Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







domingo, 18 de dezembro de 2011

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

     Algo sobre o recente caso da enfermeira que maltratou um Yorkshire.
     Todos devem ter visto na internet o vídeo da mulher — uma enfermeira — maltratando um indefeso cãozinho da raça Yorkshire, jogando-o no chão e dando-lhe chutes. E, ainda por cima, na frente de uma criança. O revoltante caso virou o principal assunto no Facebook, motivando tanto irascíveis protestos como piadas de gosto duvidoso. Cheguei a ler postagens que poderiam ser classificadas como incitação à violência, instigação ao crime.
     A expressão do título — nem tanto ao mar, nem tanto à terra — significa “nem uma coisa nem outra; sem exageros; com equilíbrio”. E é assim que eu procuro manter minhas relações com animais: sem exageros. De jeito nenhum concordo com maus tratos, mas também não admito que eles sejam tratados como filhos ou qualquer membro da família. Abominável o que a enfermeira fez com o Yorkshire; inaceitável, porém, fazer dela a única bandida do mundo, esquecendo-se que há crimes muito piores sendo cometidos sem que alguém se digne, por exemplo, a “fazer ou assinar uma petição” para que o óbvio aconteça.
     Não consigo entender como alguns têm tanta comiseração com animais, mas não são capazes de se compadecerem com a miséria humana: desde a infância abandonada até a velhice desamparada.
     Eu tenho dois animais de estimação: uma cadela Poodle — a Lila — e uma gata Himalaia — a Wanda. Também convivo, ocasionalmente, com o Chico, um Yorkshire do meu filho. Pego-os no colo, dou carinho, alimento-os, trato-os quando doentes, mas não os beijo...
 

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     Recolhi na internet algumas opiniões de especialistas sobre o que considero exagero na relação de humanos com animais. Pra isso, pratiquei saudáveis CtrlCs de alguns sites e apliquei CrtrlVs neste texto. Tudo o que está abaixo saiu da cabeça de outros e, pelo que entendi, assim como maus tratos, apego demais também é problema psicológico.

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     Ter um animal de estimação em casa pode realmente ser uma ótima ideia. Eles trazem alegria para o lar, são ótimas companhias e, além de tudo, as crianças aprendem com eles a responsabilidade de cuidar de alguém e o valor da amizade. Mas, e quando o amor destinado a esses animais passa dos limites? De acordo com especialistas, é muito comum que as pessoas depositem uma quantidade enorme de amor nos bichos de estimação, e em casos mais extremos, vivam exclusivamente para cuidar destes animais. “Pessoas que apresentam um grau de depressão ou de carência muito elevado estão mais suscetíveis ao apego em excesso pelos seus bichos”, diz o psicólogo Paulo Tessarioli. “Muitas vezes, essas pessoas vivem em função do seu animalzinho, esquecendo-se, muitas vezes, de sua vida social, por exemplo”, diz.

     Para o psicólogo Hélio Guilhardi, mestre em psicologia experimental pela Universidade de São Paulo, “a convivência prioritária com o animal produz pessoas alienadas do mundo que as cerca”. Ele reconhece que ter um animal é saudável, mas diz que o bicho não deve ser fonte única de carinho. “Relações com animais podem envolver afetos genuínos, mas isso não basta. O afeto entre humanos tem uma riqueza superior e não pode ser dispensado. Excessos afetivos com animais não indicam sensibilidade privilegiada. Pessoas autoritárias, egoístas e metódicas tendem a ter mais facilidade em dirigir seu tônus afetivo para bichos. Conviver com animais torna a vida mais fácil, embora mais fácil não signifique melhor”.

     De acordo com Paulo Tessarioli, a primeira atitude é se convencer de que o exagero pode ser prejudicial. “Analisar sua postura com seu animal de estimação é o primeiro passo. Se o problema for com outra pessoa, vale tentar conversar, mas sem forçar a barra”. A ideia é mostrar que existem outras coisas na vida além daquele bicho. Mas, alguns casos pedem ajuda profissional. “Quando a pessoa não consegue se desligar do animal, seja por qualquer motivo, o melhor a fazer é procurar um especialista, já que problemas como depressão, desapego à realidade e solidão podem estar envolvidos”.

     Os especialistas explicam que quando as pessoas tratam os animais como se fossem filhos ou quando o elo se torna muito forte entre eles deve-se tomar certos cuidados. “É preciso fazer a distinção entre as espécies, para que possam aprender a cuidar da forma correta. Senão pode até adoecer um animal, por querer que ele seja uma espécie que não é”, ressalta a psicóloga Madalena Cabral Rehder.

     Além disso, ela explica que o apego excessivo ao animal pode trazer problemas como qualquer outro na vida da pessoa. “Ciúmes, agressão, exagero no cuidado, estresse pelos cuidados excessivos. Se a pessoa age assim, o animal não busca pelas ações livremente e acaba por não desenvolver os hábitos próprios.”

     O veterinário Milton Kolber complementa que as consequências desse apego vão além. “É aquela frase que diz que tudo que é demais não serve. Isto se aplica também ao animal, porque carinho excessivo resulta em mimo e desobediência”.

     Para César Ades, psicólogo especialista em comportamento animal e professor da USP, não há nada de errado em ter todo esse apego aos animais, desde que eles sejam tratados como tal e não como crianças ou gente.

     Segundo a psicóloga Regina Reis Joana Ribeiro, do ponto de vista clínico, o bicho de estimação é saudável até certo ponto. Quando este ponto é ultrapassado, há uma “humanização” do cachorro. Em contra-partida, justifica que “a partir do momento que um animal selvagem por natureza passa por um processo de urbanização para viver dentro de um domicílio, já estamos humanizando-o”.

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     Agora sou eu de novo. Os textos acima se referem às relações de humanos com seus próprios animais de estimação. Há, ainda, aquelas pessoas que se envolvem demasiadamente com quaisquer animais, exagerando na comiseração, esquecendo-se de que podem haver outras causas envolvendo a raça humana que mereçam mais atenção.
    Com esse caso da enfermeira que maltratou o cãozinho, o Facebook tornou-se o muro das lamentações dos hiper defensores dos animais, tanto dos abandonados como dos maltratados. Eu não gosto da palavra que vou usar, porque seu emprego é pejorativo, resultante de antiga tradição antissemita de origem européia, mas tem muita judiação não vista e não atacada pelos mesmos usuários do Facebook ou de outra rede social qualquer.

Enquanto isso...

     Acredita-se que atualmente chegue perto de oito milhões o quantitativo de crianças abandonadas no Brasil. Destas, cerca de dois milhões vivem permanentemente nas ruas, envolvidos com prostituição, drogas e pequenos furtos. Um número expressivo, demonstrando que não foram aplicadas políticas eficazes para a redução da triste realidade apresentada já em 1994, quando existiam sete milhões, segundo levantamento da Organização Mundial de Saúde (OMS).

4 comentários:

Anônimo disse...

Pois olha.. deixaremos de curtir umas pequenas férias agora em janeiro na praia da Pinheira-SC, por não termos onde deixar nossos bichinhos de estimação.São duas cadelinhas e uma gatinha idosa(se esta ficasse em pet shop, o problema seria resolvido. Os bichanos fazem parte da família e deixá-los sozinhos nem se cogita.
Somos assim, fazer o quê???

vidacuriosa disse...

Excelente o post. Certamente vais receber uma enxurrada de comentários. Não tenho´dúvida de que a maioria será de defensores ferrenhos de animais que se sentirão ofendidos e certamente te tratarão como inimigo dos bichinhos, ainda que não o sejas. Vão expor argumentos que começam com aquela célebre frase "Quanto mais conheço os homens, mais amo os animais". Por isso, que venho evitando falar sobre isso, mas não devo me censurar

vidacuriosa disse...

Sou totalmente contra maltratarem animais. Tenho um labrador em minha casa, todos o tratamos com carinho mas sem exageros. Sobre os excessos, vou dizer algo agora que irá irritar profundamente os apaixonados por animais: se o cão falasse e tivesse ideias certamente não seria o melhor amigo do homem. É exatamente para não ser contrariado em seus posicionamentos diante do mundo que grande parte prefere conviver quase exclusivamente com animais. Outra parte o busca como complemento para companhia que, pelos motivos apontados acima, não são supridos por outro ser humano. E há ainda aqueles que compram cães, gatos, passarinhos e peixes porque é moda ser amigo dos animais. O pior é quando cansam disso e simplesmente os abandonam até mesmo literalmente largando-os na rua. E há aqueles que gostam de viajar e não podem levá-los consigo. Teu texto é absolutamente correto, ao meu ver, até porque o exagero é prejudicial em tudo. Sobre a relação cachorro-criança, os apaixonados pelos bichos se defendem dizendo que também gostam de crianças e que, para defendê-las, há outras pessoas. Mas o que eu noto é que o desaparecimento de cachorros choca bem mais do que o sumiço de uma criança.

Emilio Pacheco disse...

Muito bom o teu blog, obrigado por visitar o meu. E, sobre esse assunto, dá uma lida aqui:

http://emiliopacheco.blogspot.com/2005/05/cachorros.html