Coisas que me dão na telha, de vez em quando, e que quero deixar registradas, nem que seja num blog.







sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A cinza vulcânica e os palavrões



     Um dia desses encontrei um conhecido que não via há algum tempo. Antes desse encontro, tinha falado com ele no final de 2008. Na ocasião ele estava partindo para uma viagem de aventuras pela América do Sul. Era, então, um cara saudável. Agora, custei a reconhecê-lo: magro, meio curvado, caminhando devagar, barba por fazer, cabelos desgrenhados. Depois do aperto de mão, do abraço e das tradicionais perguntas sobre as famílias, pôs-se a contar sobre a viagem que havia feito. Com muito custo narrava suas aventuras por essa América. Estava muito ofegante e fazia pausas entre uma frase e outra para recuperar o fôlego. Não resisti e perguntei onde tinha ficado aquela saúde que esbanjava tempos atrás. Foi da resposta que surgiu o tema desta postagem.
     Em fevereiro deste ano, meu conhecido estava no sudeste da Colômbia, no Departamento de Nariño, quando o vulcão Galeras entrou em erupção. Em vez de sair de lá, ficou para registrar o fenômeno em fotos. Cinco dias depois, estava no Chile. Seu objetivo era fotografar a erupção de um outro vulcão, o Chaitén, que fica 1.200 km ao sul de Santiago. Virou um caçador de vulcões em erupção.
     Perguntei o que isso tudo tinha a ver com sua aparência e sua falta de fôlego. Fiquei, então, sabendo que ele fora acometido de uma doença pulmonar causada pela aspiração de cinzas vulcânicas. Ele não conseguiu dizer o nome da doença nem o nome que se dá a pessoa por ela acometida. Eram tantas iterrupções para ganhar fôlego que resolveu pegar caneta e papel e escrever. Confesso que, agora, quando fui transcrever os nomes, vali-me do Google para poder usar o recurso copiar-colar. A palavra que define o portador da doença é, atenção, lá vai:

pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico!

     E o nome da doença é

pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiose.

     Tratam-se da primeira e da segunda maiores palavras da língua portuguesa. A primeira com 46 letras; a segunda com 44.
     Ainda bem que não é uma doença comum. Fico imaginando um médico dizendo a seu paciente:

“Você adquiriu uma pneumoultra... Desculpe! Pneumoultrami... croscopico... Perdão! microscopicossilicovulcano... vulcanoco-niose! Entendeu?”
     Quem sofre dessa doença corre o risco, por tabela, de ficar com outra que ocupa o terceiro lugar em quantidade de letras na língua portuguesa: hipopotomonstrosesquipedaliofobia. Esta é uma doença psicológica característica de quem tem medo irracional (ou fobia) de pronunciar palavras grandes ou complicadas. Contém 33 letras. Ou seja, o sujeito que tem as duas doenças está impossibili-tado de pronuncir seus nomes.
     O que é o progresso, né?! Quando eu era (mais) jovem, a maior palavra da língua portuguesa de que eu tinha conhecimento era anticonstitucionalissimamente. Este advérbio se refere a algo feito de maneira contrária ao que dispõe a constituição de um país. Tem 29 letras e, hoje, é a quarta maior palavra do nosso idioma. O quinto lugar, com 28 letras, é ocupado por oftalmotorrino-laringologista (especialista em doenças dos olhos, ouvidos, nariz e garganta); e o sexto, inconstitucionalissimamente (advérbio que designa o mais alto grau de inconstitucionalidade), com 27 letras.

2 comentários:

Milton Ferretti Jung disse...

Ainda bem que ninguém lembrou de pôr ums dessas "palavrinhas" em testes de quem pretende ser locutor.

Clara disse...

Aldo, nome bem pequeno mas que dá invólucro a uma grande pessoa e uma mente brilhante!