próxima hora. Se quiser ser mais radical, no entanto, desligue o aparelho de TV e vá fazer amor com seu parceiro ou parceira.
     Quanto aos abaixo-assinados em geral, achei umas pérolas nos sites que oferecem o serviço de petições online. Veja alguns.

Quero RETIRAR minha assinatura do Projeto do Bem-estar Animal do Deputado Tripoli

Eu abaixo assinado quero RETIRAR o meu apoio e assinatura anteriormente conferidos, por engano e inadvertidamente, ao projeto do “bem-estar” animal do Deputado Tripoli.
NÃO concordo com as cláusulas que permitem a eutanásia de animais e o não-tratamento de animais considerados “muitos doentes”.
Considero que caí numa armadilha.
Feito o contato com a WSPA, que recolhe as assinaturas da referida pétição, fui informado de que a entidade não sabe como devo proceder.
Sendo assim, EXIJO, através da atual petição, que seja considerada NULA e RETIRADA a assinatura anteriormente dada ao referido projeto.

118 pessoas assinaram isso.

O serviço de transporte já está melhorando (Será???)

Bem, na minha opinião, os preços das passagens do transporte público em PE são absurdamente altos. Essa constatação só aumenta quando correlacionamos esses preços a qualidade dos serviços prestados pelas empresas.
Ontem - 1° dia da prática dos novos preços - já percebi a diferença na prestação do serviço (Será????):
1 - O ônibus da linha Igarassu / Sítio Histórico, que peguei pra ir ao trabalho, quebrou duas paradas após eu ter subido nele.
Resultado: tivemos (eu e todos os demais passageiros) que esperar na chuva para entrar num Igarassu / BR 101 lotado. (23/01/12 às 13:50)
2 - No ônibus Paulista / Lot. Bonfim, que saiu do Pelópidas Silveira às 22:40, que peguei na volta para casa, não tinha o sinalizador de parada.
Resultado: o motorista queimou minha parada, mesmo eu tendo sinalizado, e ainda fica soltando piada junto com o motorista. (23/01/12 às 23:00)
Isso é que é Brasil! Isso é Pernambuco!

As duas pessoas que assinaram isso nem estão pedindo, estão perguntando.

E outros:

Suspenssão (SIC) do trio elétrico no horario (SIC) da missa aos Domingos

Conscientização dos motoristas contra o desrepeito (SIC) ao pedestre e ciclista em Belo Horizonte.

Queremos A Banda Mais Bonita da Cidade no Programa Altas Horas

Contra o visto da Mercenária Cubana Yoni Sanchez no Brasil

     Resumindo: as coisas estão ficando muito vulgares. No campo das petições, por exemplo, vê-se de tudo. Vou ter que tomar uma atitude e fazer uma petição pra acabar com as petições. Você assinaria?


[1] Tradição, Família e Propriedade (TFP) ou Sociedade brasileira de defesa da tradição, família e propriedade (1960), é uma organização católica tradicionalista e conservadora brasileira.
Foi fundada em 1960 por Plínio Correia de Oliveira, deputado federal Constituinte em 1934 e jornalista católico, pautada nos princípios de sua devoção à Santíssima Virgem(...). A nova sociedade baseava-se em sua obra Revolução e contra revolução (1959) e propõe uma vigorosa reação com base no amor à ordem cristã e na aversão à desordem.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Simplesmente Manu

     Era junho de 1979. Há pouco mais de dois anos eu havia saído de um casamento insosso que durara quatro anos, não dera frutos nem produzira lucros. Fazia pouco menos de um ano e meio que já estava noutro e, naquele mês, surgia uma menina na minha vida que a mudaria pra sempre.
     Praticamente recém-casado pela segunda vez e já entrava outra mulher na minha história. E muito mais moça do que eu. Sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. É da natureza. O que fazer? Assumir, claro, com desenfreada paixão. Não resisti àqueles grandes e expressivos olhos, àquela boquinha bem desenhada, àquele narizinho empinado — no bom sentido — e àquela simpatia que contagiava a todos, especialmente a mim.
     Eu havia mudado de cidade. Trabalhava em Porto Alegre, mas estava morando em São Leopoldo. Conhecia-a no fim da tarde de um dos dias mais frios daquele inverno. Justamente num dia em que não tinha ido trabalhar, pois estava no hospital, onde minha mulher havia baixado no dia anterior. Vi-a passar no corredor, com uma enfermeira. O que me chamou a atenção foram os gemidos baixinhos que ela emitia e que me deixaram apreensivo. O que teria acontecido? Curioso, fui atrás, perguntei aqui e ali e descobri que não era nada e, também, que aquela era a Manuela que, a partir desse dia, passou a fazer parte da minha vida.
     Como só trabalhava à tarde, passávamos as manhãs juntos. No começo, por causa do frio, apenas fazia companhia a ela na sua própria casa. Com o fim do inverno, passeávamos por quase toda Independência — ou Rua Grande, como é conhecida —, a rua principal de São Leopoldo. Íamos até a Praça Imigrante, na margem do Rio dos Sinos, e voltávamos. Às vezes parávamos em alguma lancheria para tomar um refrigerante, pois eram quentes aquelas manhãs ensolaradas. Algumas pessoas que cruzavam conosco nas movimentadas manhãs da Rua Grande paravam para elogiar a beleza daquela garota, que nada dizia, apenas sorria. Noutros dias, estendíamos um pano na grama, em frente à casa dela, e ficávamos à sombra, lanchando e vendo o movimento da rua. Quando voltava do trabalho, no fim da tarde, ela me recebia cheia de gracejos e sorrisos, que eu retribuía com muitos abraços e carinhos. Era um sonho. O melhor de tudo é que o surgimento daquela paixão melhorou ainda mais meu casamento, que já era bom.

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     Viemos morar em Porto Alegre. O tempo passou rápido, como sempre. A distância entre nossas idades não aumentara, mas dava a impressão de crescer numa razão logarítmica: enquanto ela amadurecia, eu envelhecia.
     Chegou o dia em que ela passou a preferir divertir-se junto a suas muitas amigas, sair com elas à noite. Claro que eu não fazia parte desse plano. Entendi, conformei-me e, ainda por cima, levava-as e buscava-as nas festas que frequentavam. Lembro-me do despertador me chamando às cinco da madrugada, inclusive no inverno. Eu nem guardava o carro na garagem pra não ter que abri-la. Lá ia eu, todo encasacado, cheio de lã, de boné e tudo, pra Dom Pedro II, pra Goethe, pra Plínio ou pra onde houvesse festa. Entre seis e seis e meia aquele bando invadia meu carro, cada uma a sua vez dizia “oi, tio” e passavam a tagarelar todas ao mesmo tempo. Manuela ia quieta ao meu lado. Eu nem perguntava se ela tinha gostado. Sabia que no fim de semana seguinte a cena se repetiria, portanto, sinal que era bom.

.:: o ::.

     Hoje, 32 anos se passaram desde aquele junho de 1979 em que Manuela entrou na minha vida pra despertar em mim um amor diferente, que eu nunca sentira antes. E 32 anos é exatamente a idade de Manuela, ou simplesmente Manu, que nasceu no fim de tarde daquele dia frio, que passou gemendo nos braços da enfermeira desde a sala de cirurgia até a maternidade do hospital, cena que eu, casualmente, presenciei da porta do quarto.
     Em janeiro de 1980, há 32 anos, todo orgulhoso, eu exibia minha filha, Manu, pra quem passasse pela Rua Grande.

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     Hoje, 32 anos depois, não passeamos mais pela Rua Grande nem a levo e busco da balada, mas meu orgulho continua.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Guri bom de bola

     Não. Não vou falar sobre o torneio promovido por uma empresa de comunicação do estado. Apenas aproveitei o título.
     Recebi um email contando a história do incrível Lionel Messi, craque do Barcelona, eleito três vezes melhor jogador do mundo. Eu já a conhecia. Para quem não conhece, um resumo.
     Lionel Andrés Messi nasceu em Rosário, na Argentina (ninguém é perfeito), em 24 de junho de 1987. Aos oito anos era considerado autista e, aos 13, media 1,10m. Os médicos diziam que ele chegaria no máximo a 1,50m quando adulto. O tratamento contra o nanismo era caríssimo, inviável para os pais do garoto. Eram necessários quatro meses de salário da família pra pagar um mês do tratamento.
     Aos 10 anos, o baixinho despontava no Newell's Old Boys, clube que negou pedido do pai de Lionel para bancar o tratamento. A família foi, então, bater à porta do famoso River Plate, que também negou ajuda.
     Com o amparo de uma tia, a família Messi foi para Lérida, na Catalunha, Espanha, em 2000. Pouco antes de completar 13 anos, Lionel fazia teste no Barcelona. Nem é preciso dizer que foi imediatamente contratado. A proposta era bancar-lhe um tratamento à base de hormônios. 42 meses depois de tomar injeções diárias, Messi alcançou o tamanho que tem hoje: 1,69m.
     Em 2004, com 17 anos, contratado como profissional, entrou para a equipe B do Barcelona. Depois de cinco jogos, contudo, começou a jogar na equipe principal.
     O resto da história todos conhecem.

     Pois eu, sem falsa modéstia, poderia ter tido um Messi na vida, claro que sem as características do autismo e do nanismo. Vou contar a história.
     Já escrevi aqui que para o futebol sempre fui um perna de pau (Jogos de bola). Torcia, claro, para um time de Porto Alegre, mas sem fanatismo, como torce a média das pessoas. Não era de ir ao estádio e nem de ficar ouvindo jogos no rádio ou vendo na TV, salvo quando fosse um grande jogo: Grenal, Copa do Mundo, Libertadores, final de brasileiro ou gauchão, etc.
     Um dia, como acontece naturalmente com muita gente que se multiplica, tive filhos. O segundo a nascer foi um menino. É de praxe que meninos brinquem de carrinho e de bola, e o meu não fugiu à regra. Na segunda série do ensino fundamental percebi alguma coisa estranha naquele menino: era o craque da turma nos recreios da escola. O que fazer? Incentivar, é claro! Sempre que possível, batia bola com ele.
     Na terceira série foi para um colégio grande e continuou jogando bola o tempo todo. Um dia, não sei exatamente quando, chegávamos em casa voltando da praia, o guri vestia uma camiseta do Grêmio, aproximou-se um senhor e disse que tinha uma escolinha de futebol e que, se o garoto gostasse, poderia participar. Deu as dicas e no primeiro sábado de tarde lá nos fomos. Os treinos eram num campo onde hoje é a Praça Sport Club Internacional, no miolo entre as ruas General Lima e Silva, Érico Veríssimo, Ipiranga e Dr. Sebastião Leão. Logo em seguida a área foi isolada para urbanização e a gurizada se transferiu para uns campos que havia atrás da Secretaria da Receita Federal, o chocolatão.
     O tal senhor que instruía a garotada se chamava Amarante e fora jogador de futebol. A parte que acreditei do que ele disse foi de ter jogado no Guarani de Bagé e no Flamengo de Caxias; quando falou que jogou no Santos, ao lado de Pelé, só fingi ter acreditado. Mas era gente fina. Na época ele tinha um irmão que jogava no Grêmio como zagueiro e um sobrinho no Inter, também zagueiro. Não me lembro o nome deles, mas eram conhecidos.
     Pois o Amarante, que era zelador de um prédio próximo ao que eu morava, me perguntou um dia se eu queria vaga para meu filho na escolinha do Grêmio, onde uma das equipes precisava de um quarto zagueiro. Dito e feito. Numa tarde de sábado do segundo semestre de 1992 nos apresentou ao Rubem, também um ex-jogador que treinava uma das equipes daquela escolinha e, a partir de então, o garoto, apesar de ter talento pra atacante, ficou guardando um dos lados da entrada da grande área. Naquele ano nunca foi driblado e sua equipe chegou ao quarto lugar da categoria 79/80 no campeonato da escolinha do Grêmio.

clip_image002O time de 1992

     A escolinha tinha aulas no estádio Olímpico, num dia da semana. Nesses treinos, os meninos faziam exercícios físicos e aprendiam os fundamentos do futebol. Sábados à tarde havia torneio entre as equipes daquela categoria nos campos do Cristal. Para o guri continuar participando em 1993 tive que me associar ao clube. Até que foi bom, porque me obrigou a começar a ir aos jogos do Grêmio.
     Termina ano, começa ano e, em relação a esse assunto, o que mudou foi o dia dos jogos: como trocou de categoria, em vez de sábados à tarde os jogos passaram para os domingos pela manhã. Imagine no inverno, acordar domingo lá pelas seis e meia para estar no Cristal às oito... Mas lá estávamos: eu, de fora das quatro linhas, todo entrouxado, esfregando as mãos e batendo queixo; o garoto, de calção e camiseta, correndo pela ponta direita, entortando zagueiros e cruzando para a área. Nesse ano, porém, o time para o qual foi sorteado não conseguiu boa classificação, mas pelo menos o guri já estava jogando no ataque.

clip_image004 A equipe de 1993

     Em 1994 sim, começou num time que não tinha pra ninguém. Depois das primeiras goleadas nos adversários — inclusive com vários gols do meu garoto—, os “cartolas” se reuniram e resolveram misturar aqueles atletas nas outras equipes para equilibrar as coisas. Não adiantou. O time para o qual o meu craque foi ficou forte, sagrando-se campeão ao final do ano. Valeram aquelas manhãs frias de domingo na torcida.

clip_image006 O time campeão de 1994

     No ano seguinte, Marcos já não tinha idade pra escolinha. Se quisesse ser jogador de futebol tinha que fazer teste pra categoria sub-15 e, logo em seguida, pra juvenil. E os testes são fortes. Se o sujeito coloca aquilo como um ideal de vida e não é classificado, a frustração é grande e pode ser sentida o resto da vida. Felizmente, ele não quis. Enveredou pro futebol de salão, mas só por diversão, sem objetivo de profissionalizar-se.

     Já houve um Garrincha, um Pelé, um Maradona e um Ronaldo (o Fenômeno, porque o outro não conta); agora tem um Messi. Confesso que não troco nenhum deles por aquele que vai continuar sendo o meu craque pelo resto dos meus dias, mesmo sem ter ganho 33 milhões de euros por ano.