Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Guri bom de bola

     Não. Não vou falar sobre o torneio promovido por uma empresa de comunicação do estado. Apenas aproveitei o título.
     Recebi um email contando a história do incrível Lionel Messi, craque do Barcelona, eleito três vezes melhor jogador do mundo. Eu já a conhecia. Para quem não conhece, um resumo.
     Lionel Andrés Messi nasceu em Rosário, na Argentina (ninguém é perfeito), em 24 de junho de 1987. Aos oito anos era considerado autista e, aos 13, media 1,10m. Os médicos diziam que ele chegaria no máximo a 1,50m quando adulto. O tratamento contra o nanismo era caríssimo, inviável para os pais do garoto. Eram necessários quatro meses de salário da família pra pagar um mês do tratamento.
     Aos 10 anos, o baixinho despontava no Newell's Old Boys, clube que negou pedido do pai de Lionel para bancar o tratamento. A família foi, então, bater à porta do famoso River Plate, que também negou ajuda.
     Com o amparo de uma tia, a família Messi foi para Lérida, na Catalunha, Espanha, em 2000. Pouco antes de completar 13 anos, Lionel fazia teste no Barcelona. Nem é preciso dizer que foi imediatamente contratado. A proposta era bancar-lhe um tratamento à base de hormônios. 42 meses depois de tomar injeções diárias, Messi alcançou o tamanho que tem hoje: 1,69m.
     Em 2004, com 17 anos, contratado como profissional, entrou para a equipe B do Barcelona. Depois de cinco jogos, contudo, começou a jogar na equipe principal.
     O resto da história todos conhecem.

     Pois eu, sem falsa modéstia, poderia ter tido um Messi na vida, claro que sem as características do autismo e do nanismo. Vou contar a história.
     Já escrevi aqui que para o futebol sempre fui um perna de pau (Jogos de bola). Torcia, claro, para um time de Porto Alegre, mas sem fanatismo, como torce a média das pessoas. Não era de ir ao estádio e nem de ficar ouvindo jogos no rádio ou vendo na TV, salvo quando fosse um grande jogo: Grenal, Copa do Mundo, Libertadores, final de brasileiro ou gauchão, etc.
     Um dia, como acontece naturalmente com muita gente que se multiplica, tive filhos. O segundo a nascer foi um menino. É de praxe que meninos brinquem de carrinho e de bola, e o meu não fugiu à regra. Na segunda série do ensino fundamental percebi alguma coisa estranha naquele menino: era o craque da turma nos recreios da escola. O que fazer? Incentivar, é claro! Sempre que possível, batia bola com ele.
     Na terceira série foi para um colégio grande e continuou jogando bola o tempo todo. Um dia, não sei exatamente quando, chegávamos em casa voltando da praia, o guri vestia uma camiseta do Grêmio, aproximou-se um senhor e disse que tinha uma escolinha de futebol e que, se o garoto gostasse, poderia participar. Deu as dicas e no primeiro sábado de tarde lá nos fomos. Os treinos eram num campo onde hoje é a Praça Sport Club Internacional, no miolo entre as ruas General Lima e Silva, Érico Veríssimo, Ipiranga e Dr. Sebastião Leão. Logo em seguida a área foi isolada para urbanização e a gurizada se transferiu para uns campos que havia atrás da Secretaria da Receita Federal, o chocolatão.
     O tal senhor que instruía a garotada se chamava Amarante e fora jogador de futebol. A parte que acreditei do que ele disse foi de ter jogado no Guarani de Bagé e no Flamengo de Caxias; quando falou que jogou no Santos, ao lado de Pelé, só fingi ter acreditado. Mas era gente fina. Na época ele tinha um irmão que jogava no Grêmio como zagueiro e um sobrinho no Inter, também zagueiro. Não me lembro o nome deles, mas eram conhecidos.
     Pois o Amarante, que era zelador de um prédio próximo ao que eu morava, me perguntou um dia se eu queria vaga para meu filho na escolinha do Grêmio, onde uma das equipes precisava de um quarto zagueiro. Dito e feito. Numa tarde de sábado do segundo semestre de 1992 nos apresentou ao Rubem, também um ex-jogador que treinava uma das equipes daquela escolinha e, a partir de então, o garoto, apesar de ter talento pra atacante, ficou guardando um dos lados da entrada da grande área. Naquele ano nunca foi driblado e sua equipe chegou ao quarto lugar da categoria 79/80 no campeonato da escolinha do Grêmio.

clip_image002O time de 1992

     A escolinha tinha aulas no estádio Olímpico, num dia da semana. Nesses treinos, os meninos faziam exercícios físicos e aprendiam os fundamentos do futebol. Sábados à tarde havia torneio entre as equipes daquela categoria nos campos do Cristal. Para o guri continuar participando em 1993 tive que me associar ao clube. Até que foi bom, porque me obrigou a começar a ir aos jogos do Grêmio.
     Termina ano, começa ano e, em relação a esse assunto, o que mudou foi o dia dos jogos: como trocou de categoria, em vez de sábados à tarde os jogos passaram para os domingos pela manhã. Imagine no inverno, acordar domingo lá pelas seis e meia para estar no Cristal às oito... Mas lá estávamos: eu, de fora das quatro linhas, todo entrouxado, esfregando as mãos e batendo queixo; o garoto, de calção e camiseta, correndo pela ponta direita, entortando zagueiros e cruzando para a área. Nesse ano, porém, o time para o qual foi sorteado não conseguiu boa classificação, mas pelo menos o guri já estava jogando no ataque.

clip_image004 A equipe de 1993

     Em 1994 sim, começou num time que não tinha pra ninguém. Depois das primeiras goleadas nos adversários — inclusive com vários gols do meu garoto—, os “cartolas” se reuniram e resolveram misturar aqueles atletas nas outras equipes para equilibrar as coisas. Não adiantou. O time para o qual o meu craque foi ficou forte, sagrando-se campeão ao final do ano. Valeram aquelas manhãs frias de domingo na torcida.

clip_image006 O time campeão de 1994

     No ano seguinte, Marcos já não tinha idade pra escolinha. Se quisesse ser jogador de futebol tinha que fazer teste pra categoria sub-15 e, logo em seguida, pra juvenil. E os testes são fortes. Se o sujeito coloca aquilo como um ideal de vida e não é classificado, a frustração é grande e pode ser sentida o resto da vida. Felizmente, ele não quis. Enveredou pro futebol de salão, mas só por diversão, sem objetivo de profissionalizar-se.

     Já houve um Garrincha, um Pelé, um Maradona e um Ronaldo (o Fenômeno, porque o outro não conta); agora tem um Messi. Confesso que não troco nenhum deles por aquele que vai continuar sendo o meu craque pelo resto dos meus dias, mesmo sem ter ganho 33 milhões de euros por ano.

7 comentários:

Clara disse...

Preferiu fazer o exame de ordem... Ah guri...!

vidacuriosa disse...

Gostei demais de ler este post, meu caro Aldo. Em primeiro lugar porque estão entre as minhas preferidas as histórias reais. Também me surpreendi ao ver a citação do Amarante, que foi jogador do meu time, o Guarany de Bagé. Na verdade, ele chutou aquela história de ter jogado ao lado do Pelé. Acho que aproveitou a fama de outros dois jogadores do Guarany, o Raul Calvete e o Vicente. Os dois também jogaram no Grêmio.
Dilson Lima Rodrigues, o Amarante, nascido em Dom Pedrito em 6 de dezembro de 1945, jogou no Guarany, no Bagé, no Flamengo (que agora é o Caxias), no Náutico de Rio Pardo, no Armour de Livramento, no Ferro Carril, de Uruguaiana, no Uberaba, de Minas Gerais, em São Bento do Sul (SC) e em Mafra(SC). Se o Google e outras publicações não me falham, ele não jogou com Pelé.
Um grande abraço!!

Anônimo disse...

Jogador de futebol, músico, advogado..ufa! Se tentasse os holofotes, seria um modelo fotográfico de destaque.. porque é muito bonito esse gurí!
Show de bola, Aldo!

Aldo Jung disse...

Valeu, Plínio.
A propósito: o irmão do Amarante é o Luis Eduardo; o sobrinho, Regis.

Unknown disse...

Boa noite Aldo tudo bem
meu nome é Marcio Bessauer de Oliveira
hoje tenho 35 anos
estou procurando algumas fotos da época que eu joguei na escolinha do grêmio de 1992
a 1996 e fiquei muito feliz em ver as fotos em seu blog
hoje estou procurando as fotos porque tenho um filho de 9 anos e ele esta jogando em uma escolinha e eu queria mostrar para ele que um dia eu joguei na escolinha do grêmio queria que isso service de inspiração para ele ..
eu ficaria muito feliz se você tivesse mais fotos da quela época
fiquei muito feliz em ver mesmo , na hora venho um filme em minha cabeça e me fez voltar por alguns minutos no tempo....
meus contatos . 47- 9221.6966 e 47- 3288.6966 hoje moro e tenho empresa aqui em santa catarina.
isso faz 5 anos...
obrigado pela atenção, desde de ja agradeço se iver mais fotos.

Daltro Souza D'Arisbo D ARISBO disse...

Bom dia. Estou terminando uma resenha sobre o futebol do Interior do RS, entre os anos 1968 e 1972. Estou com dificuldades em encontrar maiores dados sobre o Dilson Lima Rodrigues, o “Amarante", emérito meio-campo do Guarany de Bagé. Podes me ajudar ? Desde já, muito obrigado.
Daltro de Souza D'Arisbo daltrodarisbo@gmail.com WhatsApp 51 999842565

Anônimo disse...

Bom dia, Daltro. Respondi lá no Messenger do Facebook.
Abraço!